Foi o jogo com mais golos marcados, foi a maior goleada de Portugal no Europeu, foi também o resultado mais desnivelado do Europeu. O verdadeiro “atropelo” da Seleção a Andorra deveria em condições normais trazer festejos e sorrisos mas reforçou sobretudo o desalento e a revolta por aquilo que se passara algumas horas antes no Espanha-França, com ambos os conjuntos a alhearem-se do jogo e a fazerem correr os 50 minutos do encontro para assegurarem um resultado que permitisse a ambas marcar presença na final deste sábado, também em Paredes. E já depois dos comentários de Ângelo Girão, Edo Bosch ou Pedro Henriques na véspera, desta vez foi a Federação Portuguesa de Patinagem a comentar o sucedido.

“Depois de um jogo épico e apaixonante, que cativou as emoções de adeptos e não adeptos de hóquei em patins, o que comprova a transcendência e o quanto o desporto é sublime, assistimos a factos que contrariam os próprios valores do desporto e da competição. Negar competir é a antítese daquilo que deve ser a excelência das equipas, dos seus jogadores e dos seus treinadores. Ontem, as seleções nacionais de França e Espanha não aplicaram os valores de ética e fair play. Durante os 50 minutos, os árbitros do encontro interromperam, por duas vezes, o jogo para advertir os capitães de ambas as seleções por anti-jogo. O primeiro aviso foi realizado a oito minutos do final do jogo, tendo ambos os capitães sido sancionados com cartão azul a dois minutos do final do encontro”, começou por dizer em comunicado.

“Foram ainda visíveis as opções estratégicas das equipas. Num jogo que decidia a qualificação para a final, ambas as seleções optaram por deixar de fora alguns dos seus habituais titulares, tendo inclusive uma seleção falhado deliberadamente um livre direto, ação que foi sancionada pelo árbitro com cartão azul. A Federação de Patinagem de Portugal esforçou-se para assegurar que o hóquei em patins europeu, ao nível das seleções, se mantivesse ativo. (…) Assumimos as nossas responsabilidades desportivas, neste Campeonato da Europa, com a mesma convicção com que repudiamos todos os comportamentos anti-desportivos que, além de impactarem negativamente no nosso desporto e na credibilidade das nossas competições, ferem a verdade e ética do desporto”, acrescentou ainda o mesmo texto.

O encontro de atribuição do terceiro e quarto lugares estava ferido por aquilo que acontecer na véspera mas havia ainda na Seleção a vontade de ter uma última palavra para assegurar o pódio onde estariam também Espanha e França. E Gonçalo Alves, o melhor marcador nacional, deu o mote para o reencontro com a formação transalpina depois do empate a quatro na fase de grupos: “Não jogámos o melhor hóquei durante este Europeu, sim é um facto, mas enquanto estivemos dentro de campo não podem apontar nada a esta Seleção. Entrega, acreditar e persistência nunca irão faltar. É um enorme orgulho neste grupo de trabalho que é campeão do Mundo, não tenham memória curta. Obrigado Portugal”, escreveu.

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No entanto parecia mesmo que um mal nunca vem só e, este sábado, foram detetados dois casos positivos de Covid-19. “Ao final da manhã de hoje [sábado], após um dos atletas da seleção nacional apresentar temperatura axilar de 38ºC, foi ativado o Plano de Contingência Covid-19 da Seleção Nacional de hóquei em patins. A testagem de todos os elementos da comitiva resultou na deteção de dois casos positivos, que foram de imediato comunicados às autoridades de saúde, à DGS e à organização do Campeonato da Europa. Aguardamos orientações das entidades competentes”, anunciou a Federação, sem confirmar os nomes dos atletas que tudo indica serem o capitão João Rodrigues e Henrique Magalhães.

“Sei que não estivemos no nosso melhor mas também sei que sempre que entramos em campo damos tudo e temos sede de vitória! Isso é motivo de orgulho, é algo que me faz dormir descansado e é esse exemplo que quero dar aos mais jovens que dão agora os primeiros passos nesta modalidade! Posto isto, e tendo a perfeita noção de que tinha uma medalha de bronze para disputar, iria mais uma vez entrar em campo de cabeça erguida e pronto a dar tudo pela minha pátria. Infelizmente, esta manhã, testei positivo à Covid-19. Estando impedido de jogar e de poder lutar pelas cores de Portugal, resta-me apoiar (à distância de uma televisão) os meus companheiros de equipa. Força família! Força Portugal”, tinha dito João Rodrigues.

Poucos minutos antes do apito inicial, a confirmação: o encontro foi mesmo cancelado, até porque toda a seleção italiana recusou fazer testes antes do jogo. Ainda assim, os jogadores portugueses disponíveis subiram ao rinque e Hélder Nunes deixou algumas palavras aos adeptos que estavam nas bancadas.

“Não podemos fazer nada. Estamos aqui em nome de Portugal, do hóquei em patins. A Federação que tudo fez para que todos os Europeus se realizassem… Sinceramente, sentimos que fomos a única federação a querer realizar o Europeu. Demos o nosso melhor. O jogo que fizemos contra a Espanha mostra bem o caráter desta equipa, desta seleção, deste staff. E queríamos agradecer o apoio, daí estarmos aqui hoje de cara levantada. Queríamos mais, não foi possível. O terceiro também não foi possível por questões de saúde mas estamos aqui por vocês”, destacou o jogador que representa o Barcelona.