A Federação Nacional dos Médicos (FNAM) revelou esta terça-feira que houve dezenas de vagas de formação específica do internato médico que não foram ocupadas, com “acentuadas assimetrias regionais”, e considerou a situação “extremamente preocupante”.
“Pela primeira vez, desde que há mais candidatos que vagas disponíveis no processo de escolha de especialidade, sobraram cerca de 50 vagas, não sendo escolhidas pelos mais de 500 médicos que estariam em condições de o fazer”, afirma a FNAM, em comunicado.
Ao problema do contingente de médicos sem formação especializada, sublinha, “acresce agora o problema destes médicos, que optam por não continuar a sua formação especializada no Serviço Nacional de Saúde (SNS), apesar de existirem capacidades formativas”.
A FNAM diz que uma das principais razões para esta situação é a “falta de condições de trabalho, transversal a todo o SNS”, que se reflete “na formação específica dos médicos”.
Desde 2009, com a empresarialização dos hospitais e o início dos contratos individuais de trabalho, a desvalorização das carreiras médicas tem vindo a agravar-se, levando a que profissionais altamente qualificados abandonem o SNS, colocando em causa a formação dos novos médicos”.
Por outro lado, acrescenta, “as fusões hospitalares levaram a que as instalações físicas não tenham as adequadas condições de trabalho”.
A federação aponta igualmente o surgimento de “novas e preocupantes” zonas carenciadas, “muito pouco atrativas aos jovens médicos considerando as condições oferecidas”.
“A Administração Regional de Saúde (ARS) com mais vagas por preencher foi a de Lisboa e Vale do Tejo, o que confirma esta mudança de paradigma, sublinha a FNAM, dando o exemplo do Hospital de Santa Maria (Lisboa), onde “ficaram 10 vagas de Medicina Interna por preencher”.
A “falta de motivação e descrédito crescente” numa carreira no SNS e a “existência de opções consideradas mais atrativas, nomeadamente na medicina privada e no estrangeiro”, são outras das razões apontadas.
A responsabilidade da degradação das condições de trabalho nos serviços do SNS é do Ministério da Saúde, das administrações hospitalares e dos diretores clínicos nomeados”, considera a federação.
A FNAM fala ainda de “degradação da formação durante o internato, com um número de urgências excessivas, o desrespeito pelo descanso, orientadores de formação sobrecarregados e sem tempo de dedicação para esta tarefa” e diz que estas situações devem “alertar e desencadear a intervenção das instituições responsáveis pela qualidade da formação médica”.
“É urgente inverter o rumo desta política de saúde que coloca em causa os alicerces do SNS”, conclui.