O Grande Prémio do Algarve de MotoGP, a acontecer este fim de semana no Autodrómo Internacional do Algarve, em Portimão, não é apenas mais uma corrida da competição, a penúltima neste caso, nem mais uma prova onde os portugueses torcem por Miguel Oliveira. O piloto de Almada, que aos 26 anos é já uma das figuras do desporto nacional, é o centro das atenções, mas há algo mais a acontecer estes dias na prova: a última vez que Valentino Rossi corre em Portugal. O mítico piloto italiano vai retirar-se no final desta época, aos 42 anos.

A zona das tendas do merchadising da prova confirma-o. A tenda de Valentino Rossi não só era a mais concorrida como a maior de todas. Eram, na verdade, duas tendas grandes com dezenas de pessoas em fila. As outras tendas estavam longe de ter o movimento que se fazia sentir na loja de Il Dottore.

Loja de “Il Dottore” sempre concorrida

Capas de telemóvel de 6 euros a um casaco de 89, óculos de sol e artigos para bebés e crianças, chinelos, máscaras de proteção contra a Covid-19, cartazes de agradecimento ao piloto. Há de tudo para o fãs do italiano. Um destes fãs era o brasileiro Leonardo Cardoso, de 46 anos e residente em Leiria. Vinha acompanhado do filho, Giovanni, que aos 12 anos já trazia um boné do número 46 do circo do MotoGP. Acabado de comprar, o rapaz disse ao Observador que tinha sido ele a pedir ao pai o chapéu. Tinha cinco anos quando começou a ver as corridas “mas na altura não ligava muito”. Agora acompanha mais. Para o pai é mesmo uma “paixão” e é já a terceira vez no autódromo. “Gosto da velocidade e do que os pilotos fazem com as motas”. Dada a geração de Leonardo, não foi difícil adivinhar o preferido: sim, Rossi.

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De mais longe do que Leiria vinha o casal Hugo, de 22 anos, e Erica, de 19. A rapariga trazia um lenço fluorescente na cabeça, cor que mais saltava à vista nas tendas junto ao acesso para uma das bancadas encostada à reta da meta. Hugo e Erica vieram de Felgueiras, a cerca de 500 quilómetros de Portimão. Com roupa alusiva a Miguel Oliveira (com o número 88) e acompanhados de mais quatro amigos, que vinham também do Norte, o casal partilha a paixão pelo MotoGP.

Erica e Hugo fizeram mais de 500 quilómetros desde Felgueiras

A rapariga admitiu que o lenço de Rossi que tinha acabado de comprar era “uma recordação porque é o último ano dele”, explicando que é o seu piloto preferido desde que começou a ver MotoGP, em pequena. “Era sagrado. A seguir ao almoço de domingo víamos as corridas lá em casa”, afirmou Erica, com o namorado Hugo a destacar também que “haver público” era outro dos motivos interessantes do Grande Prémio do Algarve.

Cláudio Bessa e Patrícia Bessa também vieram de longe. Apesar de naturais do Porto, vieram “de propósito” para Portimão, diretamente de Fribourg, na Suíça. Também com adereços à Rossi, ou não estivéssemos ainda perto da banca do lendário piloto, dizem que o facto “de ser a primeira vez com adeptos” é impactante, mas ser a “despedida de Rossi, que é um ícone”, é o prato forte para o casal, que nem começou a acompanhar a modalidade de forma série assim há tanto tempo. “Há três quatro anos, mas sempre dei um olhinho”, confessa Cláudio, que destacou ainda a presença de Miguel Oliveira e a importância de ver e apoiar o piloto. “Não teremos tão cedo outro português no MotoGP”, advertiu.

Casal veio da Suíça e também fez questão de se equipar com uma peça da “coleção Rossi”

Também foi a presença do português Miguel Oliveira na prova que cativou Patrícia: “Via com o meu marido mas, ao início, não prestava muita atenção. Com o Miguel Oliveira presente passei a ser assídua”.

fugir da zona das bancas, estava o verdadeiro fã, equipado totalmente à Valentino Rossi: Luís, espanhol de Huelva. “Desde que Rossi começou que sempre foi o meu favorito”. Nunca assistiu a corridas fora de Espanha, mas o fã do italiano diz que já foi a Jerez, Barcelona e Valência, tudo no seu país, claro. “Fora só a Portugal… no Estoril”, relembra, como quem recorda outros tempos, não só seus, mas também de Rossi. “Eu conheço o Valentino. Trabalho na Avintia Racing”, atira de repente, com um sorriso a formar-se sem esconder o orgulho e o amor pelo “doutor” italiano, que se despede este ano dos grandes palcos do motociclismo. Se teria capacidades para mais épocas? Luís diz que “sim, mas estar à espera de uma filha muda muita coisa”. Os amigos do espanhol torcem o nariz à afirmação de Luís sobre a capacidade de Rossi e este diz que “sim”, mais algumas vezes. É a última vez de Rossi em Portugal, na última época de Valentino no MotoGP. E, portanto, muitos vieram para ver, mas também para agradecer. Em Valência, para a semana, é o capítulo final de uma bonita história que levou o motociclismo para outros patamares.

Luís, o espanhol praticamente todo vestido à Valentino