O Estado português viu os custos mais do que triplicar numa emissão de dívida pública feita esta quarta-feira, onde foram obtidos os 1.250 milhões de euros pretendidos mas com taxas mais elevadas que já eram esperadas tendo em conta a evolução, nas últimas semanas, dos juros no chamado mercado secundário – onde os investidores transacionam entre si obrigações do Tesouro já emitidas no passado.

Num duplo leilão gerido pela Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP), o Estado português emitiu 706 milhões de euros a 10 anos a uma taxa de 1,008%, o que é comparável com os 0,314% pagos em novembro, quando também se utilizou esta mesma linha de obrigações (com vencimento em outubro de 2031).

Já no prazo mais curto, dívida com maturidade de sete anos, um lote de 544 milhões de euros em obrigações colocadas com um custo implícito de 0,603% – no último leilão os custos nesse prazo tinham sido negativos (0,162%).

Também a procura por parte dos investidores, embora suficiente, baixou relativamente à emissão feita em novembro com prazo de 10 anos. Entre o montante colocado nessa linha (706 milhões) e a procura total, calcula-se um rácio de 1,27 vezes a oferta, menos do que os 1,46 do leilão de novembro.

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A subida dos custos de financiamento nesta emissão de dívida já tinha sido antecipada pela presidente do IGCP, Cristina Casalinho, em entrevista ao Observador esta segunda-feira. A responsável admitiu que tem sido “surpreendente” a “rapidez” e “exuberância” com que as taxas de juro subiram nas últimas semanas, sobretudo depois de na última quinta-feira a presidente do BCE, Christine Lagarde, ter admitido que as taxas diretoras podem, afinal, subir ainda antes do final deste ano de 2022.

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Em reação aos resultados do leilão de dívida pública, Filipe Silva, diretor de investimentos do Banco Carregosa, comentou que “a subida a que estamos a assistir no prémio de risco de Portugal é um reflexo do movimento que temos tido em todas as dívidas soberanas e que acabam por refletir as novas posições que os bancos centrais têm vindo a adotar”.

“Na Europa, o Banco Central Europeu adotou uma posição mais hawkish face a uma inflação que tem sido mais persistente, o que poderá implicar que os programas de compras de ativos acabem já este ano e posteriormente poderemos assistir a uma subida das taxas, que a acontecerem deverá ser no final de 2022 ou início de 2023″, acrescenta o especialista, notando que “o mercado obrigacionista, numa tentativa de antecipar estes movimentos, tem caído o que leva a uma subida das taxas”.

No entanto, defende Filipe Silva, “este movimento acaba por refletir a normalização do mercado, face a uma economia mais robusta, voltarmos para taxas positivas e para spreads ajustados ao risco de cada uma das economias, à medida que vão saindo do mercado os bancos centrais com os seus programas de compra de ativos”.