Cerca de 50.000 nepaleses terão entrado em Portugal nos últimos anos, segundo a Comunidade Hindu de Portugal, à qual muitos acorrem à procura de ajuda, face à situação ilegal em que se encontram.

“Esta nova vaga [de imigração] começou há três, quatro anos. São hindus, mas a maioria veio do Nepal. As estatísticas, os números oficiais através do Consulado Nepalês, do Alto Comissariado para as Migrações e as embaixadas, indicam que só do Nepal entraram em Portugal cerca de 50.000 pessoas”, disse à agência Lusa Ajit Hansraj, ex-vice-presidente da Comunidade Hindu de Portugal, uma das que mais tem crescido.

De acordo com Ajit Hansraj, que recentemente passou o testemunho à nova direção, 99% dos cidadãos oriundos do Nepal são hindus e chegam à Comunidade por via da religião.

“O que os atrai aqui é a parte espiritual. Vêm para o templo e temos visto todos os dias um crescimento no fluxo de pessoas”, afirmou.

A Comunidade estima que a diáspora indiana em Portugal ronde as 200.000 pessoas. “Mas os hindus têm vindo de toda a parte, não só da índia. Têm vindo ultimamente do Bangladesh, do Butão, por exemplo, de várias partes do mundo, mas especialmente do sul da Ásia”, precisou.

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No complexo em que se insere o templo Radha Krishna, em Lisboa, encaminham-se pedidos de ajuda e faculta-se formação em várias áreas, tendo em vista a integração de imigrantes de diferentes nacionalidades e habilitações literárias. Aulas de português, de informática, cabeleireiro, estética, massagens e máquinas para costura, estão entre as valências disponibilizadas.

“Têm entrado em contacto connosco para ver se podemos ajudar de uma forma ou de outra”, contou Hansraj, admitindo que quem está em situação ilegal no país teme ser expatriado: “Daí que nos têm abordado a nós, não há aqui situações de denúncias, estamos aqui genuinamente para ajudá-los”.

O crescimento da comunidade fez que com a religião hindu tenha conquistado no último censo um estatuto independente nos formulários do Instituto Nacional de Estatística e abandonado a categoria “outras religiões”. O mesmo se passou com os budistas, que hoje figuram ao lado das confissões religiosas tidas como maioritárias na sociedade portuguesa.

Apesar da distância, física e cultural, Ajit Hansraj atribui à História de Portugal e à proximidade com a Índia, a imigração de países como o Nepal ou o Bangladesh.

Na opinião de Hansraj, Portugal tem sido um país acolhedor, tem um défice de população e precisa de fazer face à falta de mão de obra em vários setores: “Procuram Portugal porque acham que têm uma oportunidade de terem uma melhor qualidade de vida, porque o que sofrem nos países deles…”.

O ex-vice-presidente está convicto de que a comunidade hindu é a que mais cresceu em Portugal nos últimos anos, apesar de as estatísticas a colocarem “em segundo lugar”, referiu.

As atividades têm estado condionadas devido às restrições impostas pelo controlo da pandemia de Covid-19, mas em dias de celebrações religiosas importantes no calendário hindu, milhares de pessoas acorrem ao templo. “Agora nestas aberturas, mais de mil, 3.000 pessoas circulam num dia”, indicou.

O templo abriu-se também a visitas de estudo e recebe cerca de 1.500 crianças por ano das escolas portuguesas, de norte a sul do país, contou à Lusa a vogal com o pelouro da cultura, Jigná Bhanji. “Visitam o templo, a cantina, o espaço todo. Está a ter muita adesão”.

As aulas de ioga, que Jigná define como “um desporto universal” atraem pessoas de todas as culturas.

“Queremos dinamizar a nossa cultura aqui em Portugal. Antigamente as pessoas sabiam muito pouco da cultura indiana. Hoje as pessoas procuram. Procuram como se põe o sari — o nosso traje -, como são as nossas danças. Aliás, festa indiana em que não há dança, não há cor, não é festa indiana”, atestou.

Para celebrar a chegada da primavera, está em preparação o tradicional Festival das Cores que por esta altura do ano se realiza na índia. No próximo domingo, no espaço exterior do templo, haverá ioga, música, artesanato, roupas e acessórios e comida indiana. Quem quiser entrar no espírito da festa, deve chegar de branco para sair tingido de cor.