Em pleno impasse orçamental — que trouxe consigo a ameaça de uma crise política –, o Bloco de Esquerda vem exigir um “acordo político” escrito com o PS, que inclua medidas mais amplas e extra-Orçamento, para viabilizar o documento.
“Nós sempre fomos claros nisso”, disse a deputada e dirigente Mariana Mortágua, em entrevista ao programa Interesse Público, do jornal Público. E essa “clareza” em relação às medidas de “organização da sociedade e da economia” vai ao ponto de o partido indicar especificamente quais as suas linhas vermelhas para este Orçamento: três propostas laborais (reposição das leis pré-troika para o número de dias de férias, as indemnizações por despedimento e a contratação coletiva), a somar ao fim do fator de sustentabilidade para quem desconta há mais de 40 anos ou para quem se reformou entre 2014 e 2018 e teve um corte na reforma, e ainda a exclusividade dos médicos e a revisão das carreiras dos auxiliares.
Já no ano passado, questões como as leis laborais ou a exclusividade dos médicos estavam, aliás, no centro das exigências bloquistas.
Na entrevista, a deputada adianta que numa das medidas extra-Orçamento — ao que o Observador apurou, no campo laboral — se verifica uma “aproximação”, mas também critica a referência apenas “programática”, e não mais específica, que o Governo colocou sobre a dedicação plena dos médicos ao SNS na sua proposta de Orçamento.
O que o Bloco quer agora, como já tinha exigido no passado (em 2019, chegou a propor ao PS um acordo para uma nova geringonça, sem sucesso), é que as medidas sejam colocados num acordo “escrito” e “escrutinável”, o que poderá acontecer “até ao dia da votação”, frisa a deputada.
Quanto às ameaças de crise política, tal como o PCP, o Bloco passa a responsabilidade para as mãos do Governo: “Não é legítimo pedir aos partidos que aprovem Orçamentos sob a chantagem de uma crise política que só existe se o PS a quiser causar”, remata.