O Tribunal Constitucional da Polónia declarou esta quinta-feira que a lei polaca deve estar acima da lei da União Europeia, que vigora nos 27 estados-membros, o que promete complicar ainda mais as relações entre a organização internacional e Varsóvia.
Em comunicado, a Comissão da UE já respondeu à decisão e garantiu que “não hesitará em fazer uso dos poderes que lhe são conferidos pelos tratados para salvaguardar a aplicação uniforme e a integridade do direito da União”. Reafirmando o princípio de que a lei europeia supera a nacional, o órgão comunitário estipula que “todas as decisões do Tribunal de Justiça Europeu vinculam todas as autoridades dos estados-membros, incluindo os tribunais nacionais”.
Primeiro-ministro polaco pede à União Europeia para não dar lições de democracia ao seu país
Contudo, estes argumentos não foram tidos em conta pelos juízes do Tribunal Constitucional, que garantem que o “tratado da UE está subordinado à constituição do sistema jurídico da Polónia” e frisam que a assinatura dos tratados europeus aquando da adesão não se traduziram numa transferência de soberania. O juiz Bartlomiej Sochanski reforça à Reuters que os princípios consagrados nas leis europeias devem estar “em conformidade” com a lei máxima do país.
Também o líder do partido Lei e Justiça (PiS) — que governa o país — veio a público dizer que “na Polónia, o maior ato legal é a Constituição”. Jaroslaw Kaczynski salienta ainda que “todas as regulações europeias devem cumprir com a Constituição”.
Na origem desta decisão do Tribunal Constitucional esteve o facto de o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, ter pedido à instituição jurídica que fiscalizasse uma deliberação do Tribunal de Justiça europeu, que determinou que a reforma judicial que o Governo da Polónia levou a cabo infringia os valores europeus do Estado de Direito. Isto levou ainda a que a UE tenha ainda suspenso o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) polaco.
David Sassoli pede “consequências” para a decisão polaca
No comunicado publicado esta quinta-feira pela Comissão Europeia, Bruxelas disse ainda que vai estudar “em detalhe” a situação polaca e “vai decidir os próximos passos”. “A União Europeia é uma comunidade valores e de lei, que devem ser cumpridas em todos os estados membros. Os direitos dos europeus sob os tratados devem ser protegidos.”
Além disso, o presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, corroborou o documento da Comissão, escrevendo na sua conta pessoal do Twitter que o “veredicto” na Polónia não pode passar “sem consequências”. “A primazia da lei europeia não deve ser contestada. Violá-la significava desafiar um dos principais fundadores da nossa União.”
Today's verdict in Poland cannot remain without consequences. The primacy of EU law must be undisputed. Violating it means challenging one of the founding principles of our Union.
We call on the @EU_Commission to take the necessary action.
— Roberta Metsola (@EP_President) October 7, 2021
Vários grupos políticos do Parlamento Europeu comentaram a decisão. O Partido Popular Europeu (EPP, sigla em inglês) diz que este pode ser um caminho para um “polexit”, isto é, a saída da Polónia da UE. “É difícil de acreditar quando as autoridades polacas e o PiS digam que não querem sair da UE. As suas ações vão em direção oposta. Basta. O governo polaco já não tem mais credibilidade”, ressalvou Jeroen Lenaers, porta-voz do grupo político.
Os socialistas e democratas (S&D) também reagiu à decisão do tribunal constitucional polaco, antevendo que se aproxima um “cenário negro” à Polónia. “Viola as fundações da UE”, escreveram na conta do Twitter.
A black scenario in Poland is coming true!
PiS-run Tribunal has disregarded the primacy of EU law, violating EU fondations. Polish judges adjudicating on the basis of EU law can face prosecution.
EC must trigger #RoL conditionality mechanism & open infringement proceedings! pic.twitter.com/iH0xX8hLMs— S&D Group (@TheProgressives) October 7, 2021
Apesar dos rumores de um eventual “Polexit”, o partido que controla o governo afirma que não quer sair da União Europeia.