“Contra a incerteza” é o mote do Coliseu do Porto para arrancar 2022 com uma nova temporada de espetáculos, a proposta é baseada em quatro eixos programáticos diferentes – Coliseu Lírico e Sinfónico, Música e outras Artes, Coliseu Descontraído e Coliseu Parceiro — toca várias artes e tem como objetivo tornar a sala mais emblemática da região norte num espaço cada vez mais democrático, inclusivo e acessível a todos.
Uma das grandes novidades é a criação de um programa de residências artísticas dedicado a talentos nas áreas da pintura, desenho, escultura, fotografia ou joalharia, que no piso 1 do Coliseu “passarão a poder beneficiar de um período de trabalho em residência”. Este ano será atribuído pela primeira vez um prémio para jovens artistas que desenvolvam a sua atividade nas artes circenses ou na dança. A intenção é distinguir profissionais, desde intérpretes, coreógrafos, cenógrafos, produtores ou programadores, com cinco mil euros, o nome do vencedor será revelado a 19 de dezembro, data em que o Coliseu celebra o seu 81.º aniversário.
Outro dos destaques desta temporada é a reativação da Orquestra Salão Jardim Passos Manuel, um projeto de recuperação que tem sido adiado devido à pandemia e que agora vê a luz do dia. “Estamos a recuperar partituras dos anos 60 e 70 e a digitalizá-las, para que podemos voltar a ter bailes e chás dançantes a partir de junho, a ideia é que o público mais velho recupere este espaço de encontro”, explica Mónica Guerreiro, presidente do Coliseu.
Ópera, poesia, cinema, teatro, dança e música para todas as idades
A música lírica e sinfónica será uma aposta firme na nova programação, sendo marcada pelo regresso de grandes elencos de músicos e cantores em palco, mas também pela possibilidade de explorar as características únicas desta sala, como o fosso de orquestra. A 4 de março, a temporada inaugura com “Mátria”, uma peça de Fernando Lapa e libreto original de Eduarda Freitas, a partir dos “Contos” e “Novos Contos da Montanha” de Miguel Torga. “É uma ópera escrita em português, sendo a primeira criada em Trás-os-Montes. Estreou-se no ano passado em Vila Real, passou por Bragança e chega agora ao Porto, com dois coros e uma orquestra criada para o projeto. É uma história de esperança e de crença no futuro”, explica Mónica Guerreiro, presidente do Coliseu.
A 15 de abril, é a vez refletir sobre a vida e morte, o medo, a absolvição, a paz ou a incerteza com “Requiem”, de Giuseppe Verdi. Esta produção semi encenada junta 120 cantores e uma orquestra de 60 músicos, dirigidos pelo maestro José Manuel Pinheiro, numa “massa sonora” que promete impressionar. No Dia da Europa, comemorado a 9 de maio, o maestro António Victorino d’Almeida apresenta uma obra ambiciosa que pretende ser uma vénia à união, à tolerância e às tradições do espaço europeu. “Gaudeamus” é um ciclo de 30 canções originais, cantadas pela soprano portuense Ana Maria Pinto e interpretadas por uma orquestra de 14 elementos, onde cada canção é um poema dedicado a cada um dos 27 países da União Europeia. “Comecei este projeto há mais de 20 anos”, partilhou o maestro aos jornalistas, acrescentando que recuperar este trabalho numa sala como o Coliseu “é uma honra”.
“A Voz e a Alma” é o nome do espetáculo que junta a voz de Hélder Moutinho, a interpretação da atriz Maria João Luís e a poesia de João Monge. A 14 de abril, o fado e o teatro, mas também a poesia e a literatura portuguesa vão unir-se na tentativa de criar uma nova forma de expressão, onde a cenografia, a iluminação e a sonoplastia serão também protagonistas neste cruzamento disciplinar.
O teatro também irá ocupar o Coliseu a 21 de maio com a peça “O Lado Esquerdo”, de Marta Duque Vaz, e encenação Daniel Freitas. Trata-se de um monólogo interpretado pela atriz Sónia Valentim, um texto intimista que aborda temas como a perda, o amor ou a morte. Já o cinema chega a 30 de junho com “Heróis do Mar”, um filme concerto cuja música original, composta por Henrique Portovedo, será interpretada pela Orquestra Filarmónica Gafanhense. Precisamente 70 anos depois da estreia, esta longa metragem de Fernando Garcia renasce, a única cópia da película foi digitalizada e restaurada pela Cinemateca e pode ser vista no grande ecrã no palco do Coliseu.
À boleia do centenário do nascimento de Amália Rodrigues – prolongado desde 2020 devido à pandemia — Vasco Wellenkamp apresenta o bailado “Amar Amália”, a 22 de julho, onde a moção e a força dramática da voz da fadista são o pilar desta homenagem universal, que marca também o regresso da Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo ao Coliseu do Porto.
“Esta é uma sala monumental que muitas vezes assusta e intimida o público, pretendemos combater a simbologia sisuda e séria que pode ter o Coliseu, trazendo projetos que vão ao encontro de todos, num ambiente mais informal e através de práticas muito ativas de descontos de bilhetes”, sublinha Mónica Guerreiro, presidente do Coliseu, apresentando o eixo programático “Coliseu Descontraído”. Neste segmento reinam as visitas guiadas pelo edifício e o ciclo de Concertos Promenade, dirigidos pelo maestro Cesário Costa, pensados para toda a família e disponíveis ao domingo de manhã, o próximo é já no dia 20 de fevereiro.
“Quanto Mais Debates…” foi uma novidade em 2021 que regressa este ano com mais sete conversas moderadas pelo antigo jornalista Mário Cruz, onde a liberdade, a felicidade, a comunicação, a culpa, o medo, a família ou a saúde serão alguns dos temas discutidos a partir do dia 14 de março, numa tentativa de pensar em coletivo e encontrar novas vozes, principalmente aquelas que estão mais afastadas do debate público. Os encontros serão realizados quinzenalmente, pelas 19h, e o púbico pode participar presencialmente ou através da transmissão em diretor nas redes sociais do Coliseu.
Em 2022, o Coliseu do Porto irá continuar a colaborar com alguns festivais da cidade — DDD – Festival Dias da Dança, Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI), Festival Internacional de Marionetas do Porto (FIMP), o Porto/Post/Doc ou o Family Film Projetct – mas pela primeira vez irá colaborar também com o FalaDura – Festival de Palavras Ditas, o Trengo – Festival de Circo do Porto e o Porto Cello Festival. O Circo de Natal, de 8 de dezembro a 8 de janeiro, continua a ser “o projeto mais ambicioso” da agenda, que além da programação própria, faz-se também de concertos nacionais, como Capitão Fausto ou Moonspell, internacionais, como Skunk Anansie, Simple Minds ou Martinho da Vila, e ainda teatro musical, caso de “Chicago” ou “Quebra-Nozes”.