Ao quinto dia da invasão, a Ucrânia e a Rússia sentaram-se à mesa. Depois de exigências de ambas as partes, o local que acabou por ser escolhido foi Gomel, uma cidade na fronteira com a Bielorrússia, numa das margens do rio Pripyat. Antes do encontro, o presidente ucraniano — que não esteve presente por motivos de segurança — assegurou em comunicado que o seu homólogo bielorrusso “assumiu a responsabilidade de garantir que todos os aviões, helicópteros e mísseis estacionados em território bielorrusso permanecem no solo durante a visita, conversações e regresso da delegação ucraniana”. Alexander Lukashenko garantiu todas as condições de segurança.
A delegação ucraniana chegou de helicóptero pouco depois das 9h00 da manhã (hora de Lisboa) a Gomel, onde a delegação russa já estava a aguardar desde o dia anterior. Foram seis os homens enviados por Volodymyr Zelensky, que pediu, no mesmo comunicado, um “cessar-fogo imediato e a retirada das tropas russas de solo ucraniano”.
Do lado russo, foram cinco os homens enviados por Putin. Sentaram-se frente a frente numa mesa dividida a meio por uma pequena bandeira de cada país.
As negociações terminaram por volta das 16h30 (hora de Lisboa), mas haverá uma segunda ronda de negociações, ainda sem data marcada. Os representantes de cada delegação vão agora voltar para Kiev e Moscovo para discutirem os termos das negociações. Mas quem são os enviados de Putin e Zelensky para tentar a paz na Ucrânia?
Quem pertence à delegação da Rússia?
1 Leonid Slutsky, presidente da comissão de assuntos externos do parlamento russo. É o responsável pela delegação enviada por Putin e membro do Partido Liberal Democrata da Rússia. Em março de 2018, viu-se envolvido num escândalo sexual, quando quatro jornalistas russas o acusaram de assédio sexual — duas prestaram depoimentos à comissão de ética da Duma (nome oficial do parlamento russo), que decidiu absolvê-lo. Slutsky, que agora se senta à mesa das negociações de paz com a delegação ucraniana, foi citado pela agência de notícias russa a garantir: “Não pretendemos dar início a nenhuma guerra. Não vamos invadir a Ucrânia, como estamos a ser acusados na própria Ucrânia e não só”. Horas depois, Putin anunciou a sua “operação especial” rumo a Kiev.
2 Vladimir Medinsky, conselheiro de Putin. Foi ministro da Cultura entre 2012 e 2020. Escreveu três teses de doutoramento relacionadas com Ciência Política — foi acusado por um grupo de académicos e jornalistas de plágio em relação às duas primeiras. É membro do partido político Rússia Unida. Numa das suas intervenções mais recentes, o conselheiro do presidente russo disse que “o Estado moderno a que normalmente chamamos Ucrânia é um fantasma histórico construído como consequência de decisões táticas de políticos em circunstâncias específicas.”
3 Andrey Rudenko, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo. Neste cargo, Rudenko é responsável pelas relações com a Abkhazia, uma república que se declara independente, no norte da Geórgia — é reconhecida internacionalmente por apenas quatro países, sendo a Rússia um deles — e pelas relações com Tskhinvali, a capital da região georgiana da Ossétia do Sul, reconhecida por Moscovo como Estado independente após a guerra russo-georgiana.
4 Alexander Fomin, ministro da Defesa russo. Nas semanas que antecederam a invasão da Ucrânia, o ministro supervisionou uma série de exercícios que serviram para avaliar o estado de prontidão das forças de Moscovo e garantir a “estabilidade” junto à fronteira da Rússia. Formado em 1984 pela Universidade Militar do Ministério da Defesa Russo, Fomin cumpriu serviço militar entre 1977 e 1993. Em 2017, foi promovido ao cargo de ministro.
5 Boris Gryzlov, embaixador russo para a Bielorrússia. Foi presidente do Rússia Unida, o partido do presidente Vladimir Putin, de quem é um aliado próximo, de 23 de novembro de 2004 a 7 de maio de 2008. Foi presidente da Duma entre 2003 e 2011.
Quem pertence à delegação da Ucrânia?
1 Mykhailo Podoliyak, conselheiro da presidência ucraniana. É quem lidera a delegação enviada pela Ucrânia a par com o ministro da Defesa, Oleksiy Reznikov. Ao final do dia de encontro, disse no Twitter que as “negociações estão difíceis”, porém já sem qualquer “ultimato”, e criticou o “lado russo” que “continua extremamente enviesado” no que diz respeito ao “processo destrutivo” que foi levado a cabo contra a Ucrânia.
2 Davyd Arakhamia, dirigente do partido Servos do Povo. De boné na mesa das negociações, no ano passado ficou em 6.º lugar entre os 100 ucranianos mais influentes, de acordo com a revista Focus. Tem 42 anos e foi eleito em 2019 para o parlamento ucraniano.
3 Oleksiy Reznikov, ministro da Defesa ucraniano. O cargo é recente: a pasta da Defesa foi-lhe atribuída em novembro de 2021, há apenas quatro meses. Anteriormente, ocupou outros cargos no governo da Ucrânia, como por exemplo ministro da Reintegração dos Territórios Ocupados Temporariamente da Ucrânia.
4 Mykola Tochytskyi, embaixador extraordinário junto da Bélgica e do Luxemburgo. É o responsável pela missão diplomática da Ucrânia junto da União Europeia e da Comunidade Europeia da Energia Atómica, sediada em Bruxelas, Bélgica. Ocupa este cargo diplomático desde 2016.
5 Rustem Umerov, deputado do parlamento ucraniano. Antes de entrar na vida política, foi CEO de uma empresa especializada em comunicações. Enquanto deputado, foi coautor de quase 100 projetos de lei, segundo se pode ver no site do parlamento ucraniano.
6 Andriy Kostin, vice-chefe do Grupo de Contacto Trilateral sobre a Ucrânia, um grupo de representantes da Ucrânia, da Rússia e da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, formado para facilitar uma solução diplomática para a guerra na região de Donbass na Ucrânia. Embora não seja possível identificá-lo nas fotografias disponíveis, o seu nome consta na lista oficial de membros da delegação divulgada pelo governo ucraniano (não fica claro se é quem se sentou ao lado de Rustem Umerov ou se seria um outro elemento da comitiva, que se sentou ao lado de Mykhailo Podoliyak, fora do enquadramento da imagem).
[Artigo corrigido às 15h00 de 2 de março de 2022 com a informação de que Andrey Rudenko é vice- ministro dos Negócios Estrangeiros russo e não ministro, como estava inicialmente escrito]