Ao quarto dia da invasão Rússia à Ucrânia, Marcelo Rebelo de Sousa e Volodymyr Zelensky falaram ao telefone, o Presidente ucraniano agradeceu o apoio no Twitter e, nessa mesma publicação, o comunista Miguel Tiago deixava um comentário: “Not in my name” (“Não em meu nome”, em português).

As palavras foram apagadas minutos depois e o ex-deputado justifica-o, em declarações ao Observador,  com o facto de não ter parado de receber “ameaças” e de ter sido “ofendido” nas redes sociais. Ainda assim, Miguel Tiago argumenta que mantém a opinião, sendo contra as medidas que têm vindo a ser tomadas para punir a Rússia (e que Zelensky referiu que o Presidente da República apoia): “Não quero que vão armas, nem sanções, nem o bloqueio do espaço aéreo em meu nome.”

O ex-deputado reitera a ideia de que o PCP defende uma “resolução pacífica” do conflito e que, aos olhos dos comunistas, isso “implicaria a União Europeia estar apostada na mediação do conflito, ao invés de armar uma das partes, de mandar armas para civis que não têm treino militar, de estar a condená-los à morte contra um exército poderosíssimo que é o russo, de estar a provocar mais baixas”.

Na mesma linha, Miguel Tiago insiste mesmo que bloquear o espaço aéreo ou as transações financeiras “não resolverá absolutamente nada” e “acicata a guerra”. “O que devíamos defender ao máximo era sentarmo-nos e estimularmos as partes a discutir, comprometermo-nos com sermos observadores, como de certa forma até fizemos em 2014”, realça, recordando a “disponibilidade” de que França e Inglaterra mostraram para ser “observadores no tratado de Minsk”.

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Miguel Tiago critica a solução encontrada pelos países ocidentais, frisando que “quem vai pagar as sanções são os povos” e os ricos e bilionários não vão sofrer com isso”. “Nós próprios, portugueses, vamos pagar as sanções que estamos a fazer aos russos, vai-nos fazer muito mais mal a nós ficar com a energia mais cara do que a eles”, afirma, frisando que não foram as sanções a antecipar as negociações.

Quem não queria negociar era a Ucrânia e, afinal, já aceitou, não foi a Rússia. A Rússia estava a pedir para negociar desde o primeiro dia e a Ucrânia rejeitou por ser na Bielorrússia. Mas já aceitaram, não tem nenhuma relação com as sanções”, refere, enquanto recusa que se descontextualize a situação.

Miguel Tiago acredita que se fosse dito que era “tudo um devaneio dos russos e do Putin” haveria uma “contribuição para o escalar ainda mais a guerra, porque fica implícito que estamos a apelar à NATO e à UE que venham para a guerra resolver”. “Aliás, se ilibamos a NATO de tudo o que se passou até aqui, o que acontece que é o que vimos nestas manifestações, que é ‘NATO, por favor, venham’. Isso seria o descalabro para todos nós”, insiste, acrescentando que “nenhum português, nenhum ucraniano, nenhum russo, ninguém no mundo ganharia com a NATO a vir lançar bombas fosse onde fosse”.