Maria de Jesus Rendeiro, mulher do banqueiro João Rendeiro, foi detida esta quarta-feira, confirmaram o DCIAP e a Polícia Judiciária (PJ) em comunicado, após a notícia ter sido avançada por RTP, SIC e TVI.

Ao que o Observador apurou, Maria Rendeiro só deverá conhecer as medidas de coação amanhã, 5.ª feira. A mulher de João Rendeiro vai ser encaminhada para o estabelecimento prisional de Tires, onde vai passar a noite, e só amanhã deverá ser levada à presença de um juiz de instrução criminal do Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa para ser alvo de primeiro interrogatório como arguida neste processo que foi aberto no mês de outubro durante esta quarta-feira.

O facto de as 14 buscas realizadas pela Polícia Judiciária ainda não terem terminado, é a principal razão para que o interrogatório possa só começar amanhã, 5.ª feira. O Ministério Público quer analisar a prova que já foi entretanto recolhida antes de confrontar Maria Rendeiro com os factos indiciários que constam dos autos.

As autoridades confirmam que emitiram “mandados de detenção” e citam como motivo o facto de considerarem “existir um forte perigo de fuga”. Segundo a TVI, Maria de Jesus Rendeiro vai ser presente a juiz esta quinta-feira, para lhe ser aplicada uma medida de coação e deverá passar esta noite na prisão de Tires. A mesma televisão diz que o Ministério Público vai pedir que lhe seja apreendido o passaporte — ao contrário do que aconteceu com o seu marido, que se encontra atualmente fugido à Justiça.

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A detenção surge no mesmo dia em que a Polícia Judiciária está a fazer buscas na casa de Florêncio de Almeida, ex-motorista do banqueiro João Rendeiro, confirmou o Observador junto de fonte da Polícia Judiciária. Em causa estão suspeitas de branqueamento de capitais, através da compra de um apartamento na Quinta Patino — do qual Maria de Jesus usufruía — a pronto pagamento. Florêncio de Almeida está no local.

O DCIAP já confirmou estar a efetuar buscas em Lisboa e Cascais e avançou que em causa estão suspeitas de “crimes de branqueamento e de descaminho”, diretamente relacionados “com fundos que se suspeita terem sido retirados do Banco Privado Português”. O comunicado menciona também as “obras de arte apreendidas a João Rendeiro”, das quais Maria de Jesus é fiel depositária e cujo paradeiro é atualmente incerto. Em audiência em tribunal na semana passada, Maria de Jesus disse não ter condições psicológicas para responder a perguntas — e a sessão foi suspensa.

A PJ confirma que efetuou diligências e buscas não apenas na Quinta Patino e nas residências de Florêncio de Almeida e do pai, mas também em Oeiras e Alcáçovas. Ao todo, a operação envolveu 50 inspetores e peritos.

A SIC já tinha revelado pormenores sobre esta investigação do DCIAP, depois de ter tido acesso a documentos que comprovam que a casa da Quinta Patino, que era propriedade da Caixa Geral de Depósitos, foi comprada por um valor de 1,15 milhões de euros, a pronto pagamento, por Florêncio de Almeida. Em dezembro de 2020, o motorista assinou um contrato-promessa no valor de 201 mil euros para dar usufruto do imóvel a Maria de Jesus Rendeiro.

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Também a casa do pai de Florêncio de Almeida, presidente da ANTRAL (com o mesmo nome), está a ser alvo de buscas por suspeitas de um crime da mesma natureza. Em causa está o caso já revelado pelo programa Sexta às 9, da RTP, que diz respeito a um apartamento em Campo de Ourique.

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Este terá sido comprado por Florêncio de Almeida (pai) a João Rendeiro por cerca de 500 mil euros, um preço três vezes abaixo do valor de mercado. Três anos depois, o presidente da ANTRAL doou parte do imóvel ao seu filho. Em 2020, pai e filho vendem o apartamento por um valor quase três vezes superior ao que pagaram a Rendeiro: 1 milhão e 470 mil euros.

O Sexta às 9 nota ainda que este negócio foi feito exatamente uma semana antes da compra do apartamento na exclusiva Quinta Patino.

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