Quando há mais de 30 anos, entre 1985 e 1988, aceitaram participar no estudo Whitehall II, que pretendia monitorizar, ao longo de várias décadas, a saúde dos britânicos, os cerca de 10 mil voluntários tinham entre 35 e 55 anos. Significa que agora terão entre 68 e 92, o que faz com que o material e a quantidade de registos à disposição dos investigadores da University College, de Londres, e da Universidade de Paris sejam mais do que suficientes para lhes permitir tirar conclusões. Neste caso, sobre a demência, que afeta cerca de 57 milhões de pessoas em todo o mundo: de acordo com o estudo agora publicado pelos cientistas no British Medical Journal, o risco de desenvolver a doença na velhice é substancialmente maior em pacientes diagnosticados, na meia idade, com dois ou mais problemas crónicos de saúde.

Apesar de já existir documentação prévia sobre as múltiplas condições comuns aos pacientes diagnosticados com demência, não estava ainda estudada a correlação entre a idade em que essas condições surgem e o risco de a demência vir a ser desenvolvida no futuro. Os investigadores garantem ter descoberto que essa ligação existe: pacientes com pelo menos dois problemas crónicos de saúde na meia idade têm 2,5 vezes mais probabilidade de desenvolver a doença. Mais: quanto mais novos são quando este tipo de condições são diagnosticadas, maior a probabilidade de terem demência — de acordo com o Guardian, quando as multimorbilidades acontecem antes dos 70 anos, o risco de desenvolver demência cresce 18% a cada intervalo etário de 5 anos.

Para este estudo, os especialistas definiram uma lista de 13 condições ou doenças crónicas, entre elas doença cardíaca, tensão arterial elevada, diabetes, insuficiência cardíaca, depressão, doença hepática, acidente vascular cerebral, artrite e cancro. 7% dos participantes no estudo tinham duas ou mais condições aos 55 anos, sendo que aos 70 anos já eram 32% os voluntários com pelo menos duas doenças crónicas. No total, foram registados 639 casos de demência ao longo de 32 anos de acompanhamento. Depois de retirarem da equação fatores como estatuto socioeconómico, dieta e estilo de vida, os investigadores perceberam que ter duas condições diagnosticadas aos 55 aumenta 2,5 vezes o risco de desenvolver demência, em relação aos voluntários sem qualquer problema associado. E que ter três ou mais doenças da lista aos 55 aumenta esse mesmo risco vezes cinco.

Pelo contrário, quando essas condições são desenvolvidas mais tarde, entre os 60 e os 65 anos, o risco de desenvolver demência baixa para 1,5. Para os que chegam aos 70 sem qualquer uma destas patologias associadas, então, o risco cai ainda mais vertiginosamente. “Estas descobertas sublinham o papel da prevenção e gestão das doenças crónicas ao longo da idade adulta para mitigar os resultados adversos na velhice”, assinalaram os autores do estudo, citados pelo Guardian e alertando que, na ausência de tratamento eficaz para a demência, é “imperativo” encontrar formas de a prevenir.

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