Investigadores britânicos e de Singapura detetaram casos de profissionais de saúde que não mostravam indícios de ter sido infetados com SARS-CoV-2, mesmo numa fase inicial da pandemia quando os casos aumentavam no Reino Unido. O estudo coloca a hipótese de as células T do sistema imunitário terem eliminado imediatamente a infeção, antes do coronavírus se conseguir replicar. Falta explicar como é que isso terá sido possível.

Os profissionais de saúde envolvidos no estudo estiveram em condições que poderiam ter conduzido a uma infeção com SARS-CoV-2, nomeadamente no decorrer das atividades profissionais. No entanto,  não chegaram a apresentar sintomas, um teste PCR positivo para o vírus ou sequer assinalaram a presença de anticorpos contra o coronavírus nos testes serológicos.

Além disso, estas pessoas também não tinham células B contra o coronavírus — as células que levam à produção de anticorpos e que servem de memória caso o organismo precise de produzir o mesmo tipo de anticorpos novamente.

O que os investigadores detetaram foram células T do sistema imunitário — conhecidas por destruírem diretamente as células infetadas —, com potencial para eliminar coronavírus e não só o SARS-CoV-2, e células T de memória com capacidade para dar uma resposta rápida aquando uma nova infeção, conforme reportaram na revista científica Nature.

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Os profissionais de saúde sem anticorpos contra o SARS-CoV-2 “tinham uma memória mais forte e mais multiespecífica de células T” do que um grupo equivalente pré-pandemia ou do que um grupo equivalente que teve uma infeção detetável.

Os investigadores colocam várias hipóteses sobre o que terá acontecido com estes profissionais de saúde. Por um lado, que tenham estado expostos várias vezes, mas a pequenas cargas virais, sem levar a uma infeção e resposta completa do sistema imunitário. Por outro, os indivíduos terão aumentado a produção de células T pré-existentes capazes de dar uma resposta não só ao SARS-CoV-2, mas a outros coronavírus aos quais estiveram expostos antes.

Em qualquer dos casos, são precisos mais estudos para verificar se alguma destas hipóteses é válida ou se pode haver outra explicação para a situação. De qualquer forma, uma farmacêutica estuda exatamente a possibilidade de o sistema imunitário desenvolver diretamente células T para matar o vírus e terá, em breve, uma vacina em ensaios clínicos.

Nova geração de vacinas (um adesivo que estimula células T) entra em ensaios clínicos no início de 2022

Os investigadores alertam ainda que os profissionais de saúde incluídos neste estudo foram expostos ao coronavírus original, de Wuhan, e estavam parcialmente protegidos com equipamentos de proteção individual. Assim, falta perceber o que acontece com outras variantes do vírus ou em pessoas que já estão vacinadas.

Donna Farber, imunologista na Universidade de Columbia (Nova Iorque), ouvida pela Nature News, levanta ainda uma outra questão: é que não há provas diretas de que os profissionais de saúde tenham sequer estado em contacto com o vírus ou partículas do mesmo. O que pode inviabilizar as conclusões apresentadas sobre o papel das células T nas pessoas estudadas.