A preocupação do príncipe Carlos com o ambiente não é de agora, mas o tema de conversa continua atual, tanto que em entrevista à BBC, feita a partir da residência em Balmoral, na Escócia, o herdeiro ao trono britânico admite que compreende “a frustração” dos ativistas ambientais, em particular daqueles que recentemente levaram os protestos para as ruas de Londres. Ainda assim, bloquear estradas — tal como aconteceu no início de outubro — são ações que “não ajudam”. “Compreendo perfeitamente a frustração, a dificuldade é como é que direcionamos essa frustração de forma a que seja mais construtiva do que destrutiva”.

Numa entrevista voltada a 100% para o clima — e sem qualquer referência aos sucessivos escândalos que envolvem a figura do príncipe —, o filho mais velho da rainha Isabel II recusou comentar sobre se o governo britânico está a fazer o suficiente para combater as alterações climáticas, alertou para o impacto “catastrófico” se mais não for feito e afiançou que o mundo demorou muito tempo a despertar para os riscos. Sobre a conferência climática da ONU em Glasgow, marcada para novembro, admitiu recear que os líderes se limitem “a falar”.

Neste encadeamento, o príncipe admitiu ainda simpatizar com Greta Thunberg, a jovem ativista que já antes apontou o dedo a líderes mundiais. “Todos estes jovens sentem que nunca nada está a acontecer, é claro que vão ficar frustrados. Entendo perfeitamente porque ninguém quis ouvir e eles veem o seu futuro a ser totalmente destruído.”

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Da sua parte, Carlos afiança já ter tomado decisões importantes em busca de um estilo de vida mais amigo do ambiente: trocou o aquecimento em Birkhall, a residência privada na Escócia, para caldeiras de biomassa (são usadas lascas de madeira de árvores derrubadas na floresta da propriedade), instalou painéis solares na Clarence House, em Londres, bem como bombas de calor em algumas propriedades. Mais irreverente foi a decisão de adaptar o motor do carro favorito — o mesmo Aston Martin que conduz há 51 anos — para andar com “excedente de vinho branco inglês e soro do processo de queijo”.

O veículo foi modificado para funcionar com um combustível chamado E85, composto por 85% de bioetanol e 15% de gasolina sem chumbo. Já antes o Observador explicou que, para satisfazer a vontade do príncipe, a Aston Martin recorreu à Green Fuel, em Gloucestershire — a empresa de processamento de etanol recebe os restos da produção de vinho, já tornado impróprio para consumo ao ser misturado com um derivado de leite, de uma produção local de queijo; segue-se a fermentação e a produção de álcool, o etanol, que depois é misturado com 15% de gasolina sem chumbo, dando origem ao E85. Embora um litro de E85 tenha menos energia do que igual quantidade de gasolina, poluindo menos, obriga a um maior consumo de combustível.

Este carro anda a vinho (e pertence à realeza)

Fora do volante, o príncipe segue uma dieta alimentar de maneira a reduzir a pegada de carbono, assegurando em entrevista que não come carne e peixe dois dias por semana e não ingere laticínios um dia por semana. “Se mais pessoas fizessem isso, reduziria muito a pressão sobre o ambiente.”