Uma testemunha declarou esta quinta-feira no julgamento dos “hammerskins”  que foi agredida, em 2015, num bar do Bairro Alto, com socos, pontapés e o arremesso de uma garrafa que o atingiu na cabeça, necessitando de intervenção hospitalar.

Hugo Leal, 41 anos, pasteleiro de profissão, referiu que estava sentado no bar com a sua namorada quando um grupo de quatro “hammerskins” o agrediu, após ter recusado um convite, que considerou provocatório, para se sentar na mesa deles ou ir conversar para o exterior.

A testemunha, que foi mais tarde suturada com vários pontos na cabeça no hospital, acompanhado por dois polícias que tomaram conta da ocorrência, diz ter identificado três dos agressores, um dos quais pela internet, nomeadamente o autor da agressão com a garrafa, que referiu chamar-se “Alexandre”.

Perante o coletivo presidido por Noé Bettencourt, a testemunha identificou o arguido Ivo Valério como um dos agressores presente, mas não terá reconhecido esta quinta-feira em tribunal um dos arguidos presentes e que tem como primeiro nome Alexandre.

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Hugo Leal disse estar convicto de que os insultos e agressões de que foi alvo se prenderem com o facto de anteriormente ter tido uma relação amorosa com Sandra que era namorada de Claúdio Cerejeira, referenciado como antigo membro dos “hammerskins” e que é um dos 27 arguidos deste processo em julgamento.

Disse que um dos agressores — Ivo Valério — é amigo e companheiro de grupo de Cláudio Valério, que, vincou, não estava no local do incidente.

No seguimento da confusão que se gerou no bar, relatou a testemunha, houve “cadeiras e garrafas pelo ar”, tendo sido agredido no chão com pontapés, antes de se levantar e colocar-se por trás do balcão do bar, onde foi atingido com uma garrafa.

Hugo Leal disse que já conhecia o grupo em causa de vista do Bairro Alto e do Caís do Sodré, por andarem sempre juntos, mas que só teve a confirmação que todos eles eram “hammerskins” após consultar e pesquisar os seus perfis na internet e Facebook, onde aparecem juntos em fotografias e com alusões ao movimento radical de extrema-direita.

A testemunha disse ter ficado também com “nódoas negras” junto das costelas, fruto dos pontapés que levou quando foi atirado para o chão do bar.

Neste julgamento, 27 arguidos conotados com o movimento “hammerskin” — grupo que defende a superioridade da raça branca — estão a ser julgados por discriminação racial e sexual, tentativa de homicídio, ofensas corporais, incitamento à violência, tráfico de droga e posse de arma proibida.

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Os crimes verificaram-se na zona da Grande Lisboa e incidiram em pessoas negras, homossexuais, imigrantes e militantes comunistas.

O processo em julgamento tem 24 volumes, 5.800 páginas e 88 apensos.

O grupo foi desmantelado numa operação da PJ, em 2016, então liderada por Luís Neves, atual diretor nacional daquela polícia.