Um, mais um. Outro, mais outro. O número de desportistas já retirados ou ainda no ativo que decidiram juntar-se às forças ucranianas para combater a invasão da Rússia foi aumentando ao longo dos últimos dias mas este terça-feira surgiram as confirmações das três primeiras baixas, entre dois futebolistas e um atleta do biatlo que era uma grande promessa da modalidade. Entre campeões olímpicos, mundiais e europeus, do boxe ao MMA passando pelo futebol ou pelo biatlo, são vários os nomes que decidiram ficar em solo ucraniano para ajudarem as forças nacionais, sendo que dois deles, os irmãos Klitschko, farão mesmo parte de uma lista negra de 23 elementos que Vladimir Putin tenta eliminar de forma cirúrgica.

  • Yevhen Malyshev. O jovem atleta de 20 anos era uma das grandes promessas do biatlo da Ucrânia e estava a terminar o serviço militar que começara há dois anos, entretanto interrompido pelas provas internacionais que ia fazendo pela seleção júnior. Estava a combater em Kharkiv desde o início da invasão russa mas na semana passada tinha como único foco continuar a crescer na modalidade para chegar aos Jogos Olímpicos de Inverno de 2026. “Cantamos profundamente à pátria, aos amigos e aos seus familiares. Memória eterna”, recordou a Federação de Biatlo da Ucrânia.

  • Vitalii Sapylo. Era jogador na equipa B do Karpaty Lviv, tinha 20 anos e estava a combater numa zona perto de Kiev. De acordo com o clube, terá morrido na passada sexta-feira “na sequência dos combates com as forças russas enquanto defendia a capital do país”. “Serás para sempre recordado como um eterno herói”, escreveu o Karpaty Lviv sobre o jovem jogador ucraniano.

  • Dmytro Martynenko. Dima, como também era conhecido, era um avançado de 25 anos que estava agora no modesto FK Hostomel depois de ter sido considerado o melhor jogador e marcador do segundo escalão de Kiev-Svyatoshinskyi. O jogador amador morreu com a mãe em casa na sequência de um bombardeamento das forças russas que se encontravam perto de Kiev. A notícia começou a circular nas redes sociais e foi confirmada pela Federação de Futebol de Kiev-Svyatoshinskyi.

  • Wladimir e Vitali Klitschko. Os irmãos Klitschko são provavelmente os dois desportistas, ou neste caso ex-desportistas, mais mediáticos a lutar pela Ucrânia – e de acordo com o The Times, fazem parte dos 23 nomes que Vladimir Putin tem na lista negra para eliminar de forma cirúrgica pelos mais de 400 os elementos da força especial Wagner Group que se encontra na zona de Kiev. Vitali, o mais velho (50 anos), foi campeão do mundo de pesos pesados no boxe e tornou-se presidente da cidade de Kiev em 2014; Wladimir, cinco anos mais novo, sagrou-se também campeão mundial de pesos pesados num currículo ainda mais extenso do que o irmão onde se inclui ainda uma medalha de ouro nos Jogos Olímpico, tendo passado por Lisboa em 2019 durante o Web Summit. O pai de ambos, Vladimir, foi um antigo general da Força Aérea destacado para “limpar” os efeitos do desastre nuclear de Chernobyl.

  • Georgii Zantaraia. O judoca de 34 anos que terminou a carreira em 2020 e que passou pelo Sporting entre 2016 e 2018 com a também ucraniana Daria Bilodid, fazendo parte da equipa leonina que ganhou pela primeira vez a Liga dos Campeões, publicou uma mensagem nas redes sociais onde mostrava uma AK47 e dizia estar em Kiev para lutar “até ao fim”. Zantaraia foi um dos melhores judocas em -66kg da última década, tendo sido campeão mundial e tricampeão europeu.

  • Vasiliy Lomachenko. O pugilista de 34 anos também conhecido como The Matrix conseguiu ainda sair da Ucrânia depois da invasão russa, foi para a Grécia mas decidiu voltar para o seu país e para Odessa para proteger a família e juntar-se ao exército, como mostrou numa imagem publicada nas redes sociais. Lomachenko, que depois de uma lesão complicada em 2020 voltou com dois triunfos, é bicampeão olímpico (2008 e 2012), bicampeão mundial (2009 e 2011) e campeão europeu (2008).

  • Oleksandr Usyk. O também pugilista de 35 anos, que é um dos melhores amigos de Lomachenko, também decidiu juntar-se às forças do Exército ucraniano no terreno no início da semana. É outro dos atletas com maior currículo no país e na modalidade, tendo ganho uma medalha de ouro em Jogos Olímpicos, uma em Mundiais e outra em Europeus, tendo a particularidade de, enquanto atleta profissional, nunca ter perdido qualquer combate onde entrou (19 vitórias, 13 por K.O.). Usyk é o atual campeão unificado de pesos pesados e detém três dos quatro títulos reconhecidos.

