Mais de 15 mil pessoas juntaram-se esta terça-feira a uma conferência em formato virtual que pretende promover uma “nova ordem” na saúde pública em África, para garantir que o continente não volta a ficar “no fim da fila”.
Na sessão de abertura da primeira Conferência Internacional sobre Saúde Pública em África (CPHIA, na sigla em inglês), que decorre até quinta-feira apenas online, o Presidente do Ruanda, Paul Kagame, defendeu que é preciso fazer “muito mais e mais depressa” para construir “uma nova ordem de saúde pública para África”.
Apelando a uma rápida implementação da Agência Africana de Medicamentos e a um compromisso dos Governos e parlamentos africanos num aumento do financiamento doméstico da saúde no continente, Kagame sublinhou a importância de mais investimento nos sistemas de saúde.
“Não podemos continuar a contar com o financiamento externo para algo que é tão importante para o nosso futuro”, disse.
Instou a um aumento da capacidade dos países em aplicar programas de saúde, incluindo campanhas regulares e maciças de vacinação e apelou à colaboração dos países africanos na Parceria para a Produção Africana de Vacinas (PAVM, na sigla em inglês), criada em abril.
“Construir a capacidade de manufatura [de vacinas] é a única forma de garantir que África não fica no fim da fila para [adquirir] medicamentos que salvam vidas”, alertou o chefe de Estado ruandês.
Na mesma sessão, a co-presidente da CPHIA Agnes Binagwaho, ex-ministra da Saúde do Ruanda e conselheira da Organização Mundial de Saúde (OMS), disse que a produção local de medicamentos não é apenas uma opção para África: “É essencial para o nosso desenvolvimento, o nosso futuro, a nossa sobrevivência em África”.
Temos de nos comprometer a nunca mais nos permitirmos ser relegados para o fim da lista para adquirir ferramentas e medicamentos que salvam vidas, desesperadamente necessários. E isto aconteceu mesmo quando estávamos dispostos a pagar antecipadamente por estes produtos”, lamentou a especialista.
Lembrando que em 2019 se previu que com a pandemia África iria registar um colapso do setor da saúde e mais de 10 milhões de mortos — “uma previsão que estava claramente errada” — Binagwaho avisou que a Covid-19 “é apenas um ensaio geral” e que África ainda tem um longo caminho a percorrer.
Senait Fisseha, que co-preside à CPHIA com Binagwaho defendeu que após nos últimos dois anos se terem lançado as bases para uma nova ordem de saúde pública “que irá mudar a face da saúde no continente”, África tem de “aproveitar este momento, este ímpeto para ultrapassar os limites”.
Para isso, os países devem investir nos recursos humanos africanos através de um reforço das instituições de ensino para formar médicos, investigadores e profissionais de saúde e canalizar mais recursos para a saúde, nomeadamente cumprindo o compromisso da Declaração de Abuja, que em 2001 definiu o objetivo de investir 15% dos orçamentos nacionais na saúde, disse a responsável.
O diretor do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (África CDC), John Nkengasong, disse que assim como a epidemia de Ébola em 2014-2016 poderá ter sido um alerta de que algo maior estava para vir, “talvez a Covid-19 seja um aviso de que algo ainda maior está para vir”.
“Por isso temos de estar preparados e tomar o nosso destino e o destino da nossa saúde nas nossas mãos”, disse o diretor do África CDC, que organizou a conferência em curso juntamente com a União Africana.
Anunciando que 15.515 pessoas se tinham inscrito até esta manhã para participar na CPHIA, apelou a todos para que não percam a oportunidade de lançar o caminho para aproveitar o “enorme potencial” para o avanço da saúde pública no continente.
Segundo o África CDC, o continente africano registou 8,7 milhões de casos de Covid-19 e 224 mil mortes associadas à doença desde o início da pandemia.
A Covid-19 provocou pelo menos 5.304.397 mortes em todo o mundo, entre mais de 269 milhões infeções pelo novo coronavírus registadas desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.
A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e atualmente com variantes identificadas em vários países.
Uma nova variante, a Ómicron, classificada como “preocupante” pela Organização Mundial da Saúde (OMS), foi detetada na África Austral, mas desde que as autoridades sanitárias sul-africanas deram o alerta, em 24 de novembro, foram notificadas infeções em pelo menos 57 países de todos os continentes.