Um mal anunciado. Inevitabilidade. Decisão tardia. O rol de palavras e expressões podia continuar mas tudo o que tenha a ver com a saída de Ole Gunnar Solskjaer do comando do Manchester United entronca sempre no mesmo sentido que confirmou o beco sem saída com nova goleada sofrida na Premier League, desta vez com o modesto Watford. O fim de semana, esse, ficou guardado para as homenagens e para as manifestações de respeito por alguém que terá sempre um lugar na história do clube e que ouviu (ou sobretudo leu) muitas saudações por parte dos próprios jogadores após a confirmação do despedimento na manhã de domingo. Era o óbvio, o mais fácil, começava aí o verdadeiramente difícil: como se conseguia resolver a situação?

Pode estar apagado, escondido e até merecer sair. Mas no fim, quando se fazem as contas, ele é sempre Ronaldo e os outros são meros mortais

“Como treinador, sabes que podes configurar uma equipa, sabes que podes preparar uma equipa, mas não há desculpas para este tipo de jogos. Nenhuma desculpa, é inaceitável. Vi alguns jogadores a agitarem os braços, a dar a bola uns aos outros, a culpar outras companheiros. Estaria mal se fosse uma equipa minha. Todos os jogadores têm de mostrar mais. Não digo que exista uma obrigação de ganharem a Champions mas pelo menos de mostrar aos adeptos que estão a trabalhar e que estão a jogar para eles. É o mínimo que se pode esperar”, comentou Wayne Rooney, antigo avançado do clube hoje treinador do Derby County.

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“O Ole vai ser sempre uma lenda mas deixou papel de treinador”: United despede Solskjaer e Zidane é o sucessor desejado

As opiniões, e foram muitas ao longo dos últimos dias, sucediam-se sem que se percebesse na essência onde estão os principais problemas da equipa mas partindo-se do pressuposto que o lugar de treinador não era o único (e que parece longe de estar resolvido a não ser que o dominó de movimentações leve Zidane para o PSG e faça chegar Mauricio Pochettino a Old Trafford). E enquanto se percebia como inverter essa situação, o panorama adensava-se com apenas duas vitórias e quatro derrotas nos oito jogos disputados desde outubro e uma falta de qualidade de jogo incompreensível perante o aumento do leque de opções da equipa. Contudo, nem isso parecia ser um problema para o técnico interino dos red devils, o ex-médio Michael Carrick.

“Trabalhei lado a lado com o Ole [Gunnar Solskjaer] durante muito tempo, temos formas de pensar que são parecidas mas claro que tenho a minha própria personalidade. Somos semelhantes em certas coisas e foi por isso que estivemos juntos tanto tempo. Tenho muito claro na minha cabeça o que queremos fazer mas é um desafio, claro. Temos de colocar mãos à obra rápido porque temos uma grande responsabilidade aqui, não vou assumir isto de forma ligeira. É um desafio na carreira e quero ganhar. Oxalá não tivesse acontecido nada disto mas é um grande grupo de jogadores, que já deu várias demonstrações disso mesmo no passado e que vão voltar a mostrar”, comentara na antecâmara da partida no Estádio de la Cerámica (ou El Madrigal).

O Manchester United iniciou o jogo com a estrutura habitual mas com algumas surpresas reservadas mais no ataque, além da entrada de Alex Telles para o lugar do lesionado Luke Shaw: Bruno Fernandes ficou de fora para dar lugar a Van de Beek no apoio a Ronaldo, Martial entrou para a vaga de Rashford por forma a que o número 7 pudesse mais fazer o movimento da esquerda para o centro. Na teoria, era assim; na prática, voltou a ser uma primeira parte quase confrangedora do meio-campo para a frente, adensada por um maior número de tentativas de jogo direto na frente que foram sempre controladas sem problemas pelo Villarreal.

Ainda assim, não foi propriamente uma primeira parte que deixasse muitas saudades, com os vencedores da última Liga Europa (curiosamente contra o Manchester United, no desempate por grandes penalidades) a demorarem também a carburar como as comunicações entre os árbitros que atrasaram o início do encontro sete minutos. Pino, numa insistência na área descaído pela direita, deixou o primeiro sinal de perigo com um remate ao lado (9′) antes de Manu Trigueros obrigar David de Gea a uma defesa mais apertada depois de mais uma jogada em que Pino foi melhor do que Alex Telles pela direita (27′). Do lado dos ingleses, entre uma ou outra chegada com mais perigo mas sem finalização, sobrou apenas um remate enquadrado de cabeça por Ronaldo para defesa de Rulli, depois de um cruzamento de Alex Telles, e pouco mais (30′).

Se a primeira parte tinha registado mais Villarreal, o segundo tempo começou com muito mais Villarreal e ainda mais um bocadinho assim de David de Gea, que voltou a segurar o empate com uma defesa fantástica a novo remate na área de Manu Trigueros (60′) antes de Arnaut Danjuma falhar em boa posição também na área ao segundo poste (63′). Os espanhóis tinham acampado no meio-campo contrário perante os pedidos de Ronaldo para a equipa subir, algo que aconteceu apenas com a entrada de Bruno Fernandes em campo: a partir daí, com aquilo que fazia falta, os red devils tiveram muito mais posse, jogaram mais perto da baliza contrária, criaram a primeira oportunidade flagrante com o passe do médio português para o remate de Jadon Sancho e uma grande defesa de Rulli (71′) e inauguraram mesmo o marcador após um erro na saída de bola de Capoue, aproveitado por Ronaldo para marcar um grande golo num chapéu e dar a vitória (78′) antes de Jadon Sancho confirmar o triunfo na área após assistência de… Bruno Fernandes (90′).

Quando os primeiros 65 minutos apontavam para tudo menos isso, o Manchester United ganhou mesmo em Espanha, garantiu a qualificação para os oitavos e tem todas as condições para segurar o primeiro lugar do grupo tendo estatuto de cabeça de série no sorteio. Quanto a Ronaldo, e no baú dos recordes e novos registos, tornou-se o primeiro jogador a marcar nas cinco primeiras jornadas da fase de grupos da Champions por uma equipa inglesa e colocou-se num patamar onde só 20 equipas têm mais golos do que ele na prova. No entanto, se tudo isso aconteceu foi porque Van de Beek deu lugar a Bruno Fernandes na equipa…