Luís Marques Mendes, ex-líder do PSD, considerou no habitual comentário de domingo na SIC que “uma crise destas só se resolve com eleições”, lembrando que o primeiro a verbalizá-lo não foi o Presidente, mas sim António Costa. O comentador recorda as palavras do primeiro-ministro em Agosto, em entrevista ao Expresso: “se não houver acordo, é simples: não há Orçamento e há uma crise política. Aí estamos a discutir qual é a data em que o Presidente terá de fazer o inevitável”, disse então.

E, por isso, também Marques Mendes considera que “não há alternativa a eleições: primeiro, não é possível mudar de Governo no atual quadro parlamentar; segundo, não é possível um segundo Orçamento do Estado porque o Governo não se disponibilizou para tal; terceiro, governar por duodécimos dois anos seguidos (quem não aprova este OE também não aprova o próximo) seria uma anormalidade política (como diz Vital Moreira)”.

Quanto à data das eleições, Marques Mendes diz que “ao ver ontem vários partidos sugerirem o dia 16 de Janeiro, fiquei a perceber que está meio mundo com medo de Paulo Rangel. Ele não está eleito, ninguém sabe se vai ser eleito, mas meio mundo já está com medo dele. Até o Chega”.

“É que se as eleições forem nesta data, só têm um efeito prático: matar Paulo Rangel. Porquê? Porque se ele fosse eleito, só tinha dois dias para fazer listas de deputados. Uma impossibilidade. Isto é uma entorse democrática”. E diz mesmo que “é uma questão de cultura democrática. Não há democracia sem partidos”.

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Para Marques Mendes, que diz não saber a preferência de data do Presidente, diz que as datas aconselháveis seriam 30 de janeiro ou 6 de fevereiro. “Estas não são eleições normais. São eleições extraordinárias. Precisam de um debate esclarecedor. Feito sem pressa. Ora, com eleições a 16 de Janeiro, teremos campanha eleitoral a partir do dia 2. Os debates entre partidos teriam de ser feitos antes, quando o País está entretido com o Natal, o fim de ano e as rabanadas”. Isso é, diz, fugir ao debate.

E o que pode acontecer nas eleições?

Marques Mendes acredita que vai haver, nas próximas eleições, uma bipolarização de votos, o que será uma vantagem para o PSD. “Serão seguramente as eleições mais bipolarizadas dos últimos anos. Uma bipolarização ao centro, entre PS e PSD”. Assim, ambos os países podem sair favorecidos dessa situação, podendo nos dois casos conseguirem o voto útil, um à direita, o outro à esquerda.

“À esquerda o PS vai ter voto útil. Os eleitores desiludidos com o Bloco de Esquerda e com o PCP ou se abstêm ou dão voto útil ao PS”, mas “o grande beneficiário desta bipolarização vai ser o PSD”, já que “pode crescer ao centro, com o descontentamento com o Governo, e vai ter muito voto útil à direita”.

As grandes vítimas desta bipolarização à direita vão ser o CDS e o Chega. Marques Mendes diz que o partido de André Ventura “vai crescer provavelmente muito menos do que se imagina”, acrescentando que “se o líder do PSD for Paulo Rangel, a vida do Chega ainda será mais difícil. Rangel é mais unificador do eleitorado de centro-direita que Rui Rio. Ventura já percebeu isso. Mostra medo de Rangel”.

Mas o PSD está envolvido em eleições internas. E por isso Marques Mendes deixa o conselho: Rui Rio e Paulo Rangel deviam fazer das eleições internas umas primárias das legislativas, aproveitando para falarem do país e para apresentarem propostas alternativas. “Nessa perspetiva, as eleições internas, em vez de enfraquecerem o partido, mobilizam-no”. Por outro lado, o PSD pode ganhar com a “guerra civil” do CDS, tal como poderá ser um trunfo para a Iniciativa Liberal (IL).

Também o Bloco e o PCP deverão sair penalizados nas eleições, a quem atribui responsabilidade da crise. Aliás, Marques Mendes considerou mesmo que o PCP matou a geringonça com a cumplicidade do Bloco”. O PCP quis derrubar o governo depois dos resultados autárquicos, considera o comentador.

Para Marques Mendes, “BE e PCP cometeram suicídio” ao derrubar um Governo “de esquerda e chumbar um Orçamento de esquerda”. Daí que acredite que depois das eleições, as lideranças de Catarina Martins e Jerónimo de Sousa “fiquem seriamente em causa”.

Apesar disso, vê como difícil o PS conseguir maioria absoluta, já que diz que o país está cansado de seis anos de governação socialista. “Cansada do estilo, da arrogância, de vários ministros, da degradação em muitos setores, da falta de resultados noutros”.

É “muito mau” o que se passa no CDS

Para Marques Mendes o CDS está “quase em extinção”. O “espetáculo deprimente” do fim de semana – com vários militantes a anunciarem a desfiliação em oposição à desmarcação das eleições internas por parte do presidente centrista Francisco Rodrigues dos Santos.

“O que Francisco Rodrigues dos Santos fez foi batota política. Há um mês, para se aproveitar de algumas vitórias autárquicas, quis antecipar as eleições internas. Agora, quando viu o risco de perder, fez o contrário: agarrou-se ao lugar e adiou o Congresso. Isto é fazer batota”.

“Nenhum líder do PSD vai querer fazer coligação pré-eleitoral com o CDS no estado debilitado em que o partido está. E, sem coligação pré-eleitoral, o CDS dificilmente sobrevive”.