O crescimento de 2,9% do PIB em cadeia no 3.º trimestre deveu-se sobretudo ao aumento das exportações acima das importações, algo potencialmente atribuível à dificuldade de adquirir bens de outras regiões, segundo a Universidade Católica.

“O crescimento do PIB de 2,9% em cadeia resultou, fundamentalmente, do contributo da procura externa líquida em 1,8 pontos percentuais [pp]. Tal decorreu de um crescimento das exportações (9,6%) acima das importações (4,4%)”, pode ler-se numa leitura rápida do Núcleo de Estudos da Universidade Católica (NECEP Forecasting Lab) enviada à Lusa.

O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 4,2% no terceiro trimestre em termos homólogos e subiu 2,9% em cadeia, confirmou o Instituto Nacional de Estatística (INE) nas Contas Nacionais Trimestrais esta terça-feira divulgadas.

Segundo o NECEP, o crescimento das exportações acima das importações, nos dados em cadeia (face ao trimestre anterior), configura “um resultado algo surpreendente”.

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Esse resultado pode decorrer “não tanto da dinâmica fraca das vendas ao exterior na sequência da estagnação da produção industrial e da recuperação parcial da fileira do turismo, mas sobretudo dos impedimentos e dificuldades em adquirir bens provenientes de outras regiões, nomeadamente, do continente asiático num contexto de aumento pronunciado dos fretes marítimos”.

Assim, segundo o NECEP, “estas perturbações a par das pressões sobre os preços, nomeadamente de bens energéticos, consubstanciam-se em deflatores elevados, sobretudo no caso das importações (4,7% em cadeia e 10,6% em termos homólogos)”.

Paralelamente, o consumo privado contribuiu em 1,3 pp para o crescimento em cadeia do PIB, bem menos face aos anteriores 4,7 pp, no referido contexto de estrangulamento das compras ao exterior e de declínio da confiança dos consumidores. Aliás, o consumo de bens duradouros sofreu uma quebra de 6,2% em cadeia”, assinala também o núcleo da Universidade Católica.

Os economistas da instituição universitária também assinalam que os dados divulgados esta terça-feira pelo INE “confirmam o mau momento do investimento, com uma queda de 1,8% após -0,5% no trimestre anterior”.

“O contributo para o crescimento do PIB foi de -0,3 pp decorrente de quedas pronunciadas nas componentes de máquinas/equipamentos e construção. É ainda de assinalar o recuo das existências em 0,1 pp do PIB, no referido contexto de dificuldades de transporte e aprovisionamento”, sustenta o documento.

O NECEP considera que os números esta terça-feira validados “confirmam uma recuperação hesitante, em particular, da procura interna que cresceu apenas 1,0% em cadeia“.

Para além do abrandamento da recuperação do consumo privado que ainda não atingiu o nível anterior à pandemia, o investimento manteve uma trajetória muito preocupante agora que a atividade da construção enfrenta diversas dificuldades, nomeadamente, relacionadas com o abastecimento de materiais a custo favorável”, refere o NECEP.

Portugal permanece “num patamar inferior ao observado antes da pandemia, próximo dos 97% do PIB do 4.º trimestre de 2019”.