O BCE não mexeu nas taxas de juro na reunião do Conselho do BCE desta quinta-feira, como se esperava, e prometeu que o programa de compras de dívida irá decorrer pelo menos até março de 2022, embora a um ritmo mais lento – referindo-se especificamente ao PEPP, o programa de emergência que foi lançado na resposta à pandemia de Covid-19. Sobre a inflação, continua a ser vista como “transitória”, embora a subida dos preços possa continuar a acelerar por “mais tempo do que se esperava inicialmente”.
O comunicado do banco central reitera que é possível que a taxa de inflação exceda o objetivo de 2% mas apenas por um período “transitório” em que a taxa pode ser “moderadamente” superior. Este é um comentário que não é novo mas tem relevância porque os últimos dados da inflação estão a apontar para uma subida dos preços cada vez mais veloz na zona euro, aumentando a pressão em torno do banco central.
A taxa de inflação na zona euro foi calculada em 3,4% em setembro, acima dos 3,0% do mês anterior – foi um máximo de 13 anos. Por outro lado, a inflação subjacente (core), que exclui itens mais voláteis como os preços da energia e da alimentação, acelerou para 1,9%, face aos 1,6% de agosto.
Na conferência de imprensa de Christine Lagarde, a presidente do BCE reconheceu que a inflação ainda vai subir mais do que os níveis atuais e admitiu, também, que o período de inflação elevada “vai durar mais tempo do que inicialmente previsto” mas, a prazo, não o BCE diz estar “confiante” de que a sua análise continua “correta” e que a inflação será mais do que “transitória”.
Lagarde argumentou que a inflação voltará a normalizar-se quando deixarem de se fazer sentir alguns efeitos temporários. Um deles, que se estima valer meio ponto percentual na taxa de inflação, é o aumento do IVA na Alemanha, que a 1 de janeiro do próximo ano deixará de ter influência no cálculo anual da inflação.
Por outro lado, Lagarde destaca os preços da energia, que também acredita que irão normalizar-se, e os impactos dos problemas nas cadeias de fornecimento mundiais. A presidente do BCE disse que o banco central tem feito contactos a várias empresas que lhes asseguraram que, embora as dificuldades nas entregas possam durar mais tempo do que se previa, este é um problema que acabará por se resolver.
Mercados estão a antecipar primeira subida dos juros daqui a um ano
“O Conselho do BCE continua a acreditar que as condições de financiamento favoráveis podem ser asseguradas com um ritmo moderadamente mais lento de compras líquidas de ativos, ao abrigo do PEPP, em comparação com o segundo e terceiro trimestre deste ano”, pode ler-se no comunicado divulgado pelo banco central.
“Como era esperado, não houve alterações na política do BCE, nem ao nível das palavras nem ao nível de ações concretas”, afirma Carsten Brzeski, analista do ING. Numa altura em que a Reserva Federal dos EUA já está a preparar a redução dos estímulos, o BCE mantém a mesma atitude, o que leva Carsten Brzeski a considerar que “provavelmente o debate foi animado, por detrás de portas fechadas, numa altura em que a inflação continua a subir”.
Esse aumento da inflação tem levado os mercados a anteciparem que o BCE poderá subir as taxas de juro mais rapidamente do que se acredita. Nos últimos dias as taxas de mercado têm refletido cada vez mais um cenário em que o banco central acaba por anunciar a primeira subida da taxa de juro diretora já no outono de 2022 – mas Lagarde garantiu que essa expectativa não coincide com aquela que é orientação futura que é dada pelo BCE.
Tal como foi indicado na última reunião do BCE, em setembro, será mais da próxima reunião, em dezembro, que se podem esperar mais novidades, porque esse dia coincide com a divulgação de projeções económicas atualizadas por parte do staff de economistas de banco central.