O Brand Up Showroom & Market estreou-se no Portugal Fashion em outubro de 2013 e desde aí tem sido uma verdadeira montra para marcas nacionais mostrarem o melhor que fazem, num espaço onde podem vender diretamente ao consumidor final, angariar novos parceiros de negócio e até darem os primeiros passos na internacionalização.
Duas semanas antes do evento, os designers inscrevem-se numa call e depois são selecionados por uma equipa do Portugal Fashion que privilegia assinaturas nacionais, com interesse comercial e alguma ligação à sustentabilidade na moda. Nas últimas edições, o Brand Up tem ganho cada vez protagonismo, além de ter as peças apresentadas nos desfiles disponíveis para venda, conta cada vez mais espaço expositivo e merece uma agenda própria com workshops, talks e conferências temáticas.
Entrudo
Susana Ribeiro é designer têxtil e adora o carnaval, especialmente o típico de Trás-os-Montes onde os caretos são reis, foi nele que se inspirou para criar uma marca de calçado em 2017. “Desenho as peças e o meu marido, que comercializa peles e é modelador de calçado, ajuda a concretizar as minhas ideias”, conta ao Observador.
A Entrudo é desenvolvida em Felgueiras, uma das capitais do setor, e os seus modelos femininos dão nas vistas por serem bastante coloridos e combinarem a pele com detalhes aplicados manualmente em lã, ráfia, junta, franjas e outros tecidos. Botas, sandálias, mules ou botins são produzidos sem obedecer a tendências ou a coleções sazonais e, em jeito de homenagem, são batizados com nomes de vilas ou freguesias transmontanas.
Aliando a tradição portuguesa e o conforto que todos os pés pedem, a Entrudo não se ficou apenas pelo calçado e aventurou-se na comercialização de objetos de decoração como almofadas e cestas, igualmente feitas à mão e onde a cor, as diferentes texturas e as aplicações vistosas enchem as medidas. “É primeira vez que estamos presentes no Brand Up e achamos que é um passo importante para a nossa marca crescer”, sublinha Susana Ribeiro, acrescentando que além da loja online, a Entrudo já conta com pontos de venda físicos em Lisboa e na Comporta, tendo também uma pegada internacional em mercados como Espanha, Grécia e Luxemburgo.
Green Kiss
Uma das marcas mais recentes desta edição é a Green Kiss, foi lançada em março deste ano e apresenta vestuário feminino sustentável, totalmente produzido em território nacional e inspirado na natureza. “O nome foi registado há 11 anos pela minha mãe, que está ligada à indústria têxtil profissionalmente, mas nunca chegou a concretizar nada”, explica Gabriela Melo ao Observador, que acabou por arrancar com o projeto em plena pandemia.
A intenção é que as peças fujam das tendências do mercado da moda e possam ser usadas em todas as alturas do dia. Dos pijamas aos conjuntos desportivos, passando pelas combinações mais básicas, as cores suaves e os padrões estampados fazem lembrar uma verdadeiro herbário. Linhos, gangas, algodão orgânico ou um fio de caxemira reciclado são alguns dos materiais sustentáveis usados pela marca familiar, onde a durabilidade, a resistência e a intemporalidade são premissas chave.
Além da roupa, a Green Kiss estendeu a sua preocupação ambiental ao calçado e a objetos como um notebooks feitos com papel reciclado, lápis que depois de gastos podem ser plantados ou velas cujo aroma foi produzido em Portugal exclusivamente para a marca. A dar os primeiros passos neste área, Gabriela Melo diz já ter, além da loja online, pontos de venda no Porto, Lisboa e Braga, sendo que o principal objetivo no futuro é fidelizar clientes. “É importante estarmos aqui para nos darmos a conhecer e termos contactos com outras marcas também. Até agora, já conseguimos um parceiro que nos vai fazer as parkas da próxima estação e duas designers que se ofereceram para colaborar connosco. Já tivemos visitantes brasileiros e africanos, é uma boa experiência”, conclui.
Peter Milk
Pedro Leite tem provavelmente o stand mais colorido do Brand Up e é rodeado de camisas e blusões com padrões étnicos, geométricos e exóticos que nos conta a história da sua marca homónima. “Sou formado em gestão de recursos humanos e nunca estive ligado à moda, mas fiquei desempregado e um dia, numa mesa de café com amigos, percebi que eles se queixavam que no inverno tinham dificuldades em comprarem camisas coloridas e divertidas. Não era grande adepto desse estilo, mas senti que havia ali uma oportunidade”, recorda.
Pedro é natural de Guimarães e tanto a mãe, modista, como a irmã, designer de moda, têm experiência na área da confeção e então pediu-lhes que fizessem no ateliê exatamente o que os seus amigos queriam vestir. “Eles compraram as primeiras peças e a partir daí começámos a vender online, através das nossas redes sociais.” Entre camisas de manga curta, no verão, e blusões de flanela forrados com pelo, para o inverno, a marca desenvolve padrões originais e faz edições limitadas de cada série, funciona apenas por encomendas e oferece ao cliente, que varia entre homens e mulheres, a possibilidade de personalizar cada peça, dos colarinhos mais ou menos rígidos e formais aos botões.
