A Cupra, a marca desportiva da Seat, está a apostar forte nos veículos eléctricos. Ao Formentor, Leon e Ateca (com potências entre 150 e 390 cv), vai aliar, a partir de Dezembro, o Born, o seu primeiro veículo eléctrico com que o construtor conta para duplicar o actual volume de vendas. Mas, para que isso se concretize, necessita de um modelo eléctrico que respeite os valores da marca, ou seja, que ofereça emoções, tanto em termos de capacidade de aceleração como de comportamento em curva, a um preço acessível para muitos. Por outras palavras, o Born.

Concebido sobre a plataforma MEB do Grupo Volkswagen, que deu origem a eléctricos como o VW ID.3, o Born começa por exibir uma carroçaria com mais personalidade e com mais raça. A frente mais mergulhante revela a nova assinatura da Cupra para os modelos eléctricos, com os diferentes apontamentos em tons de cobre na grelha inferior, nas versões mais desportivas, a reforçar o ar racing. A zona lateral caracteriza-se por um pára-brisas muito inclinado e uma ampla superfície vidrada, com a decoração do pilar traseiro a transmitir a ideia de que o tejadilho é flutuante. Na traseira, os farolins ligados por um elemento luminoso a toda a largura, como acontece nos restantes modelos da casa, o generoso spoiler por cima do vidro traseiro e o extractor reforçam-lhe o carácter dinâmico.

38.755€ pelo Born com 204 cv e 58 kWh. Mas há mais

A Cupra prepara-se para lançar no mercado não uma versão do Born, mas sim quatro, com diferentes potências e capacidades de aceleração, além de distintas autonomias. A versão mais barata, com apenas 150 cv e um acumulador com 45 kWh de capacidade útil, será a última a chegar ao mercado português, no final de 2022, com o Born mais caro e com maior autonomia (77 kWh úteis) a estar previsto para o primeiro quadrimestre do próximo ano. Daí que o primeiro Born a ser entregue aos condutores nacionais, a partir de Dezembro, seja a versão com 204 cv e bateria com 58 kWh de capacidade real, por 38.755€. Um valor competitivo face aos eléctricos deste segmento que estão disponíveis no mercado e mais barato do que o VW ID.3, se considerarmos o que oferece a mais em equipamento.

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A primeira versão do Cupra Born que conduzimos foi exactamente aquela que os portugueses vão ter a possibilidade de ver nos stands da marca a partir de Novembro, para o poderem receber um mês depois. A plataforma é a MEB do grupo alemão, o que significa que o Born utiliza os mesmos chassi e suspensões, mas os técnicos espanhóis conseguiram que a sensação ao volante fosse distinta, graças a uma direcção progressiva, amortecedores de dureza variável e diferente tacto nos travões e no acelerador, devido aos distintos modos de condução disponíveis, do Range, que obviamente visa favorecer o consumo, ao Performance, o mais desportivo, passando pelo Comfort, a opção intermédia. O Born monta ainda molas mais curtas para reduzir a altura ao solo em 1,5 cm à frente e 1,0 cm atrás, com vantagens na aerodinâmica e no comportamento.

O motor de 204 cv, montado sobre o eixo traseiro, garante que os 100 km/h ficam para trás ao fim de 7,3 segundos, apesar dos 1736 kg desta versão eléctrica. A bateria com 58 kWh permite anunciar uma autonomia de 424 km entre recargas, de acordo com o método europeu WLTP, anunciando um consumo médio de 15,5 kWh. Em cidade, o Born demonstrou que as suspensões mais desportivas (com os amortecedores de dureza variável DCC) não limitam o conforto, ainda que a nossa unidade estivesse equipada com pneus (215/45 R20) de baixo perfil. Em auto-estrada, a um regime próximo dos 90 km/h, o Born registou um consumo de 15,2 kWh, um bom valor e em linha com o anunciado pelo fabricante.

O percurso levou-nos de seguida a uma região montanhosa, em cuja estrada sinuosa o eléctrico da Cupra revelou o bom equilíbrio conseguido pelos engenheiros da casa. Mesmo quando abusávamos um pouco, a frente transmitia confiança e entrava bem na trajectória, aceitando aceleração sem se atravessar – o ESC (controlo de estabilidade) é modulado pelos diferentes modos de condução, entre os mais e menos permissivos, tal como o controlo de tracção, mas nenhum se pode desligar, pelo menos nesta versão –, com o sistema misto de travões (com discos ventilados com 330 mm de diâmetro e 23 mm de largura à frente e tambores na traseira) a resistir bem a um esforço mais prolongado, com o pedal a ficar apenas ligeiramente mais esponjoso ao fim de maus tratos prolongados.

