Qualquer despedida tem sempre um lado mais emotivo que nem os menos emotivos conseguem evitar, seja em forma de lágrimas, seja naqueles olhos mais avermelhados, seja nos movimentos a disfarçar aquilo que se torna indisfarçável. No entanto, e durante a manhã em que se despediu de todos os elementos do Inter, o que sobrava na expressão de Christian Eriksen era o sorriso e aquela cara de dever cumprido. O médio está bem com a vida. O médio ganhou uma espécie de segunda vida. E, não podendo ser opção para o conjunto de Milão devido à proibição da Serie A que as equipas utilizem jogadores com um desfibrilhador, a rescisão por mútuo acordo acabou por ser um final antecipado para uma história que ficará muito para além disso.

“Os caminhos são diferentes, a ligação jamais será quebrada”: Inter e Eriksen rescindem e Odense pode ser próximo destino do médio

O dinamarquês que sofreu uma paragem cardíaca no primeiro encontro da fase de grupos do Campeonato da Europa, frente à Finlândia, começou por fazer umas caminhadas pela praia, passou depois para as corridas a solo e passou a treinar nas instalações do Odense, onde fez parte da formação, no início do mês. Eriksen não tem dúvidas: quer voltar. E quer voltar “a sério”. “O Christian realizou todos os exames e controlos antes do Natal e os resultados foram tão bons que esperamos que comece a treinar com o plantel em janeiro. Itália é um dos poucos países que tem aquela regulamentação mas noutros países é diferente. Ele quer seguir em frente porque é muito ambicioso”, explicou o agente do jogador, Martin Schoots, ao Telegraaf.

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A ambição do médio é grande, os clubes com ambição interessados também. E, depois de se ter falado da possibilidade de voltar ao Ajax, onde completou a formação e deu o “salto”, as portas de Premier League estão a abrir-se de novo para o internacional e com outro antigo clube, o Tottenham, entre as possibilidades. Sem comentar nenhum destes cenários, Eriksen falou pela primeira vez do momento em que teve a paragem cardíaca durante o Europeu e sobre aquilo que, com a devida distância, sentiu naquele momento em campo.

Eriksen caiu no chão, inanimado e com uma paragem cardíaca há 173 dias. Agora, fez o primeiro treino com corrida e bola

“Foi incrível como tantas pessoas sentiram a necessidade de me escreverem ou de me enviarem flores. Foi algo que teve impacto em muitas pessoas e sentiram a necessidade de amparar-me, a mim e à minha família. Isso deixa-me muito feliz. No hospital, diziam-me que estava cada vez mais a receber flores. Era estranho, não estava à espera que me enviassem flores porque morri por cinco minutos. Foi extraordinário mas muito bom da parte de todos e uma grande ajuda para mim ter recebido todo aquele suporte”, comentou em entrevista à DR1 a propósito das manifestações que foi recebendo nos primeiros dias após a recuperação.

“Estou bem – dentro das circunstâncias”, diz Eriksen. Mas Dinamarca ainda não esqueceu a atitude da UEFA

“As pessoas ainda me escrevem. Agradeci às pessoas com quem me encontrei pessoalmente. Agradeci pessoalmente aos médicos, aos meus companheiros de equipa e às famílias deles. Mesmo aos fãs que enviaram milhares de cartas, emails e flores ou até mesmo a quem me cumprimenta e fala comigo nas ruas, tanto em Itália como na Dinamarca. Agradeço a todos eles porque foi algo que me chegou um pouco de todo o mundo e ajudou-me imenso a ultrapassar tudo isto”, acrescentou Christian Eriksen, que deixou ainda uma última mensagem em relação à grande ambição que acalenta para o ano que agora começou.

Irmãos, campeões de badminton, médicos – como os Boesen se cruzaram no relvado para salvar Eriksen

“O meu objetivo é jogar o Campeonato do Mundo no Qatar. Quero jogar. É essa a minha vontade. É uma meta, um sonho. Se vou ou não ser um dos convocados, isso é outra coisa, mas o meu sonho é voltar. E é claro que sinto que posso voltar porque não me sinto em nada diferente. Fisicamente estou em grande forma e por isso tenho esse objetivo, apesar de faltar muito. Até lá, quero apenas jogar futebol e poder provar que voltei ao mesmo nível”, revelou o jogador da seleção que chegou às meias-finais do último Europeu.

“Não sou herói. Consegui ficar lúcido e fiz o que qualquer um faria”. Kjaer lembra o momento em que Eriksen colapsou no Euro 2020