O presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, não será recandidato nas eleições legislativas antecipadas marcadas para 30 de janeiro e como tal vai deixar de ser a segunda figura do Estado. Na última Conferência de Líderes – que reúne os líderes parlamentares –, Ferro Rodrigues confirmou que é um dos deputados que se despede do Parlamento com o fim desta legislatura.

Ferro Rodrigues estava a dar conta aos deputados de que existiam alguns pedidos para despedidas do Parlamento em plenário — Jorge Lacão e Capoulas Santos, que confirmou a despedida na Rádio Observador –, e confessou que também estava de saída, garantindo que já não será candidato nas próximas eleições.

Apesar de a legislatura terminar ao fim de dois anos, Eduardo Ferro Rodrigues confirma o que disse ao Observador em 2019: “aconteça o que acontecer esta é a minha última eleição como deputado mesmo e, portanto, como presidente da Assembleia da República“. Há dois anos, Ferro Rodrigues dizia que “se tudo correr normalmente” ia dar por concluída a presença no Parlamento. O prazo adianta-se, com a dissolução do Parlamento depois da rejeição da proposta do Orçamento do Estado para 2022.

O anúncio do fim da carreira. A entrevista completa a Eduardo Ferro Rodrigues

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Na entrevista dada ao Observador, Ferro Rodrigues explicava que precisava de “passar dos papéis aos atos”, referindo-se à reforma e a “uma presença mais forte junto da família” que, acrescenta, tem “procurado sempre garantir”.

A eleição de Ferro Rodrigues como presidente da Assembleia da República foi um dos primeiros sinais de um acordo à esquerda. Ferro Rodrigues foi o nome apresentado pelo PS contra o de Fernando Negrão, tendo vencido a eleição com 120 votos contra 108. Esta foi a primeira demonstração pública de compromisso à esquerda e de uma nova conjugação da aritmética parlamentar — com a eleição de Ferro Rodrigues a tornar-se possível com a soma dos votos dos deputados das bancadas da esquerda com os do PS.

O segundo mandato de Ferro Rodrigues como presidente da Assembleia da República não tem sido propriamente pacífico. Nas últimas semanas, a segunda figura do Estado e alguns deputados têm trocado palavras mais acesas. No decorrer de dificuldades com o processo de votação, Sérgio Sousa Pinto, do PS, disse a Ferro Rodrigues que tem de ter “tempo para os seus deputados” e Marcos Perestrello disse que o presidente da Assembleia “vê em cada deputado um inimigo, o que não corresponde à verdade”. Para além das polémicas internas, Ferro Rodrigues foi também alvo de um ataque por parte de negacionistas da Covid-19 num almoço que teve em frente à Assembleia da República.