“O futebol só tem cor se tiver competição.
O futebol só tem cor se tiver verdade desportiva.
O futebol só tem cor quando é um exemplo de saúde pública.
Hoje, o futebol perdeu a cor.”

A entrada do Belenenses SAD com apenas nove elementos de campo tem vindo a merecer várias reações, uma das mais fortes a chegar exatamente de alguns jogadores dos azuis como Afonso Sousa, Carraça (que está emprestado pelo FC Porto), Abel Camará e o capitão Tomás Ribeiro com um texto e uma imagem que tem vindo a ser partilhada nas redes sociais com uma imagem de luto pelo que aconteceu.

O caso insólito, que acontece mais de nove anos depois do que ocorreu com a União de Leiria (na época devido a dificuldades financeiras que levaram a várias rescisões de jogadores), tem merecido várias reações que chegam de todos os lados incluindo Inglaterra, onde Bernardo Silva, jogador do Manchester City e benfiquista assumido, comentou a situação também através de duas questões na sua conta oficial do Twitter: “O que é isto? Sou o único a não perceber o porquê do jogo não ter sido adiado?”. Mais tarde, Rúben Neves, internacional português que joga no Wolverhampton, respondeu ao companheiro de Seleção: “Exatamente amigo. Não dá mesmo para entender ou então nós é que não estamos a pensar bem”. Gonçalo Paciência, jogador do Eintracht Frankfurt, colocou uma imagem do jogo com apenas um emoji.

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Também em atletas de outras modalidades o caso foi comentado, com João Ribeiro, canoísta que foi vice-campeão mundial este ano e que pertence ao Benfica, a escrever que “Hoje o futebol não está a ser um exemplo”, enquanto Cardinal, jogador de futsal internacional do Sporting, falou no Twitter de “vergonha”: “Mais um dia negro para o futebol português. Incrível como ninguém faz nada”.

De manhã, Rui Pedro Soares não tinha pedido o adiamento. À noite, já tinha pedido: como o Belenenses SAD acabou a jogar com nove

Na imprensa internacional, uma palavra domina todos os textos: vergonha. “O jogo da vergonha: Benfica joga contra nove e dois são guarda-redes”, escreve a Marca, entre outros títulos que colocam em aberto a possibilidade de haver um recorde de golos num jogo pela desvantagem numérica. O jornal As utiliza mesmo a palavra “escândalo” para escrever o sucedido, enquanto o Mundo Deportivo vai pelo “insólito”.

“Mais um episódio negro do futebol português”, critica Sporting

Entretanto, as reações começam a surgir também de alguns clubes nacionais, com o Sporting a escrever um comunicado a lamentar tudo o que aconteceu no Jamor no Belenenses SAD-Benfica.

“Foi-nos dito que tínhamos oito jogadores e que se não jogássemos tínhamos falta de comparência”. Rui Pedro Soares e Liga em confronto

“O Sporting Clube de Portugal não pode deixar de se manifestar sobre o que se passou esta noite no Estádio Nacional. Aquilo que conduziu a que esta situação fosse possível deve merecer uma profunda reflexão de todos aqueles que defendem a verdade desportiva e tem que merecer a atenção nacional ao mais alto nível. Já está a merecer a atenção internacional e a marcar mais um episódio negro do futebol português, que vive hoje já manchado por permanentemente estar envolto em suspeitas de corrupção”, escreveu.

“O futebol português como um todo sai hoje seriamente prejudicado, assim como os clubes que dele fazem parte e lutam apenas em campo. O que se está a passar tem implicações graves na credibilidade deste campeonato e das instituições que o regulam. A situação não pode, ou não devia, deixar ninguém indiferente porque assim o futebol português nunca será levado a sério. O Sporting CP é um clube com valores e com princípios dos quais nunca abdicará e considera que o que se passou é uma vergonha para o futebol português”, acrescentou o texto publicado pouco depois do final precoce do jogo.

“O futebol português encheu ontem à noite os noticiários desportivos um pouco por todo o mundo, depois de se ter prestado ao ridículo de iniciar um jogo em que uma das equipas só tinha nove jogadores em campo, dois deles guarda-redes, e nenhum suplente, na sequência de um surto de Covid que atingiu cerca de duas dezenas de pessoas. O triste espetáculo de Oeiras é a cereja no topo do bolo que marca o fim dos mandatos de um dos mais incompetentes governantes da história de Portugal, João Paulo Rebelo, poucos dias depois de o Parlamento ter revogado por unanimidade a iniciativa mais significativa que concebeu, o inútil cartão do adepto. As marcas de um acontecimento tão estapafúrdio não se esbaterão tão cedo. Nem as lágrimas de crocodilo do presidente da B SAD ajudarão a diluí-las…”, referiu o FC Porto.

“O que está a acontecer hoje na principal competição de futebol em Portugal deve envergonhar-nos profundamente a todos. Permitir que este jogo se realize nestas condições não é apenas irresponsável e contra a verdade desportiva: é um tiro certeiro no coração do futebol. Terminado este triste espectáculo, fica a única pergunta possível: quanto tempo vão demorar agora os decisores do futebol português a reagir a esta vergonha?”, salientou a Sp. Braga SAD, numa nota oficial que chegou depois de o diretor de comunicação do clube, Alexandre Carvalho, ter também abordado o caso no Jamor.

“O que se passou no estádio do Jamor esta noite é absolutamente inaceitável e não pode voltar a repetir-se. O jogo entre a Belenenses SAD e o SL Benfica não dignificou nem o futebol português nem os seus protagonistas. Independentemente do que está protocolado para situações como esta, existem valores que são mais importantes do que qualquer competição ou exigência de calendário, nomeadamente a saúde dos atletas e a integridade da competição. Hoje, nove atletas da Belenenses SAD deram tudo de si e correram riscos evidentes para minimizar o que já se antevia uma desgraça para a integridade da competição e imagem do nosso futebol”, comentou Joaquim Evangelista, presidente do Sindicato de Jogadores.

“Tivemos tempo suficiente em contexto de pandemia para aprender a conviver com surtos, pontuais, de tal forma inesperados e abrangentes que tornam impraticável a realização de um jogo nestas condições, apesar dos compromissos assumidos. O Sindicato dos Jogadores convocará, por isso, a Liga e as autoridades de saúde para uma reunião de emergência, exigindo bom senso e o estabelecimento de um modo de proceder digno e capaz de evitar barbaridades como a que aconteceu esta noite”, completou.