Complicado. Um bom adjetivo para definir o encontro entre Estoril e FC Porto logo à partida, ainda que (muito) longe de outras polémicas que já assolaram o futebol português devido à Covid-19 esta temporada. Complicado, à primeira vista, para o Estoril, que devido a um surto de covid no seu plantel e staff técnico que afetou cerca de 30 pessoas, contaria para o jogo da tarde deste sábado com cerca de 20 jogadores, entre plantel principal e sub-23.

Difícil para o treinador Bruno Pinheiro conseguir apresentar um onze inicial com a qualidade dos que têm sido hábito, não descurando, claro, qualquer atleta dos estorilistas, mas difícil também para Sérgio Conceição, treinador dos dragões em data de aniversário de carreira, que se preparava, pelos motivos supra citados, para enfrentar de certa forma o desconhecido. Mas esse desconhecido podia trazer o que o FC Porto mais queria, que era a liderança isolada e continuar a senda de vitórias consecutivas, que já vinha em 11. Mas vamos por partes sobre o encontro da 17.ª e última jornada da primeira volta da I Liga.

Para a realização do jogo foi muito importante a mudança de normas da DGS, que reduziu o período de isolamento para todos os infetados ou contactos de risco sem sintomas para apenas sete dias, o que permitiu recuperar alguns dos atletas, ainda que não se soubesse bem quantos, nem quais. O Estoril afirmou em comunicado que iria, após reunião online entre os clubes e a Liga, “necessariamente estar presente na 17.ª jornada” da I Liga.

“Ainda assim, na defesa dos interesses dos atletas e da sua condição física e com o objetivo de salvaguardar a verdade desportiva – entre jogadores (18) e membros do staff (9) foram 27 os profissionais em isolamento que não efetuaram qualquer preparação conjunta, sendo que muitos deles estiveram impedidos de treinar –, a Estoril Praia SAD manteve o pedido de adiamento do jogo, pedido este que foi recusado pela FC Porto SAD por constrangimentos de calendário”, lia-se anda no texto de meio da semana.

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“Com a quantidade de situações que estava a haver diariamente, acreditávamos que íamos chegar ao dia do jogo e não ter condições. Felizmente, nos últimos dois dias creio que não tivemos nenhum teste positivo e a mudança da norma viabilizou o jogo. Mas acho que o Estoril sempre foi favorável e tentámos, sempre que possível, que se jogasse”, afirmou ainda Bruno Pinheiro em declarações à SportTV, referindo ainda achar que “a norma que há dos 13 jogadores é o mínimo”. “Sabemos que as condições não vão estar todas reunidas mas vai tocar a todos, é uma questão de tempo e temos de sobreviver quando nos toca”, disse ainda.

Do lado do FC Porto e acima de tudo o resto estava a liderança do campeonato, depois da derrota do Sporting no terreno do Santa Clara. Os dragões têm vindo de mãos dadas com o rival na liderança da I Liga e, assim, uma vitória dos azuis e brancos (ou empate, claro) no António Coimbra da Mota, na Amoreira, daria liderança isolada aos comandados de Sérgio Conceição, treinador que cumpria exatamente este sábado dez anos de carreira, depois de 2012 se ter estreado no banco do Olhanense, numa derrota no campo do Marítimo, por 2-1.

Os tempos são outros, os objetivos também, mas Conceição está como bem o conhecemos e, apesar de não achar ser altura para balanços, foi claro, e coerente com o que têm sido as suas posições, ao dizer que não tinha feito nada de “extraordinário” porque podia ter “ganho mais”, algo que tem a ver com a própria “exigência” do próprio.

O treinador do FC Porto destacou ainda, fora de aniversários e coronavírus, que o Estoril tem “feito um excelente campeonato, com os mesmos hábitos do ano passado”. “Na I Liga tem três derrotas, estamos a falar de Sporting, de Sp. Braga e de Moreirense. É uma equipa muito bem trabalhada não sofre muitos golos, por isso espera-se um jogo difícil”, destacou, apesar de a equipa da Linha vir provavelmente do pior momento da temporada, com três jogos seguidos sem ganhar, nos quais se incluem uma derrota e um empate na I Liga e uma eliminação na Taça de Portugal frente ao Tondela (3-1).

No entanto, era quinta classificada e pretendia descolar de Gil Vicente, V. Guimarães e Portimonense, sendo que para o lugar ocupado muito contaram as boas exibições como a feita, por exemplo, em casa frente ao Benfica (1-1)

Sobre o facto de o FC Porto não querer adiar o jogo e as condicionantes do lado do Estoril, Conceição relembrou as próprias condicionantes do seu lado, não só devido a lesões, como também à CAN (Taça das Nações Africanas): “Eu sou treinador de futebol, não decido nada disso. Quem decide isso normalmente é a Liga e a DGS. Agora, temos de respeitar os regulamentos, houve uma reunião há bem pouco tempo e onde estavam todos os clubes e o acordado foi haver um número mínimo de jogadores.

A partir desse momento, os regulamentos são para respeitar, até porque nem sabemos se para a semana não somos nós a equipa mais afetada, nós temos também muitas baixas, provavelmente mais que o Estoril, temos jogadores na CAN. Estamos aqui para respeitar os regulamentos, no fundo. Vamos a jogo, se calhar sem o número completo de jogadores no banco, é para verem também as nossas dificuldades. Neste tempo temos de viver um pouco com isso. Obviamente que, se me perguntar se gostava que estivéssemos nós e o Estoril na máxima força, claro que gostava”.