Melhores materiais e mais “raça” no interior

O habitáculo do Born oferece, tal como acontece no ID.3, dois lugares à frente e três na traseira, com bom espaço em largura e para as pernas de quems e senta atrás, excepção feita para quando monta a bateria de 77 kWh, que reduz o espaço no assento posterior para apenas dois adultos. Mas o trunfo do Born é, ao contrário do ID.3, que opta por materiais mais simples, elevar a qualidade percebida dos acabamentos a bordo. No tablier, em frente ao condutor, surge um tecido macio ao tacto que faz lembrar o neopreno, para na zona em frente ao passageiro dominar um plástico macio. Mas a maior diferença está ao nível dos bancos anteriores, mais envolventes e com mais apoio lateral, típicos da Cupra.

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Além da maior sensação de qualidade, o Born recorre na versão mais acessível a uma fibra produzida com base em plásticos e redes de pesca recuperados do fundo do mar, para produzir os revestimentos para os bancos, forro interior do tejadilho e zonas dos painéis de porta. O painel de instrumentos é muito pequeno, pelos padrões actuais, com a Cupra a avançar que o modelo irá contar com um head-up display com realidade aumentada e projectado no pára-brisas ainda maior do que o já visto no ID.3. O ecrã central, com 12”, similar ao rival da VW, continua a não ser tão funcional como seria desejável. Um pouco à semelhança do que acontece com os comandos do volante, restando aguardar que as actualizações do sistema através do over-the-air venham a resolver estas dificuldades. Lá atrás, a mala disponibiliza 385 litros para arrumar bagagens, mais 5 litros do que o Leon ou o Golf.

e-Boost é o trunfo que faz a diferença

Os Born com bateria de 58 kWh e 77 kWh vão poder ser equipados com o e-Boost Performance Pack, que permite ao motor eléctrico de 204 cv passar repentinamente a fornecer 231 cv. Estes 27 cavalos adicionais são fornecidos durante um período de 30 segundos, numa solução similar à utilizada pelo Porsche Taycan (apesar do overboost aqui funcionar apenas durante 2,5 segundos), sempre que a bateria possua determinados níveis de carga e temperatura. Os 100 km/h passam a ser atingidos ao fim de apenas 6,6 segundos, em vez dos anteriores 7,3, com a velocidade máxima a manter-se limitada a 160 km/h. Como o motor é o mesmo e a potência adicional só está disponível em caso de aceleração forte, a autonomia em ritmo civilizado mantém-se nos 420 km.

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Mas o e-Boost Performance Pack não se limita apenas a disponibilizar mais 27 cv. A função boost surge aliada a discos maiores à frente (340 mm de diâmetro com 27 mm de largura), mantendo-se os tambores de 260 mm atrás, incluindo ainda o volante tradicional das versões mais potentes da Cupra. Este distingue-se por apresentar dois botões na zona central, o Drive e o Cupra, para o condutor escolher mais facilmente entre os diversos modos de condução, além de passar a usufruir de mais dois, o Cupra e o Individual, podendo ainda desligar o ESC (controlo de estabilidade).

Regressámos à montanha com o Born de 77 kWh e função e-Boost, apenas para confirmar que os cavalos adicionais estavam lá, com o Cupra a sair ainda melhor das curvas, tanto mais que o ESC desligado tornou o comportamento mais vivo e divertido. Nas descidas, os travões maiores e com maior capacidade de ventilação pareceram resistir melhor ao aquecimento, com o toque esponjoso a desaparecer, o que certamente melhoraria ainda mais caso o modelo estivesse equipado com discos de travão igualmente atrás, em vez de tambores.

O Cupra Born é uma proposta interessante que prova que a plataforma MEB consegue dar origem a um veículo eléctrico eficiente e divertido de conduzir. Há desportivos eléctricos melhores, mas acima de 70.000€, pelo que estes 38 mil euros vão atrair muitos clientes, alguns deles a optar pelo pack e-Boost que, por um valor entre 2000€ e 2500€, vai alegrar ainda mais as deslocações a bordo do primeiro eléctrico do construtor espanhol. E este corre o risco de se tornar no maior adversário do VW ID.3, o que só não é mais grave porque fica tudo em casa, ou seja, dentro da Volkswagen AG.

Gostámos do preço, da solução acessível e não penalizante da autonomia para incrementar a potência, das alterações introduzidas no chassi (direcção, amortecedores DCC, travões) para apimentar o comportamento e do interior mais racing e com melhores materiais. Pena que o software do sistema de navegação ainda tenha de melhorar, bem como os comandos do volante.