Foi há sensivelmente um mês que as investigações foram noticiadas em Itália, com o Il Tempo a chamar-lhe até “um novo terramoto no futebol”. Na altura, as autoridades estariam a investigar a “troca” entre clubes de jogadores, em compras e vendas por valores semelhantes, evitando assim o “circular” do dinheiro. Segundo o La Repubblica, a Comissão de Fiscalização dos Clubes de Futebol (Covisoc) enviou para o procurador federal da Federação Italiana de Futebol, Giuseppe Chiné, um total de 62 transferências de jogadores entre 2019 e 2021 que envolveram valores altos ou extremamente elevados.

Num documento a que o La Repubblica teve acesso, que visava esse tal novo “modelo financeiro”, a Juventus era um dos clubes mais citados, até pelas transferências de, por exemplo, Arthur — que viajou de Barcelona para Turim —, a ida de Pjanic para a Catalunha, ou a saída de João Cancelo para o Manchester City, ao mesmo tempo que Danilo e Félix Correia viajaram para Turim. Outros dos negócios referidos são a compra de Osimhen pelo Nápoles ao Lille, com envolvimento de quatro outros jogadores sem retorno, e a troca de Tongya e Marley Aké por oito milhões cada entre Juventus e Marselha.

Já lhe chamam “o novo terramoto no futebol”: Federação italiana investiga “ganhos de capital suspeitos” na Serie A

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Agora, nestes últimos dias, segundo a agência de notícias italiana ANSA, as autoridades fizeram buscas nas instalações da Juventus, em Turim e em Milão, estando em causa as tais compras e vendas de jogadores e as mais-valias geradas a partir dos direitos, tendo dedica particular atenção às demonstrações financeiras dos último triénio. Segundo a agência italiana (e também os jornais transalpinos), existem seis suspeitos de irregularidades, entre os quais o presidente Andrea Agnelli, o vice-presidente Pavel Nedved e o ex-diretor-desportivo, Fábio Paratici. Os restantes são profissionais responsáveis pelas finanças da Juventus.

A operação chama-se “Prisma” e teve início antes do verão de 2021. “As atividades destinam-se a apurar a hipótese da existência de crime de falsa comunicação das sociedades cotadas e emissão de faturas por transações inexistentes, dirigidas à direção [da Juventus] e aos dirigentes das áreas de gestão empresarial, financeira e desportiva”, refere uma nota do procurador de Torino.

Depois dos avanços das investigações da Consob em relação a este assunto, estão a ser investigadas 42 transações feitas pela Juventus, que estão debaixo da lente do Ministério Público de Torino. Juntando a isto o que também foi feito pela Covisoc, surge ainda a abertura de um processo pelo Procurador da Federação Italiana de Futebol.

Dentro do tema “ajustar orçamentos”, como lhe chama o Corriere della Sera, está em causa um tópico que não é novo, mas que é bastante complexo. Explica o jornal italiano que o tal fruto das mais-valias tem sido bastante visível na Juventus, sendo que as investigações incidem sobre a movimentação (e ganho) de 282 milhões de euros, um valor tido como bastante considerável para as autoridades.

No entanto, a questão complicada surge na medida em que, mesmo para se provar as tais mais-valias que podem ser consideradas fictícias, e que podem representar crimes financeiros e desportivos, é preciso estabelecer de forma objetiva o valor de um jogador. Isto para avaliar se os valores atribuídos estão fora daquilo que o mercado define, o que levaria para cima da mesa um outro crime, o de prestação de “informações falsas”. Assim, é complicado provar que há “enganos” propositados.

Esta reconfiguração orçamental permitia, e neste caso não só à Juventus, ter contas certas sem gastar nada, com base nas tais avaliações a valores atribuídos aos jogadores. As vendas eram registadas e o alegado ou presumido custo dos jogadores contratados estaria espalhado pelos anos de contrato dos atletas. 

A investigação “Prisma” está ainda a olhar para o contrato de Cristiano Ronaldo, mas, segundo o que está a ser noticiado, não é o jogador quem está sob investigação, mas sim a Juventus, de onde o internacional português saiu no início desta temporada. Alegadamente, existiam salários em atraso por pagar ao português.