“Em parceria com a Câmara Municipal de Santo Tirso estamos a desenvolver o nosso site para chegarmos ao mercado internacional”, revela o responsável, que vê na sua estreia no Portugal Fashion “um reconhecimento”. “Não estou aqui à procura de vendas, mas de parcerias e oportunidades de negócio e de expansão.”
Cherry Papaia
A oferta infantil não abunda no Brand Up, mas o espaço de Sandra Barradas tem conseguido atrair muitos curiosos. É engenheira têxtil, produziu durante 15 anos peças para grandes marcas internacionais, mas em 2014 foi mãe e decidiu aventurar-se num projeto a solo. “Senti que faltava no mercado roupa de criança confortável e divertida, então decidi lançar uma. Comecei por vender online, cheguei a ter uma loja física na zona do Avis, no Porto, mas a pandemia obrigou-me a fechá-la. Espero que em breve possa abrir um espaço próprio”, partilha com o Observador.
A Cherry Papaia, nome que vem de um blogue antigo dedicado à maternidade que Sandra assinou, tem roupa para meninos e meninas, dos zero aos 12 anos, havendo ainda “algumas brincadeiras” em ponto grande para que as mães possam combinar com os filhos. “Durante a pandemia lançámos alguns momentos de venda através de coleções cápsula mais temáticas”, explica, dando exemplos como o regresso às aulas ou a época do Natal. A procura por materiais de qualidade e que, ao mesmo tempo, não deixem uma pegada pesada no meio ambiente é uma das preocupações da marca, que opta pela produção nacional de proximidade, fibras naturais e algodões orgânicos.
Entre sweats, calças, fatos de banho, bodies ou tapa fraldas, uma das novidades mais recentes é a linha Re Think, composta por peças que sobram em stock e são intervencionadas, na cor ou nos padrões, para depois serem disponibilizadas novamente ao público. “Damos uma nova vida a estas peças, numa lógica de reciclagem na moda”, acrescenta Sandra Barradas.
Maria Paperdolls
A completar dez anos de vida, a marca de Cláudia Naír não encontrou melhor forma de festejar a sua longevidade como estar presente no Portugal Fashion. Cláudia formou-se em designer têxtil e queria encontrar “uma tela em branco” onde através da ilustração pudesse expor toda a sua criatividade e imaginação. “Encontrei isso no papel ao montar estas bonecas, compostas por duas bolas de papel e cola, forradas com folhas de jornal”, explica ao Observador.
Através das “Marias” consegue transmitir mensagens e explorar temáticas como o feminismo, a igualdade de género, o empoderamento da mulher e a sua influência no mundo. Num processo moroso e cheio de minúcia, Cláudia demora três dias para finalizar uma boneca, que pode ter vários tamanhos e decorar vários cantos da casa. O seu trabalho é organizado por coleções, como “As Divas da Música”, onde recriou Nina Simone, Amália Rodrigues ou Elis Regina, ou edições limitadas, onde usa retalhos de fábricas de tecidos ou de botões, como a Burel, para fazer aplicações únicas e originais.
Com um ateliê próprio situado no CACE Cultural do Porto, as peças da Maria Paperdolls estão também à venda no World of Wine, em Vila Nova de Gaia, e em países como França, Itália ou Japão. “Quem procura estas bonecas são essencialmente pessoas curiosas e que gostam de coisas especiais”, sublinha a mentora da marca.
Mesh
A família dos irmãos Tiago e João Barbosa é natural de Gondomar e vai na terceira geração ligada à área da joalharia. “O meu avô começou por vender máquinas e utensílios para o fabrico de ourivesaria, mas como tinha olho para o negócio acabou por se especializar nesta arte”, conta ao Observador no espaço dedicado à Mesh no Brand Up. “É o terceiro ou quarto ano que vimos cá e é sempre uma plataforma boa de promoção do nosso trabalho”, sublinha.
A marca dos dois irmãos surgiu no Porto em 2016 com intuito de democratizar o acesso à joalharia, rejeitando alguns rótulos que a colocam no pedestal dos dias de festa e cerimónia. “Quisemos criar algo para usar todos os dias, seguindo as principais tendências do mercado, das linhas geométricas ao estilo mais étnico”, adianta o responsável. Com um toque minimalista e delicado, a Mesh usa pratas recicladas com banhos de ouro, madre pérola, pérolas de água doce e pedras naturais em colares, brincos e anéis.
No próximo ano, a marca vai lançar pela primeira vez uma coleção masculina e pretende continuar a apostar na sua internacionalização, conquistando países estratégicos como Itália, Suíça, Cazaquistão, Ucrânia ou Holanda. Para que tal aconteça, a presença no Brand Up pode ser o “empurrão” necessário, acredita Tiago Barbosa.