O foco agora deve ser colocado na “autonomia da população no que toca à perceção e avaliação dos riscos” e reforçar a mensagem sobre o que fazer quando se tem um teste positivo. Foi esta a principal mensagem deixada por Raquel Duarte, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, que teve a incumbência de apresentar as recomendações dos especialistas para lidar com a nova vaga de Covid-19 na reunião que decorreu no Infarmed esta quarta-feira.
Mas em que consiste então esta nova estratégia de “redução das medidas restritivas” e “transferência da avaliação de risco” para a população proposta pelos especialistas? Num conjunto de medidas gerais e específicas que devem ser alteradas caso seja ativada a situação de alerta — situação essa que, para os especialistas, deve ser ativada caso cheguemos aos 70% de internamentos em UCI previstos na linha vermelha (na média a 5 dias) e um Rt superior a 1.
No primeiro cenário, é proposto um reforço da auto-avaliação e testagem de cada um, inclusivamente antes de participar em convívios familiares alargados, mas também a aplicação de testes negativos para entrar em espaços públicos e a proibição de consumir bebidas alcóolicas na rua. No caso de a situação se agravar, sugere-se o recurso ao teletrabalho, redução da lotação de alguns espaços, o limite de seis pessoas à mesa em restaurantes e a redução de convívios familiares a dez pessoas, entre outras medidas.
Raquel Duarte deixou ainda a sugestão de que os inquéritos epidemiológicos possam passar a ser feitos por via digital, para retirar a sobrecarga de trabalho das equipas de saúde pública.
Vejamos então as medidas concretas para o primeiro cenário:
- Aceleração do reforço da vacinação
- Ventilação e climatização de espaços fechados
- Uso de certificado digital e teste negativo nos espaços públicos
- Realização de auto-testes por rotina
- Distanciamento físico (com definição de número de pessoas por metro quadrado)
- Higienização das mãos e superfícies
- Proibição do consumo de bebidas alcóolicas na via pública
A estas, acrescentam-se as seguintes medidas para setores e situações específicos:
- Restaurantes e hotelaria: imposição das regras de ventilação e distância nos espaços de refeição, bem como uso da máscara sempre que não se está a comer ou beber
- Lares de idosos: identificação de risco de acordo com idade e comorbilidades; uso do certificado digital para utentes e testagem para funcionários e visitas
- Atividades desportivas: promoção de atividades em espaços exteriores
- Eventos desportivos, culturais e religiosos no interior: circuitos de circulação definidos; identificação de locais para cumprir distanciamento
- Eventos de grande dimensão no exterior: só podem realizar-se se puderem ser controlados com regras iguais às dos espaços fechados
- Nos convívios familiares alargados: autoavaliação de risco e testagem por rotina
- Transportes públicos: promoção do distanciamento; uso de máscara obrigatório
- Casamentos, batizados e outras celebrações: autoavaliação de risco e testagem
- Viagens: evitar locais de alto risco; cumprir Regulamento Sanitário Internacional; autoavaliação de risco
No caso de ser ativada a situação de alerta, somam-se estas medidas, para além das anteriores:
- Teletrabalho sempre que possível, com diminuição da lotação em cada espaço laboral, promoção de testagem aos funcionários que se desloquem ao local do trabalho e promoção de horários desfasados
- Restaurantes e hotelaria: diminuição da lotação, com um máximo de seis pessoas por mesa, e promoção do uso da esplanada
- Eventos desportivos, culturais e religiosos no interior: acrescenta-se às medidas anteriores a lotação de apenas 75% do espaço
- Nos convívios familiares alargados: evitar grupos com mais pessoas; uso de máscara fora do período de refeição
- Transportes públicos: ocupação de apenas 75% (no caso de transportes coletivos); uso do lugar dianteiro apenas para o motorista (táxis e TVDE)
- Centros comerciais: lotação de 75%; regras iguais às da restauração nos espaços de refeição; distanciamento entre clientes nas lojas
- Casamentos, batizados e outras celebrações: evitar grupos superiores a 100 pessoas