Rovisco Duarte, Chefe de Estado Maior do Exército durante o caso Tancos, lança esta sexta-feira um livro sobre a história do ramo, de 1974 a 2019, mas não aborda o incidente do roubo de armas por ter “pouco interesse”.

“Tancos para mim tem muito pouco interesse (…) é um episódio que marcou o meu mandato sem dúvida nenhuma (…), [mas] por mim é um assunto que está resolvido, nem guardo mágoa nenhuma, nem sobre comandos, nem nada disso”, disse o general em declarações à agência Lusa.

O livro “Exército Português 1974-2019, 45 Anos em Democracia” é prefaciado pelo general Ramalho Eanes e resume toda a história do ramo nesse período.

Relativamente ao facto de não abordar o tema na obra, o general afirma que o assunto está encerrado para si e assume que resolveu “as situações como pensava que tinha de resolver na altura”.

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Estes momentos menos bons na vida das instituições marcam a agenda mediática, dão origem a muitas confusões, mas valem… isso”, diz, sublinhando que este “não é um livro sobre Tancos”, mas “sobre algo muito mais importante, o Exército”.

Rovisco Duarte, na reserva desde 2019, não exclui, no entanto, vir a abordar o tema mais tarde: “Posso falar sobre Tancos e posso falar muito, mas é assunto que nesta fase não me atrai.”

Para o general, este tipo de acontecimentos ocorre em exércitos de muitos países, mas que acabou por ser resolvido estruturalmente pelo Exército português, tratando-se de “episódios negativos que surgem periodicamente”.

“Aconteceu comigo, podia ter acontecido com qualquer outro”, afirmou.

O roubo das armas no paiol de Tancos, ocorrido em junho de 2017, e a sua posterior recuperação pela Polícia Judiciária Militar (PJM), acabou não só por levar à demissão do então ministro da Defesa, Azeredo Lopes e do general Rovisco Duarte, como por dar origem a um processo-crime com 23 arguidos, entre eles o próprio ministro e vários elementos da PJM.

O processo aguarda ainda conclusão, tendo o Ministério Público pedido a absolvição de 11 dos 23 arguidos, entre os quais o ex-ministro.

O livro — um extenso volume de quase 800 páginas — aborda, em diferentes capítulos, todos os aspetos da história recente do Exército, quase como uma enciclopédia que, de acordo com Ramalho Eanes, “deixa um legado extensivo de informação e análise”, proporcionando ao mesmo tempo “uma ideia precisa do que tem sido o andamento do Exército em democracia”.

Desde as questões relativas ao pessoal, formação, materiais, recursos, infraestruturas, ou missões no estrangeiro, a obra relata em pormenor a evolução da situação do ramo, podendo perceber-se o fio condutor das sucessivas reestruturações, assim como os principais problemas que afetam a organização e que acabam por ser sempre os mesmos.

Quando estava a desenvolver este projeto tive necessidade de ler sobre os chefes de Estado-Maior, tentei perceber o que estava subjacente a muitas coisas, fui logicamente à procura das diretivas dos CEME desde 1974 e encontrei coisas interessantíssimas que gostava de ter sabido antes de ter sido chefe”, afirma.

E explica: “A história repete-se, é verdade.”

Ramalho Eanes considera o general Rovisco Duarte como “um profissional de excelência”, que conseguiu, “com objetividade e precisa factualidade, mostrar que a reforma [do Exército] não se fez e como por isso não é responsável o Exército”.