Na segunda-feira à noite Jorge Alcobia enviou ao PAN a carta de demissão do lugar na Comissão Política Nacional do partido  — o órgão máximo entre Congressos — somando-se aos vários dirigentes do partido que decidiram abandonar funções em rutura com a direção de Inês Sousa Real. Um dia depois, quando se dirigiu às instalações do partido onde trabalhava desde julho, foi chamado para uma “reunião de urgência”. Estava despedido.

Jorge Alcobia foi também o nome escolhido pelo PAN à cabeça no distrito de Portalegre, nas últimas legislativas, onde o partido conquistou apenas 345 votos. Eleito no congresso de junho na lista única apresentada à Comissão Política Nacional foi depois indicado pela Comissão Política Permanente (a direção do partido) para a função de secretário nacional — cargo que foi criado com a alteração aos estatutos realizada no Congresso que levou Sousa Real à liderança.

Em dezembro, no entanto, o Tribunal Constitucional decidiu chumbar os novos estatutos do PAN — os mesmos que tinham criado a figura de secretário nacional. Jorge Alcobia manteve-se em funções, sem que lhe tivesse sido comunicada qualquer intenção de o dispensar de funções. Até esta terça-feira.

Em declarações ao Observador, Jorge Alcobia explica que a reunião com os dirigentes do partido aconteceu “por videoconferência”, na sede do partido, estando presencialmente apenas outra funcionária do partido da área jurídica.

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“Fui contactado para reunião de urgência com a CPP, uma reunião por videoconferência a indicar-me que estava dispensado das funções, alegando que Tribunal Constitucional tinha chumbado os estatutos e que para além disso com o resultado das eleições a subvenção seria inferior”, explica o militante do PAN ao Observador.

Jorge Alcobia, que é reformado, estava a trabalhar para o PAN em comissão de serviço. Para o fazer deixou o “lugar estável numa empresa” na condição de “gestor e auditor de qualidade”. “Podia estar lá e agora estou sem nada. Larguei para trabalhar para o PAN e fui pelo mesmo ordenado”, aponta.

Ao Observador, fonte oficial do PAN explica que “o cargo foi extinto por força da não inscrição dos estatutos por parte do Tribunal Constitucional”. Também acrescenta: “Ao contrário de outros funcionários, o mesmo já se encontra reformado, pelo que todos estes diferentes fatores profissionais foram tidos em consideração na ponderação no processo de reestruturação dos recursos humanos.”

A terminar, fonte oficial do PAN assegura ainda que o afastamento de Jorge Alcobia faz parte de uma reestruturação mais transversal — o partido, garante-se, “está a reajustar a estrutura interna”. O Observador perguntou ao PAN se estava a preparar novos despedimentos, mas não obteve qualquer resposta.

“Fiquei sempre à margem de tudo”

Jorge Alcobia era um dos três elementos da mesa da Comissão Política Nacional, faz parte ainda da Comissão Política Concelhia de Mafra e da Comissão Política Distrital de Lisboa. Na condição de membro da Mesa da Comissão Política Nacional foi um dos responsáveis pela reunião de sábado, onde ficou decidido auscultar as bases e os dirigentes rejeitaram a hipótese de um congresso extraordinário.

Com a decisão de auscultar as bases do partido, a atual direção já vê algumas das concelhias e distritais virem a público expressar-se. A Comissão Política de Mafra, que Jorge Alcobia integra, foi uma das concelhias que já se manifestou publicamente contra a decisão da Comissão Política Nacional falando numa “necessidade imperiosa de se convocar um Congresso Extraordinário Eletivo”.

“A CPC Mafra vem assim manifestar o seu desalento com a decisão da CPN em não convocar o Congresso, retirando a possibilidade de decisão aos filiados no que concerne à escolha de uma nova estratégia política e respetiva liderança. Ao mesmo tempo reitera a necessidade de convocação do Congresso Extraordinário com poderes eletivos como forma de ultrapassar em definitivo a presente situação de incerteza quanto ao futuro do partido”, lê-se na publicação.

Publicação da Concelhia de Mafra

Jorge Alcobia não nega, ao Observador, desafinações com a direção do partido, diz que chegou a ser chamado para uma reunião na Assembleia da República não sobre o trabalho desenvolvido, mas por ter “chamado à atenção de outros funcionários”.

“Fiquei sempre à margem de tudo, mesmo da estratégia da secretaria de comunicação, mas continuei a desempenhar funções lá dentro, inclusivamente na mesa da Comissão Política Naconal gerindo as reuniões”.

O facto de ter sido cabeça de lista por um dos distritos nas legislativas de 30 de janeiro também parecia indicar alguma confiança política no homem que já desempenhou também funções de tesoureiro na distrital do PAN de Lisboa e que ainda integra a comissão política distrital e a comissão política concelhia de Mafra.