Começou cedo no futebol, tal como o irmão, e até foi internacional pelas seleções jovens argentinas — mas não tinha o talento de Diego Armando. Nem perto disso. Ainda assim, jogou em campeonatos da Argentina, Itália, Espanha, Áustria e sobretudo Japão (onde passou várias temporadas), entre outros.
Chamava-se Hugo Maradona, o mundo vai recordá-lo sobretudo como o irmão mais novo de “El Pibe” e morreu esta terça-feira, em Nápoles, onde vivia. Tinha apenas 52 anos. A causa da morte foi um ataque cardíaco.
A notícia começou por surgir nos meios de comunicação italianos mas já foi entretanto confirmada pelo Nápoles, que em comunicado confirmou que “Hugo Maradona morreu” de ataque cardíaco. O comunicado vinca ainda que o presidente do clube, Aurelio De Laurentiis, e a equipa italiana “unem-se à família de Maradona e estão com ela neste momento de dor pela morte do Hugo”.
Nascido em Lanús, o mais novo de sete irmãos (os outros, Diego, Lalo, Ana María, Rita ‘Kity’, Elsa ‘Lili’ e María Rosa), Hugo ganhou a alcunha de “El Turco” e encontrou no meio-campo o seu terreno preferido do relvado. Ainda juvenil, chegou a vestir a camisola albiceleste num Mundial e com sucesso, levando os jornais a entusiasmarem-se com uma “dinastia Maradona” em perspetiva. Viria depois a lançar-se no Argentinos Juniors, de onde saiu em 1987 rumo a Itália e ao Ascoli, da Serie A.
A mudança para Itália aconteceu a pedido do irmão. Diego pedira (ou exigira) ao Nápoles que contratasse Hugo, o que o clube napolitano fez emprestando-o de imediato ao Ascoli. Ao serviço desta formação, Hugo chegou a jogar contra o irmão mais velho, Diego, então estrela do Nápoles e já um astro do futebol mundial.
Hugo não ficaria muito tempo no futebol italiano, porém: nos anos seguintes jogaria no Rayo Vallecano (Espanha), Rapid Viena (Áustria), Deportivo Italia (Venezuela), Progreso (Uruguai), Sagan Tosu (Japão), Avispa Fukuoka (Japão), Toronto Italia (Canadá) e Consadole Sapporo (Japão). Ao todo, viveu e jogou futebol em sete países distintos e passou quase 35 anos dos seus 52 de vida fora do seu país, a Argentina.
Baixinho como o irmão — media também menos de 1.70m —, era destro e não canhoto. Já vivia há vários anos em Nápoles, tendo sido treinador de jovens e em escalões secundários do futebol distrital da região e tendo-se casado ali com Paola Morra, de quem teve três filhos: Nicole, Thiago e Melina. Nessa altura, também fora já treinador de futebol em Porto Rico e vivera na Flórida, EUA, onde chegou a abrir uma padaria.
Os Estados Unidos dão-te tudo e tiram-te tudo. Se não entras no sistema é muito difícil viver. Os meus três filhos vivem lá, adaptaram-se muito bem. Eu nunca me adaptei ao sistema. No Japão, pelo contrário, apesar de os primeiros anos terem sido difíceis por causa do idioma e da comida, vivi muito bem. Os japoneses estão muito mais avançados do que nós em todos os sentidos. Vive-se com muito respeito”, dizia este ano ao jornal Clarín.
Esta terça-feira, Hugo Maradona foi encontrado morto em sua casa, no concelho napolitano (e sulista de Itália) Monte di Procida. Os jornais locais afiançam que os serviços de socorro chegaram rapidamente à habitação após receberem o alerta, mas terão encontrado Hugo já morto. O antigo futebolista teria exames cardíacos agendados para breve.
A morte de Hugo Maradona acontece pouco mais de um ano depois da morte do irmão Diego, estrela maior do futebol mundial que morreu a 25 de novembro de 2020.
Em maio deste ano, o jornal argentino Clarín recordava um dia de 1979 em que Hugo, com apenas 10 anos, respondia ao jornalista Eduardo Carpio sobre como era Diego Armando Maradona como irmão: “É o meu melhor amigo, o melhor irmão”. O jornalista perguntava-lhe se queria ser como Diego, que aos 19 anos era já uma estrela do campeonato do seu país e do Argentinos Juniors. Hugo respondia: “Nunca pensei em chegar a isso, porque o meu irmão é um marciano. Nem se pode discutir isso”.
Em maio deste ano, Hugo dizia ao Clarín que continuava com a sua escola de futebol, orientando rapazes com entre 6 e 14 anos, mas a pandemia impedia os treinos e os jogos. Ainda assim, tinha um conselho para os miúdos: “A primeira coisa que lhes digo é que o segredo é simples: treinar, querer a bola e procurar superar-se”.
Nota – Texto atualizado às 18h27