O ministério da Defesa ucraniano confirmou esta sexta-feira que foram registadas pelo menos 60 violações do cessar-fogo em vigor na região de Donbass, na Ucrânia, nas últimas 24 horas, que deixaram pelo menos um soldado ferido. É um sinal de que a tensão voltou a recrudescer em Donetsk e Lugansk, numa altura em que a Rússia mantém milhares de soldados perto da fronteira, e que leva os Estados Unidos a alertar para uma possível “encenação” por parte de Moscovo que justifique uma invasão.

Logo na manhã desta sexta-feira, os representantes dos separatistas pró-russos da região de Donetsk (apoiados por Moscovo) acusaram o exército ucraniano de ter atacado a aldeia de Petrivske, sob domínio dos rebeldes, esta madrugada. A Agência France-Press noticiou, por outro lado, que foram ouvidos bombardeamentos perto da cidade de Stanytsia Luganks, que está sob controlo do governo ucraniano.

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Alexander Pavlyuk, tenente-general do exército ucraniano, emitiu um comunicado a acusar os separatistas pró-russos de aumentar as “ações provocadoras” ao longo das últimas horas, com o objetivo de provocar a intervenção da Ucrânia e justificar assim uma invasão das forças russas. “Tudo isto é feito para provocar as Forças Armadas e levá-las a retaliar e depois acusá-las de genocídio”, afirmou.

Entretanto, as autoridades separatistas de Donetsk e Lugansk anunciaram que estão a ponderar evacuar a região de Donbass, em antecipação a uma possível escalada do conflito. A informação foi avançada pelo correspondente do Telegraph, Roland Oliphant, que cita o general ucraniano Valery Zaluzhniy. No Facebook, Zaluzhniy disse ter “informação dos territórios ocupados” sobre um possível plano de evacuação.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, reagiu pouco depois: “Aquilo que se está a passar em Donbass são notícias muito preocupantes e potencialmente muito perigosas”, afirmou Peskov.

Os EUA alertaram ao longo desta quinta-feira para a possibilidade de a Rússia provocar um incidente que funcione como pretexto para uma invasão militar à Ucrânia — à semelhança do que aconteceu em 2008, quando o Kremlin acusou as tropas georgianas de estarem a levar a cabo um genocídio na zona da Ossétia do Sul, justificando assim a sua intervenção militar na Geórgia.

A Ucrânia já reagiu e sublinhou que não tenciona atacar a região separatista. “Declaro oficialmente: as forças armadas da Ucrânia continuam a respeitar o Acordo de Minsk e as regras internacionais de Direito Humanitário e não planeiam nenhuma operação ofensiva ou o ataque a zonas de civis”, assegurou um dos comandantes militares do exército ucraniano.

“Risco baixo” de invasão ou aumento das forças na fronteira?

O aumento da tensão em Donbass ocorre no mesmo dia em que responsáveis ucranianos e norte-americanos voltam a ter discursos diferentes sobre a ameaça russa nas fronteiras ucranianas.

O ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, confirmou que a Rússia terá neste momento cerca de 149 mil tropas na fronteira, a que se devem juntar outros milhares nos próximos dias. Apesar disso, desvalorizou o risco de uma invasão.

Os nossos serviços de informação analisam cada movimentação que possa ser uma ameaça à Ucrânia. Estimamos a probabilidade de uma escalada de grande dimensão como baixa”, disse o ministro ao Parlamento ucraniano, citado pela AFP.

Poucas horas depois, o embaixador norte-americano na Organização pela Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), Michael Carpenter, fazia um comunicado onde revia o número de tropas russas estimadas na fronteira e colocava-o acima das 150 mil que têm vindo a ser referidas.

“Estimamos que a Rússia provavelmente tem entre 169 mil a 190 mil tropas perto e dentro da Ucrânia, face às cerca de 100 mil que ali estavam a 30 de janeiro”, disse.