O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, assumiu-se esta segunda-feira”emocionado” ao visitar a mais antiga igreja de Cabo Verde, construída na Cidade Velha há mais de 500 anos, cuja capela gótica foi restaurada com apoio português.
“É emocionante ver o que era, há muitos séculos, na versão originária, aquela capela pintada, como não há nomeadamente em Portugal, por exemplo monumentos góticos mesmo os mais significativos, com as pinturas da época. Isto é um restauro muito cuidadoso, muito competente e de facto impressiona porque já se esperava muito, mas é muito melhor do que aquilo que se esperava“, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, em declarações aos jornalistas, na Cidade Velha.
O chefe de Estado, que está a realizar uma visita de dois dias a Cabo Verde, deslocou-se à igreja de Nossa Senhora do Rosário, cujo restauro foi concluído em julho de 2020, no centro da Cidade Velha, que foi classificada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) como Património da Humanidade em 10 de maio de 2009.
“Estamos a falar numa realidade que tem 500 anos, mais coisa menos coisa, e que apanha o período gótico, ora o período gótico, há gótico na Europa, não há muito gótico no continente africano. Diria mesmo que é raríssimo e o caso aqui é um caso único, mas depois o restauro faz aquilo que no que é conhecido o gótico em muitos casos não existe, que é restaurar a pintura da época, não é só a arquitetura da época, na sua simplicidade era assim. Mas é a pintura que desapareceu com o tempo e que na maior parte dos casos de restauro não existe, não foi reconstituída”, explicou Marcelo Rebelo de Sousa, depois de uma visita prolongada ao secular templo.
O chefe de Estado português está na Praia para assistir à posse, na terça-feira, do novo Presidente da República de Cabo Verde, José Maria Neves.
A igreja de Nossa Senhora do Rosário é considerada o mais antigo edifício histórico da Cidade Velha que se mantém intacto.
Desde 26 de junho de 2009 que a Cidade Velha é também uma das Sete Maravilhas do Mundo de origem portuguesa.
As obras naquela igreja, na ilha de Santiago, com mais de 500 anos e onde pregou o Padre António Vieira e por onde terão passado Vasco da Gama e Cristóvão Colombo, arrancaram em dezembro de 2018, ao abrigo do plano nacional de reabilitação dos edifícios históricos e religiosos, sendo financiadas pelo Fundo do Turismo de Cabo Verde.
Construída em 1495, a igreja de Nossa Senhora do Rosário, no concelho de Ribeira Grande de Santiago, integra um dos raros exemplos da arquitetura gótica na África subsaariana, possuindo características típicas da arquitetura quinhentista.
Foi construída no local onde existia uma pequena capela gótica, fazendo esta parte da estrutura atual, com influência manuelina, com arco quebrado, ladeado por duas gárgulas, cobertura em abóbada de nervuras com fechos policromos, segundo descrição daquele ministério.
Arqueólogos do Instituto do Património Cultural (IPC) de Cabo Verde realizaram uma intervenção de urgência na capela gótica daquela igreja, depois de descobertas imagens de santos durante uma escavação, trabalhos financiados pelo instituto Camões, de Portugal.
De visita à Cidade Velha, onde tirou as habituais selfies, neste caso com turistas alemães que fizeram questão de o cumprimentar, Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que ali há “história ao vivo”.
“Em muitos aspetos fundamentais preservada, ainda existe e tem-se a noção do que foi percorrer estas ruas ao longo de séculos. Isso é um valor inestimável, uma grande responsabilidade para quem é autarca e para quem tem funções de preservar o património“, destacou.
Marcelo Rebelo de Sousa visitou a Praia em maio último, no período mais difícil da pandemia de Covid-19 no arquipélago, com mais de 400 novos casos por dia e mais de 3.000 ativos, quando atualmente são menos de uma centena.
“Senti uma diferença brutal relativamente à minha vinda na primavera. Vim cá na primavera e era como Portugal era, um pouco como boa parte do mundo era, era uma terra de ninguém, ou de pouca gente. Tudo parado, aqui não havia turismo, como em Portugal não havia turismo, não havia de facto atividade económica”, reconheceu.
“E sinto, no paquete acostado [no porto da Praia], nos turistas a chegarem, na circulação das pessoas aos poucos a economia a mexer. No mercado, falando-se com as pessoas, percebe-se isso, e nas ruas e na disposição que há. Isso é muito bom, é muito bom. É muito bom que assim seja, parto daqui de facto com um estado de espírito completamente diferente daquele que parti há seis meses, um bocadinho mais de seis meses”, afirmou.