Já lhe chamavam uma maldição do futuro reforço ainda sem confirmação do futuro reforço que será mesmo futuro reforço a não ser que apareça alguma maldição. Figo, Beckham, Kroos. Um histórico de derrotas.

Sete contratos, advogados de piquete, 45 milhões/ano recusados e a decisão no palácio do emir do Qatar: como foi a novela Mbappé

Primeiro, Luís Figo. Na época de 1999/00, a quinta e última do antigo internacional português no Barcelona, os catalães ainda empataram no jogo da Liga em Camp Nou mas foram copiosamente derrotados no Santiago Bernabéu por 3-0. Cinco meses depois, o ala assinou pelo Real. A seguir, David Beckham. Nos quartos da Liga dos Campeões de 2002/03, os espanhóis ganharam em casa por 3-1 com um golo de Luís Figo mas o tento solitário de Van Nistelrooy abriu alguma esperança ao Manchester United até ao “atropelo e fuga” do Ronaldo Fenómeno, que fez um hat-trick apesar do triunfo dos red devils por 4-3 com dois golos do antigo médio. Dois meses depois, o agora proprietário do Inter Miami assinou pelo Real. Por fim, Toni Kroos. Nas meias-finais da Champions de 2013/14, os merengues saíram com uma vantagem pela margem mínima de 1-0 mas ligaram o rolo compressor na segunda volta em Munique, goleando o Bayern por 4-0 com três golos apontados apenas na primeira meia hora. Dois meses depois, o alemão assinou pelo Real.

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Se fosse pela lógica, não era preciso muito para se perceber o que esperava a Kylian Mbappé, o avançado que depende da mãe, do pai e de um chorudo prémio de assinatura para se mudar para o conjunto da capital espanhola, como referia o El Mundo. No entanto, e ao longo dos últimos anos (e o francês tem apenas 23…), o internacional já mostrou ser alguém que se dá bem com a história. Primeiro, a conhecer a história; depois, a fazer história; agora, a mudar a história. E era no número 7, que terá congelado qualquer decisão sobre o seu futuro para depois desta eliminatória, que se centravam todas as atenções na primeira mão do encontro mais aguardado dos oitavos da Liga dos Campeões, com o PSG a receber no Parque dos Príncipes o Real.

Era quase paradoxal mas era assim mesmo. Messi, Benzema. Neymar, Vinícius. Wijnaldum, Modric. Verratti, Kroos. Marquinhos, Éder Militão. Donnarumma, Courtois. Só estrelas. E tudo resumido a Mbappé.

“O Mbappé é um miúdo inteligente, maduro, com uma tremenda capacidade de análise para saber o que ele quer e o que será melhor para a carreira. Vejo-o tranquilo, focado em fazer o melhor possível pelo PSG, tal como ele próprio já disse. Há que respeitar o timing dele e vai tomar uma decisão depois da eliminatória com o Real Madrid”, comentou Mauricio Pochettino nos últimos dias. “Não me parece justo estar a falar de jogadores que não estão aqui. Tenho uma boa relação com Branchini [agente de futebol], que é um amigo, mas prefiro não falar disso. A próxima época já está planificada. Aliás, seria pouco profissional se um clube como o Real Madrid não o tivesse feito”, referira Carlo Ancelotti no início do ano.

Os treinadores focavam-se no jogo, Nasser Al-Khelaïfi tinha outras preocupações. “Não vou escondê-lo, quase não temos relação com o Real Madrid. Não preciso de recordar o que se passou. Acredito num futebol acessível aos clubes mais pequenos, eles não pensam o mesmo”, recordou o presidente do clube francês após um almoço com Florentino Pérez, homólogo do conjunto espanhol, que esteve para não se realizar. “Se nos orgulha colocar o PSG no mesmo nível do Real? Estamos orgulhosos do que fizemos. Ainda não conseguimos os nossos objetivos. Vai levar o seu tempo, sabemos disso”, acrescentou ao Canal +, numa conversa que teve pelo meio sem serem nomeados o projeto frustrado da Superliga Europeia e… Mbappé.

O francês foi de forma quase inevitável o destaque até da própria realização mas fez por destacar-se também em campo logo a abrir com uma jogada fantástica a deixar Carvajal no chão para o remate na área muito por cima de Di María. Mesmo não havendo muitas oportunidades, foi Mbappé que voltou a aparecer no lance de maior perigo da primeira parte, vendo Courtois defender para canto um remate colocado após assistência de Messi (18′). O Real assumidamente colocava todos os jogadores atrás da bola e revelava grande incapacidade de saída (Benzema quase não tocou na bola), chegando apenas num canto desviado por Casemiro mesmo a acabar à baliza de Donnarumma (45′). Poucos motivos de interesse numa partida que teve o jovem Nuno Mendes como um dos melhores, arriscando mesmo a surpresa num cruzamento/remate perigoso (23′).

Perante a postura mais de contenção do Real que se transformou também num jogo sem baliza ofensiva, o PSG entrou apostado em ganhar vantagem e rematou mais em dez minutos do que até aí por Hakimi (para uma intervenção enorme de Courtois), Nuno Mendes e Mbappé mas o nulo mantinha-se apesar de outra má notícia para os espanhóis com Mendy a ficar de fora também para a segunda mão a par de Casemiro. Era a noite de Mbappé, era a noite de Courtois: depois de uma grande penalidade ganha pelo francês, carregado por Carvajal após mais uma grande finta, Messi manteve o longo jejum diante do Real e permitiu a defesa do belga (61′). Era a grande oportunidade para ganhar vantagem mas bateu numa muralha, a mesma que a três minutos do final fechou por completo o ângulo da baliza ao regressado Neymar.

Mbappé, sempre ele e muitas vezes sozinho, voltou a ter um remate em arco descaído sobre a esquerda que passou muito perto do poste (75′) mas o foco das notícias já estava na polémica fora das quatro linhas, com alguns meios espanhóis como a Cadena SER ou a Radio Marca a assegurarem que Al-Khelaïfi e Leonardo tinham descido à zona dos balneários durante o intervalo para pressionar o árbitro Daniele Orsato, algo que foi visto por responsáveis da UEFA. Durante as próximas semanas, vai haver motivo de muita conversa. A começar pela questão de uma maldição que pode acontecer a mais um próximo . Mas com uma diferença: Mbappé não é só o futuro do Real, é o presente do PSG. E foi nessa base que, no último minuto de descontos, o francês agarrou na bola de novo descaído sobre a esquerda, “partiu” com uma só finta Éder Militão e Lucas Vázquez, ganhou espaço e colocou entre as pernas de Courtois para o 1-0 (90+2′).