Nem só da genética depende o crescimento. O atraso no crescimento é uma condição natural em todas as populações, inclusive em classes sociais mais ricas que, à partida, têm uma boa alimentação. É o que mostra um estudo, publicado no American Journal of Human Biology, noticiado pelo El País. Para Christiane Scheffler, autora do estudo e investigadora na área da biologia humana da Universidade de Potsdam, o ambiente social, político e emocional vivido por cada pessoa também influencia o crescimento.
A investigação baseou-se em dados arqueológicos (quase 6.100 esqueletos) e estudos sobre o crescimento datados de 1877 a 1913 em países europeus e nos Estados Unidos. Das conclusões, uma delas nota que o Homem pré-histórico do Holoceno do Oriente Próximo e da Europa, entre os anos 10.000 e 1.000 a.C., tinha uma altura que rondava os 165 e os 170 centímetros para os homens, enquanto as mulheres não ultrapassavam os 160 centímetros.
Também até a Primeira Guerra Mundial, as crianças europeias e as dos EUA eram baixas. Além disso, os cientistas não encontraram evidências de má nutrição nas crianças que viveram entre o final do século XIX e o início do XX, sendo que o atraso prevaleceu independentemente das condições de vida e da riqueza. Por exemplo, das crianças da classe alta que estudaram em Hamburgo (Alemanha) em 1879, metade delas, tendo em conta a idade, eram tão baixas que foram consideradas atrofiadas.
Atualmente, segundo o World Data, a Holanda é o país onde a altura média, entre os 18 e os 25 anos, dos homens é maior, registando-se 184 centímetros e, por sua vez, as mulheres atingem os 170 centímetros, estando elas com as mesmas medidas das mulheres de Montenegro. Pelo contrário, Timor-Leste é o país que regista valores mais baixos: em média, os homens têm 159 centímetros e as mulheres têm 152 centímetros.
Contudo, nem os mais ricos escapam ao pouco crescimento. Porquê? Está relacionado com a conexão ao estilo de vida ocidental. Carlos Varea, bioantropólogo da Universidade Autónoma de Madrid, defende que é concebível que algumas populações tenham crescido mais do que outras porque poderiam ter um ambiente de maior tranquilidade económica, sem depender, por exemplo, de meios tradicionais de subsistência. “Isso faz com que cresçam em ambientes mais estáveis e é isso que potencia o crescimento”, refere ao El País.
Além disso, o investigador ressalva a importância dos fatores emocionais, transmitidos na família e na sociedade, também contemplados no estudo. “O potencial de crescimento é o mesmo para todos, mas existem fatores nutricionais restritivos e depois há o frio, o esforço infantil e emocional, a violência ou o abuso que limitam esse crescimento”, elucida. Exemplo disto são as populações afro-americanas, onde a perceção do racismo e da discriminação acaba por condicionar o crescimento, que poderia ser maior se não estivesse presente.
Houve ainda um estudo separado com crianças da Indonésia entre os 6 e os 13 anos, cuja amostra abrangeu 1.666 alunos de seis escolas rurais e urbanas. Um dado importante da Indonésia é que tem uma prevalência de atraso no crescimento infantil de 37,2%. Neste caso, os indonésios são baixos e magros, no entanto não foram encontrados sinais clínicos de desnutrição nem correlação entre o nível de magreza e o potencial económico da família.