O Dacia Spring é um veículo eléctrico pequeno e barato, mas tem sido um gigante em matéria de surpresas. Começou por, apesar do seu preço bem inferior a 20 mil euros, quase envergonhar o Porsche Taycan, o eléctrico mais caro do mercado e que reclama o carácter mais desportivo, que exige facilmente 200 mil euros na versão mais sofisticada.
No teste do alce, uma manobra normalizada que se destina a medir a capacidade de evitar um obstáculo que surja na via e ainda regressar à sua faixa de rodagem sem perder o controlo do veículo ou despistar-se, o Spring realizou a manobra a 77 km/h, praticamente ao mesmo nível do Porsche Taycan Turbo S (atingiu um máximo de 78 km/h), a melhor das versões do Taycan, com suspensões pneumáticas, modo desportivo e pneus de grande aderência. Bem ao contrário do Dacia, ao qual bastava uns pneus menos maus para fazer eclipsar os 78 km/h do Turbo S.
Depois de embaraçar o “rival” da Porsche, o Dacia Spring envergonha o seu rival interno do grupo francês, o Renault Zoe, durante muito tempo considerado um dos melhores eléctricos à venda no mercado europeu. Ainda que comercializado por mais de 32 mil euros, o Zoe não consegue proteger de forma tão eficaz os seus ocupantes, como o mais acessível eléctrico da Dacia.
Dacia Spring. Guiámos o eléctrico mais barato e dizemos-lhe como é
O Euro NCAP, o organismo oficial europeu a quem cabe a responsabilidade de realizar crash-tests a todos os modelos transaccionados nos países da União, reuniu uma série de modelos para sua mais recente sessão de testes, com a curiosidade dos dois veículos do Grupo Renault terem coincidido no mesmo período. De recordar que cabe a este organismo europeu garantir que os ocupantes usufruem da necessária protecção em caso de embates frontais, laterais e capotamento, assegurando ainda que estão equipados com sistemas electrónicos que ajudem o condutor a evitar acidentes, sejam eles provocados por distracção ou excesso de velocidade.
É um facto que o Zoe, ao qual hoje são atribuídas zero estrelas pelo Euro NCAP (o mínimo possível), foi distinguido em 2013 com 5 estrelas, a pontuação máxima, pelo mesmo Euro NCAP. Mas, nessa altura, as regras eram outras – menos exigentes. E, ao receber agora zero estrelas, o Renault Zoe foi ultrapassado pelo Spring, que ganhou uma estrela. Ainda assim, longe da pontuação máxima das 5 estrelas.
O Dacia obteve apenas 49% na protecção dos adultos no seu interior, a começar pelo condutor, fruto de um desempenho menos bom na protecção das pernas, para além do tablier apresentar um risco de intrusão durante um embate violento. E se os encostos de cabeça anteriores revelaram um bom desempenho, já o mesmo não aconteceu com os dos assentos posteriores. A porta tão pouco abriu com facilidade, após um embate que deformou a carroçaria, dificultando o acesso aos eventuais feridos.
O Renault Zoe ficou atrás do seu “irmão” mais barato, especialmente por incluir menos sistemas electrónicos de segurança, para evitar acidentes, não incluindo sequer de série o e-Call, solução que pede automaticamente ajuda em caso de acidente. A Renault poderia ter incrementado os argumentos do Zoe em termos de segurança, bastando para tal ter como exemplo a versão mais recente do Clio que, testada em 2019, obteve 5 estrelas e uma eficiência total de 96%.