Uma campanha solidária em Portugal recolheu dezenas de milhares de livros e manuais escolares que aguardam luz verde para serem enviados para o município moçambicano de Dondo, onde será entregue “um livro a cada criança”.
“Nunca sabemos bem quantos livros recolhemos, nunca temos um número exato, mas diria que, neste momento, podemos dizer que recolhemos mais do dobro dos livros necessários. Livros, manuais escolares e outro material”, disse à Lusa o presidente da organização não-governamental Karingana Wa Karingana, João Proença.
A campanha de recolha decorreu ao longo dos últimos meses de 2021, com o apoio da Associação Nacional de Freguesias (Anafre), da Liga Portuguesa de Bombeiros e dos CTT, e desde o início do ano o material recolhido esteve a ser separado e empacotado para ser posteriormente enviado num contentor para o município, que fica a cerca de 30 quilómetros da cidade da Beira, na província de Sofala.
Apadrinhada pelo músico Luís Represas, a campanha visa doar um livro a cada criança no município de Dondo, que tem 19 escolas e mais de 30.000 crianças em idade escolar, disse João Proença.
Além dos livros e manuais a entregar aos alunos, a Karingana recolheu também livros suficientes para oferecer 30 pequenas bibliotecas — com 200 a 300 livros cada, a cada uma das 19 escolas, ao Conselho Municipal de Dondo e aos 10 bairros do município, ao centro de Saúde, ao governo distrital, bem como à universidade e hospital da Beira, explicou o responsável.
Será ainda enviado para Moçambique material para os professores, bem como material escolar e entre 600 e 700 brinquedos.
Sobre a data prevista para o envio do contentor, João Proença explicou que a Karingana pediu ao Governo moçambicano isenção de direitos aduaneiros para poder entregar o material recolhido, mas até agora não obteve respostas.
“Estamos a aguardar a resposta, portanto agora vamos insistir e, logo que recebermos a resposta, o contentor embarca e vamos lá entregar”, disse, explicando que o material será entregue diretamente a cada escola, ao município e a cada bairro.
O presidente da organização justificou o atraso na resposta com a pandemia de Covid-19 e com o facto de o ano letivo em Moçambique só começar normalmente em fevereiro, mas mostrou-se confiante de que a autorização chegará. “Isso sempre aconteceu… essa isenção de direitos”, afirmou.
“O contentor vai ser entregue, vai ser enviado e espero que nos próximos dois meses ou coisa do género chegue à Beira”, estimou.
João Proença acrescentou que, depois de concluído este projeto, a Karingana quer “começar a discutir um projeto de maior âmbito envolvendo todo o distrito de Dondo.
A organização Karingana Wa Karingana, expressão que equivale ao português “Era uma vez”, foi criada em 2010 por personalidades, empresas e associações portuguesas para promover ações de apoio, solidariedade, cooperação e desenvolvimento com os povos de língua portuguesa.
Desde que foi criada, a associação já entregou em Moçambique, Timor-Leste, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, bem como a comunidades portuguesas emigrantes, mais de 300.000 livros, diz a organização.