Uma ameaça biológica num laboratório foi o mote para testar a capacidade de resposta do Exército português, num exercício que decorreu esta sexta-feira no Porto e que serviu ainda para ensaiar novas soluções tecnológicas de descontaminação.

O cenário era uma explosão numa instalação laboratorial de agentes biológicos, que causou baixas e obrigou ao socorro das vítimas, inspeção à infraestrutura e descontaminação do espaço e material utilizado.

A parada do Batalhão de Sapadores Bombeiros do Porto, que também participou no exercício, foi o palco utilizado pelo Exército português para o teste da capacidade de resposta e partilha de experiência, num exercício que contou também com militares espanhóis.

O Elemento de Defesa Biológica, Química e Radiológica (ElDefBQR) é uma das componentes da resposta do Exército que esta permanentemente pronta para situações de catástrofe ou outras emergências complexas, e convidou para o exercício ‘Celulex 21’ o Exército espanhol, presente com a Brigada ‘Extremadura XI’, de Badajoz.

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Durante toda a manhã, o local de treino preencheu-se de elementos com fatos e máscaras para este tipo de cenários e do material necessário, como luvas, sacos de plástico, fita-cola ou borrifadores de líquido descontaminante.

No centro da parada, cada força tinha o seu espaço próprio para desinfetar material e pessoal envolvido nos exercícios, com uma rotina e procedimentos próprios, embora similares.

Portugueses e espanhóis testaram a sua forma de atuação em diversos cenários, ao longo de cinco estações de treino onde tiveram de descontaminar o edifício, reconhecer a área contaminada e descontaminar equipamentos, pessoal e uma viatura.

“A forma como construímos este exercício permitiu que todos os participantes exercitassem todas as tarefas. Montamos o exercício como se fosse uma prova prática com cinco estações e cada equipa ia resolver todas essas cinco estações“, explicou o major Milton Pais.

O Exército teve também como finalidade validar a descontaminação executada no treino, com a colocação de ‘controlos’, ou seja, agentes biológicos reais, para analisar o resultado da descontaminação em laboratório e validar o procedimento, acrescentou.

O exercício na cidade do Porto serviu ainda para testar uma inovação na descontaminação de viaturas de emergência, ainda em fase de investigação e desenvolvimento.

Segundo destacou o major Wilson Antunes, a tecnologia desenvolvida pela Delox e a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa utiliza peróxido de hidrogénio em estado gasoso.

“É muito mais eficaz a nível de descontaminação, permitindo a compatibilidade com o material eletrónico como acontece, por exemplo, em ambulâncias equipadas com rádios e outros sistemas de comunicação”, apontou.

Uma das estações de exercício era assim uma ambulância, em que esta tecnologia foi utilizada. No habitáculo da viatura foi colocado um ‘controlo’ através de substâncias biológicas que “permitem monitorizar e validar o processo de descontaminação”.

O exercício ‘Celulex 21’ começou a 11 de outubro na Amadora, distrito de Lisboa, para treinar a reação a um incidente provocado por um agente químico. A 13 de outubro, em Mangualde, distrito de Viseu, foi testada a capacidade de resposta face a um evento de natureza radiológica.

O major Milton Pais salientou ainda que em tempo de pandemia de Covid-19 continua a ser preocupação do Exército testar a capacidade de descontaminação de infraestruturas.

“Nós estamos sempre, permanentemente, a tentar aperfeiçoar as nossas técnicas, decorrente de lições identificadas após qualquer ação. A ameaça que nós temos da pandemia, para nós, é uma ameaça [biológica] que conhecíamos em outros agentes e simplesmente fizemos uma adaptação de procedimentos“, referiu.

Um descontaminante desenvolvido pelo Exército contra a ameaça ‘antrax’ tem sido utilizado durante a pandemia com pequenas alterações, exemplificou.

Durante a pandemia de Covid-19, os meios do Exército estiveram concentrados numa unidade, preparados para responder em todo o território nacional com uma prontidão de duas horas.

Caso aconteça uma ameaça por um agente químico ou eventos de natureza radiológica e biológica, o Exército tem meios de resposta de “capacidade mais pesada”.

“Quando há um incidente, haverá ‘first responder’ [primeiras respostas] que serão as corporações de bombeiros locais ou outros agentes de proteção civil, sendo que ao mesmo tempo deverá ser informado o Exército no sentido de se começarem a mobilizar estes meios”, concretizou o major Milton Pais.