O Estado português emitiu esta manhã dívida pública a 10 anos com uma taxa de 0,314%, beneficiando das garantias de juros baixos dadas por Christine Lagarde em Lisboa. Antes desse discurso, feito há uma semana, os juros de Portugal estiveram perto de 0,6% no mercado secundário, mas após as declarações da presidente do BCE voltaram a baixar para a região dos 0,3%, levando o IGCP a aproveitar essa “janela de oportunidade”.

A Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) emitiu 686 milhões de euros em dívida a 10 anos, com uma taxa de 0,314% que compara favoravelmente com os 0,397% pagos na última emissão feita ao abrigo desta linha de obrigações com maturidade em outubro de 2031.

Foram, também, colocados 314 milhões de euros em dívida para 2037. No total, foram mil milhões de euros nesta dupla emissão de obrigações que foi agendada dois dias depois de a presidente do BCE, Christine Lagarde, ter aproveitado um discurso em Lisboa para contrariar as expectativas que se estavam a formar nos mercados financeiros de que as taxas de juro na zona euro poderiam subir já em outubro de 2022.

As taxas de juro a 10 anos de Portugal subiram de forma acentuada no mercado secundário, nas últimas semanas, mas as garantias de Christine Lagarde aliviaram a pressão.

A presidente do BCE afirmou que era “muito improvável” que no próximo ano se reúnam as condições para um aumento das taxas de juro na zona euro em 2022. Isto porque “um aperto indevido das condições de financiamento não é desejável, numa altura em que o poder de compra já está a ser limitado pelos preços mais elevados na energia e nos combustíveis, e representaria uma dificuldades inapropriada para a retoma”.

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Em nota partilhada com as reações, Filipe Silva, diretor de investimentos do Banco Carregosa, afirma que “o resultado de ambos os leilões mostram que o prémio de risco de Portugal continua a ser apenas impactado pelo movimento das dívidas soberanas europeias”.

O Banco Central Europeu iniciou o processo de abrandamento de compras no programa de compras de emergência pandémica, que levou numa fase inicial a uma subida de yields, mas que parece ter estabilizado”, diz Filipe Silva.

Daqui para a frente, “esperam-se taxas mais elevadas para 2022, mas tal irá depender da atuação do BCE, bem como do desempenho das economias”. Isto numa altura em que “a inflação tem criado uma pressão extra sobre os bancos centrais, uma vez que está a ser mais prolongada do que o que inicialmente se esperava”. “Apesar de tudo Portugal continua a emitir com taxas historicamente baixas e que muito têm contribuído para a diminuição do custo médio da dívida portuguesa”, remata.

Presidente do BCE, em Lisboa, diz ser “muito improvável” que haja condições para aumento da taxa de juro em 2022