O Banco Central Europeu (BCE) garante estar pronto para “tomar medidas no momento certo” com o objetivo de baixar a taxa de inflação mas, como sublinhou a presidente Christine Lagarde esta segunda-feira, o alcance da política monetária neste momento pode não ser suficiente para normalizar mais rapidamente a subida dos preços. “A nossa política monetária não consegue encher os gasodutos com gás natural, não pode ajudar a desbloquear atrasos nos portos nem consegue formar mais camionistas“, afirmou a responsável, aludindo ao que diz ser os principais causadores da inflação elevada.
No Parlamento Europeu, em Estrasburgo, a presidente Christine Lagarde reiterou que o banco central prevê adotar uma abordagem gradual na normalização da política monetária e mostra confiança de que a inflação irá acabar por baixar – embora admita que se a subida dos preços começar a influenciar os salários ou se a economia recuperar mais rapidamente, “então a inflação poderá revelar-se mais elevada que o previsto“.
“Estamos perfeitamente conscientes de que muitas pessoas em toda a zona euro estão preocupadas com o aumento do custo de vida neste momento”, nota Christine Lagarde, lembrando que “o fardo é ainda mais pesado para aqueles que têm rendimentos mais baixos, que têm de enfrentar as dificuldades diárias de gerir as suas vidas com preços mais elevados”. Assim, a francesa sublinha que o BCE está “empenhado no cumprimento do mandato de estabilidade dos preços” e, “para o conseguir, vamos tomar medidas no momento certo“, garante.
A presidente do BCE garantiu que a autoridade monetária vai continuar a “analisar de forma atenta” os dados económicos que chegarem, para “cuidadosamente avaliar as implicações para o horizonte de médio prazo para a inflação”. Isto depois de, como reconhece a responsável no discurso que leu em Estrasburgo esta segunda-feira, a inflação ter “subido de forma acentuada nos últimos meses, voltando a surpreender pela positiva com o aumento em janeiro para 5,1%, depois dos 5,0% de dezembro”.
Porém, embora se admita que a inflação continue elevada no médio prazo, Lagarde sublinha que “os preços de energia mais elevados continuam a ser a principal razão para a taxa de inflação elevada” – preços da energia que, por sua vez, estão a ter um conjunto de efeitos indiretos que também conduzem a uma subida mais rápida dos preços. Lagarde refere, também, que parte da explicação para a inflação mais elevada está nas dificuldades nas cadeias globais de abastecimento que, segundo a própria, “estão a dar sinais de começar a aliviar“.
Em antecipação à reunião do Conselho do BCE decisiva para os próximos passos da política monetária na zona euro, Christine Lagarde acrescentou que “as incertezas relacionadas com a pandemia se reduziram um pouco” mas, “ao mesmo tempo, “as tensões geopolíticas agravaram-se” e “os custos da energia persistentemente elevados podem provocar uma pressão negativa sobre o consumo e o investimento”.
“Dentro de algumas semanas, as [novas] projeções macroeconómicas do staff do BCE vão trazer uma avaliação atualizada, tendo em conta os últimos dados disponíveis – algo que irá ajudar o Conselho do BCE a julgar mais corretamente as implicações da taxa de inflação surpreendentemente elevada que foi divulgada em dezembro e janeiro”, concluiu a presidente do BCE, que tem sido pressionada por vários membros do Conselho do BCE que querem ver a autoridade monetária a tomar medidas rapidamente para tentar conter a taxa de inflação.