Mas apesar de a máxima força ser um conceito muito subjetivo, a verdade é que, objetivamente o FC Porto acabou o ano a ganhar por duas vezes ao eterno rival Benfica (seis golos marcados em dois encontros), o segundo triunfo a acontecer sem Luis Díaz (e Evanilson), que voltava este sábado após ausência devido à Covid-19. Moral não devia faltar à equipa do FC Porto, até porque esta nunca perdeu o primeiro jogo de um ano civil com Sérgio Conceição no leme.

O treinador dos dragões apresentava este sábado Corona a lateral direito e Wendell à esquerda, devido às ausências de Manafá, Zaidu, Nanu e João Mário, com Mbemba e Fábio Cardoso a manterem o eixo da defesa, com Pepe e Marcano lesionados. Do lado do Estoril, ainda que com bastantes dúvidas sobre quem estaria mais debilitado devido à Covid-19, o treinador Bruno Pinheiro efetuou seis alterações: entraram Thiago Rodrigues, Carles Soria, Bernardo Vital, Coly, Rosier e Chiquinho para os lugares de Dani Figueira, David Bruno, Patrick William, Joãozinho, Geraldes e Rui Fonte.

Numa linha muito compacta de 5x4x1, talvez porque já era por ser assim, ou talvez porque a equipa mal treinou e era preciso aguentar, o conjunto de Bruno Pinheiro decidiu cedo uma coisa: o FC Porto não ia jogar por dentro. Ponto. E mesmo que conseguisse, ia ter muitas dificuldades. Assim foi. E, novamente, talvez fosse para ser assim, mas porque foi mesmo preciso aguentar o Estoril recuou e foi encostado rapidamente, ainda que a espaços tentasse sair, quer em jogadas rápidas, quer de pé para pé, como o Estoril gosta de tentar. No entanto, colocar o guarda-redes, neste caso Thiago, a jogar com os pés, pode ser perigoso…

… e foi. Aos 13′, tentou fintar Evanilson e quase ficou sem a bola, a mesma bola que deu a Luis Díaz (16′) e quase deu golo de Taremi. Mais um ou outro lance de pouco esclarecimento por parte da saída estorilista, mas no sentido oposto o plano mantinha-se, e bem, de pé. Ou seja, Vitinha não jogava. E sem Vitinha a jogar o FC Porto perde muito, ainda que seja uma equipa que se pauta pela verticalidade. Na primeira parte, Díaz ainda assustou algumas vezes, como é costume, e viu Thiago negar-lhe um golo com uma grande defesa aos 28‘. Não que já tivesse sofrido golos, mas já tinha complicado muito e, agora, o guardião canarinho aparecia em grande.

Poucos minutos depois o Estoril solta-se e Chiquinho faz mesmo golo, mas Bruno Lourenço estava fora de jogo. Estavam decorridos cerca de 30′ e mesmo não contando o remate certeiro mudou a equipa do Estoril. Aos 38′, Corona não consegue impedir uma viragem de flanco, falha o corte e a bola acaba em Arthur. Já perto da área, o atleta do Estoril remata contra Mbemba e a bola passa por cima de Diogo Costa. Estava feito o 1-0 aos 38′. E, mesmo que tenham passado cinco minutos, pareceram 30 segundos até que surgiu o 2-0. Passe nas costas de Wendell, Chiquinho arranca e o defesa esquerdo brasileiro faz penálti. André Franco, chamado a converter, colocou a vantagem num par de golos de diferença (43′). E, assim, como que com o jogo de um lado e a bola do outro, chegaria o intervalo.

Os 15 minutos de descanso fizeram bem ao FC Porto que aos 49′ já tinha reduzido a desvantagem, por intermédio de Taremi, após uma entrada assombrosa em termos de pressão, intensidade e vontade. Díaz foi desmarcado por Otávio e acabou por cruzar para Evanilson que de cabeça obrigou Thiago a uma excelente defesa (decorem estas palavras). A bola bateu no poste e Taremi apareceu a encostar para reduzir. A partir daqui, voltou o espetáculo Thiago. Negou o golo a Taremi com os pés (54′), a Otávio (72′), mas, sobretudo, aos 60′, quando num livre de Vitinha, destinado à gaveta, defendeu com uma palmada para a trave. Pelos 80′, Thiago era claramente o homem do jogo. E de pensar que começou quase a dar dois golos aos dragões…

Mas à entrada para os últimos cinco minutos, Thiago não conseguiu fazer mais frente a um remate fortíssimo de Luis Díaz (quem mais poderia ser?). Boa jogada de envolvimento dos dragões, bola à esquerda, onde a equipa sempre foi mais perigosa, 1×1 com Soria e golo (2-2). Estava tudo empatado para os últimos minutos, mas… Díaz ainda tinha pilhas, claro. Mais uma jogada individual pela esquerda, um cruzamento rasteiro forte e Francisco Conceição sai do banco para fazer o golo (90′). Para completar a reviravolta. Para receber beijos, abraços e até calduços do orgulhoso pai Sérgio Conceição (2-3).

O jogo acabaria 7 minutos depois com o FC Porto como líder isolado da I Liga no final da primeira volta, com 12 vitórias consecutivas no campeonato, 45 jogos sem perder no mesmo e com uma prenda de aniversário para o seu treinador. Quem a entregou? Francisco Conceição. Quem a fez? Luis Díaz.