  • Yaroslav Amosov. O atual campeão de pesos médios do MMA, que antes somara vários títulos mundiais de sambo, saiu do país para garantir que a família ficava numa zona segura e voltou depois à. Ucrânia para combater. “Provavelmente muitos achariam que estava a fugir ou que me tinha escondido mas não, não foi isso. Levei a minha família para outro local e agora voltei para defender o meu país o melhor que sei com o que tenho. Amo o meu país. A Rússia vai a nossa casa para começar uma guerra. Há muitas pessoas a morrer, civis, mulheres e crianças”, disse o atleta de 28 anos.

  • Oleh Luzhnyi. O antigo lateral direito ucraniano de 53 anos, que enquanto jogador se destacou no Dínamo Kiev e no Arsenal onde ganhou a Premier League, explicou à Sky Sports através do WhatsApp que vai congelar a carreira de treinador para ajudar o exército ucraniano no combate às forças russas. Depois de vários anos como adjunto, o técnico pensava voltava a Inglaterra para trabalhar. “A situação aqui é horrível. Quero treinar em Inglaterra mas antes tenho de me manter firme e lutar pelo meu povo, pelo meu país e pela democracia”, destacou o antigo internacional e capitão ucraniano.

  • Dmytro Pidruchnyi. O atleta de 30 anos do biatlo esteve no último mês nos Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim, onde acabou em 13.º no sprint e na estafeta mista e em 18.º na prova individual, mas está agora ao serviço da Guarda Nacional ucraniana na cidade onde nasceu, Ternopil. “Agradeço a todos aqueles que enviaram mensagens e preocupações pela minha família e a todos os que ajudam e apoiam a Ucrânia”, anunciou numa mensagem publicada durante um alarme por ataque aéreo.

  • Yuriy Vernydub. O treinador de 56 anos, que enquanto jogador fez grande parte da carreira em equipas da Rússia, foi uma das grandes sensações na presente época no futebol europeu ao liderar o surpreendente Sheriff, clube da Moldávia, numa estreia de sonho na Liga dos Campeões onde acabou no terceiro lugar do grupo mas conseguiu ganhar no Santiago Bernabéu ao Real Madrid. Na quinta-feira orientou o conjunto de Tiraspol em Braga, voltou e rumou à Ucrânia para combater.

  • Dmytro Mazurchuk. O jovem atleta de 23 anos fez a estreia no último mês nos Jogos Olímpicos de Inverno no esqui e no combinado, depois de participações em Mundiais e Taças do Mundo sempre com resultados em crescendo, e decidiu juntar-se a Dmytro Pidruchnyi na luta que está a ser feita pelas forças ucranianas em Ternopil, abdicando das restantes provas internacionais da época.

  • Sergiy Stakhovsky. O tenista de 36 anos, que tinha decidido no início do ano colocar um ponto final na carreira de quase duas décadas após a derrota no Open da Austrália (tendo ganho quatro títulos nesse percurso), juntou-se às forças militares da Ucrânia após deixar a família na Hungria. “Sei como usar uma arma. Se for preciso, vou usá-la mas espero não ter de usar uma arma de fogo. Não tenho certeza de como cheguei. Sei que é muito difícil para a minha mulher e para os meus filho. Eles não entendem a guerra e são demasiados pequenos para entender o que está a acontecer”, explicou.

  • Svyatik Artemenko. O guarda-redes de 22 anos que nasceu na Ucrânia mas rumou apenas com dois anos para o Canadá, onde se tornou jogador profissional de futebol, teve uma das histórias mais impressionantes entre todos os desportistas que se encontram a combater no país: chegou ao país a 29 de janeiro, fez um período à experiência no FC Podylla, equipa de Khmelnytskyi do segundo escalão, convenceu os responsáveis e assinou contrato na véspera da invasão russa. Perante o que acontecera, Artemenko decidiu alistar-se no exército e está agora na cidade de Odesa.

  • Vladyslav Heraskevych. O atleta de 23 anos que representou a Ucrânia nos Jogos Olímpicos de Inverno na modalidade de skeleton, onde tinha conseguido entrar no top 10 no último Campeonato da Europa no início do ano, voltou de Pequim para a Ucrânia no dia 15 (ficando reconhecido pela imagem que deixou para as câmaras pedindo para que não houvesse guerra), deslocou-se depois para casa do pai numa zona perto de Kiev e reforçou entretanto as forças de combate ucranianas. “Vi as explosões logo no primeiro dia, quando começou. Foi assustador… Percebes o que é mas ao mesmo tempo não perceber o que está a acontecer. Não dá para acreditar. Estou pronto para defender a cidade com uma arma nas mãos. Não tenho grande experiências mas posso ajudar noutras coisas”, referiu.

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