O presidente do Movimento Nacional para Promoção da Tolerância Étnica (MNPTE) na Guiné-Bissau, Dencio Fernandes, disse esta quarta-feira à Lusa que a sua organização “está bastante preocupada” com o nível de ataques étnicos nas redes sociais.

Médico recém-formado e colocado no Hospital Nacional Simão Mendes, em Bissau, Dencio Fernandes explicou à Lusa que, decidiu, juntamente com outros jovens académicos e profissionais de diferentes áreas, criar, em outubro de 2020, uma organização que juntasse “pessoas com vontade de proteger a unidade nacional”.

O líder do MNPTE, que trabalhou até aqui na prevenção e resolução de pequenos conflitos entre pessoas de diferentes grupos étnicos, nomeadamente as disputas pela posse da terra, disse ter percebido “que há um claro aumento de violência verbal e incitamento ao ódio étnico” nas redes sociais.

Esse fenómeno começou a ganhar força a partir de 2014, mas passou a ter outra proporção com as eleições gerais de 2019. O incitamento étnico, o preconceito nas redes sociais passou a ser um verdadeiro problema na Guiné-Bissau, notou Dencio Fernandes.

O ativista social dá o exemplo de pessoas que “insultam toda uma etnia, às vezes de cara tapada”, numa referência ao perfil falso ou identidade escondida nas plataformas das redes sociais.

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“Muitas vezes as pessoas escondem-se em perfis falsos e lançam informações que acabam por intoxicar a sociedade e incitam ao ódio étnico. Isso é muito perigoso para um país como o nosso onde a maioria da população não sabe ler e escrever”, sublinhou Fernandes.

O MNPTE insta as autoridades a avançarem para a criação de legislação contra o que diz ser um “fenómeno que pode vir a incendiar” a Guiné-Bissau.

“Temos indícios fortes de que não há hora de a Guiné-Bissau ficar mergulhada em problemas de cariz étnico como os que aconteceram no Ruanda. Nós não podemos ficar de braços cruzados à espera que algo de grave aconteça ao nosso país”, enfatizou Dencio Fernandes.

A partir de fevereiro, a organização vai lançar uma campanha nacional de sensibilização à população sobre os “perigos do uso indevido das redes sociais” e as suas consequências para a unidade e coesão entre os guineenses, salientou Fernandes.

A Guiné-Bissau tem cerca de dois milhões de habitantes e conta com cerca de 30 grupos étnicos.