Os presidentes do BCP e do Credit Suisse defenderam esta quinta-feira que é fundamental reduzir a dívida pública, pois sem isso uma futura subida das taxas de juro terá um encargo difícil de suportar.

“Nas finanças públicas é importante o equilíbrio ou estamos a comprometer o futuro. Passada a fase em que era necessário apoiar a economia, o momento é de tratar da casa e há espaço para o poder fazer, deve constituir uma prioridade” a redução da dívida pública, disse o presidente executivo do BCP, Miguel Maya, na conferência Banca do Futuro, organizada esta quinta-feira em Lisboa pelo Jornal de Negócios.

Também António Horta Osório, presidente não executivo do Crédit Suisse, considerou que a “prioridade é reduzir a dívida”, depois do período em que os Governos — “e bem” — tiveram de apoiar a economia face à crise da Covid-19.

“Mais tarde ou mais cedo, as taxas de juro subirão e o encargo dessa dívida torna-se incomportável”, justificou.

Horta Osório disse que tendo em conta que a dívida pública de Portugal representa 130% do Produto Interno Bruto (PIB), se as taxas de juro subirem para 2% (o que se perspetiva a médio prazo) isso significa cerca de 5.000 milhões de euros em encargos.

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É uma prioridade reduzir a dívida, então teremos mais colchões na sociedade para aguentar choques”, afirmou o banqueiro.

Sobre a opinião dos bancos centrais de que a inflação é um fenómeno temporário (ainda que relativamente prologado), Horta Osório considerou um “discurso corajoso” dizerem isso, pois — afirmou — se a inflação provar que não é temporária isso vai provocar um ajustamento intenso nas taxas de juro, que ao subirem “terão impacto nas economias, sobretudo nas mais débeis que têm muita dívida”, caso de Portugal.

Segundo o banqueiro, se as taxas de juro subirem antes de as economias conseguirem baixar a dívida “essa é a maior ameaça que temos economicamente”.

O cenário médio é de que isso não aconteça, mas a probabilidade de que aconteça é significativa e vejo com preocupação que a maioria dos bancos centrais diga que isto vai passar”, afirmou António Horta Osório.

Também esta quinta-feira, na mesma conferência, o governador do Banco de Portugal considerou que a inflação que se regista ainda é um fenómeno transitório e defendeu que a política monetária continue a apoiar o crescimento económico.

“A inflação permanece ainda um fenómeno temporário, associado à recuperação da crise económica, à sua rapidez e dificuldade em retomar mecanismos que foram desativados”, afirmou Mário Centeno, na abertura da conferência ‘Banca do Futuro’, organizado pelo Jornal de Negócios.

Segundo o governador do Banco de Portugal, na Europa ainda não se verificam “efeitos de segunda ordem do mercado de trabalho com preços”. Ou seja, para já ainda não há impacto da subida dos preços nos salários com efeito de tornar a inflação um fenómeno permanente.

O Banco Central Europeu (BCE) vai realizar no próximo mês um encontro crucial para o futuro, no qual deverá delinear os estímulos pós-pandemia, num cenário de nova vaga de Covid-19 na Europa.

Responsáveis da instituição financeira europeia, incluindo a sua presidente, Christine Lagarde, têm insistido que o atual pico dos preços no consumidor é transitório, tornando improvável um aumento da taxa de juro no próximo ano.

A presidente do BCE admitiu esta semana que a inflação na zona euro possa continuar “mais elevada durante mais tempo” devido aos preços energéticos, relacionados com a crise no setor, e que “isto poderá contribuir para salários mais elevados e, subsequentemente, preços mais elevado”.

Contudo, salvaguardou que, de momento, “não existe qualquer prova disso nos dados relativos aos salários negociados [já que] se prevê um crescimento salarial no próximo ano potencialmente superior ao deste ano, mas o risco de efeitos de segunda ordem permanece limitado”.

A taxa de inflação anual da zona euro passou em outubro para os 4,1%, face aos 3,4% de setembro, puxada pelo aumento dos preços da energia.