Depois de concluídas as obras de recuperação e adaptação, assinadas pelo arquiteto Álvaro Siza Vieira, a Casa de Serralves, no Porto, reabre este sábado com a exposição “Joan Miró: Signos e Figuração”, assente nas 85 obras da Coleção Miró, propriedade do Estado português cedida ao Município do Porto e depositada na Fundação de Serralves.

“Esta coleção encontra aqui a sua morada, um casamento perfeito”, refere Ana Pinho, presidente da Fundação de Serralves. A exposição, com a curadoria de Robert Lubar Messeri, aborda os diferentes aspetos da arte de Miró, e “não segue um formato cronológico ou linear”. Desta vez “as obras estão agregadas tematicamente, tentando dar uma visão holística do percurso do artista”, dentro das mais de 80 obras que vão desde pinturas a esculturas, colagens, desenhos e tapeçarias do famoso mestre catalão. No total, são seis décadas de trabalho presentes na obra de Joan Miró, de 1924 a 1981.

A inauguração da exposição, bem como a reabertura da Casa de Serralves, ocorreu esta sexta-feira e contou com a presença do primeiro-ministro, António Costa, da Ministra da Cultura, Graça Fonseca, do presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, e ainda de Ana Pinho, que fala num “marco” para a Fundação e relembra o feedback que a primeira exposição da coleção Miró teve quando chegou a Serralves pela primeira vez, em 2016.

Com início este sábado e disponível até ao dia 6 de março do próximo ano, a nova mostra vai explorar os diferentes aspetos da arte de Miró — entre eles “o desenvolvimento de uma linguagem de signos; o encontro do artista com a pintura abstrata que se fazia na Europa e na América; o seu interesse pelo processo e pelo gesto expressivo; as suas complexas respostas ao drama social dos anos 1930; a inovadora abordagem da colagem; o impacto da estética do sudoeste asiático na sua prática do desenho; e, acima de tudo, a sua incessante curiosidade pela natureza dos materiais”.

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A “nova história” da Coleção Miró, que “não é uma coleção estática”

A visita de António Costa a Serralves foi curta, mas suficiente para dar uma garantia: “Este investimento que realizamos, ao adquirir esta coleção, ao confiá-la à cidade do Porto e depositando-a aqui em Serralves, marca um momento em que agora começa uma nova história”. O primeiro-ministro relembrou que a escolha do Porto para ser a morada da Coleção Miró assentou no facto de ser uma “cidade global” que tem a capacidade de expor as obras do artista espanhol.

Escolhemos o Porto porque entendemos que era fundamental que um ativo desta natureza tivesse efetivamente nas mãos de uma cidade que, pelo seu dinamismo, pela sua história e pela estratégia que tinha do seu próprio desenvolvimento e da sua internacionalização poderia valorizar, como dificilmente outras farias, uma coleção desta natureza”, referiu António Costa.

Costa destacou ainda a importância da Fundação de Serralves, “fazer circular, dar vida, ajudar à dinamização cultural da cidade do Porto, mas também da obra de Juan Miró”, sublinhando que “esta não é uma coleção estática”e destacou: “Estou particularmente satisfeito que este investimento que foi feito há cinco anos tenha chegado a bom porto e deste porto parta para o mundo para novas descobertas”.

Já o presidente da Câmara Municipal do Porto relembrou a história de como a coleção veio parar ao Porto e destacou o papel de António Costa nessa decisão: “Mal foi eleito, ligou-me e disse: ‘Rui, acho que temos que ficar com os Mirós e, já agora, acho que deviam ficar no Porto'”. Rui Moreira garantiu ainda que a autarquia vai manter o apoio à Fundação de Serralves para a internacionalização e para a manutenção desta coleção.

É uma história que acaba bem, se é que ela acaba, porque estas histórias nunca acabam. Porque a história só acabará verdadeiramente quando as pessoas perceberem a dimensão disto. Pelo meio houve quem dissesse que a coleção não era uma coleção, houve quem dissesse que não devia ser aqui, houve quem dissesse que não ficava bem, que a Casa de Serralves não era para isto. Mas isso é a vida das cidades. Neste caso, acho que a decisão que foi tomada pelo primeiro-ministro foi a melhor decisão”, acrescentou ainda o autarca portuense.

Presente também na cerimónia esteve Graça Fonseca, ministra da Cultura, que destacou a história e a Coleção Miró “como símbolo de uma profunda alteração no investimento público em arte contemporânea“, enumerando os investimentos feitos no âmbito do programa de aquisição de arte. “Todo este investimento, sem precedente desde o 25 de abril, veio dar uma nova vida à coleção de arte contemporânea do Estado, que é agora substancialmente diferente da coleção que a antecedeu: é hoje uma coleção viva e dinâmica, que representa a história da arte contemporânea, mas que permanentemente se atualiza e promove a criação artística nacional”, referiu a ministra.

As obras de adaptação da Casa de Serralves para receber a Coleção Miró, tiveram início em agosto do ano passado e foram realizadas no âmbito do Protocolo de Depósito e de Promoção Cultural, assinado em outubro de 2018, entre a Câmara Municipal do Porto e a Fundação de Serralves. O financiamento para estas obras de ampliação foi de até um milhão de euros, pela parte da autarquia. No protocolo, a Câmara do Porto comprometeu-se igualmente a um pagamento anual de 100 mil euros à Fundação de Serralves, pelo prazo de 25 anos, para que a coleção seja protegida e promovida nacional e internacionalmente.

As 85 obras de Joan Miró (1893-1983) — um dos grandes “criadores de formas” do século XX” — estiveram na posse de sociedades anónimas de capitais públicos, criadas pelo Estado em 2010 e com uma avaliação de 54,4 milhões de euros, para gerir os ativos e recuperar os créditos do ex-Banco Português de Negócios (BPN), nacionalizado em 2008. Em julho do ano passado, as obras da coleção foram classificadas como bens de interesse público. 

Classificadas as obras de coleção Miró como bens de interesse público