Foi de azul e amarelo que Cláudia Azevedo, presidente executiva da Sonae, surgiu na conferência de imprensa na qual apresentou os resultados de 2021, ano que disse ter sido “duro e difícil”, ainda a propósito dos efeitos da pandemia. “2021 começou de forma trágica em Portugal”, lembrando as ambulâncias que faziam fila à porta dos hospitais por causa dos casos de Covid-19. No segundo trimestre melhorou “um pouco” e nos terceiro e quarto trimestres “aconteceram outros impactos macro económicos”, com dificuldades de transporte e com os preços da energia já a subir. “Ao nível das nossas lojas nada disto afetou. Continuámos a ter produtos nas prateleiras, ninguém sentiu falta [de produtos], mas tivemos de o fazer com mais engenho e criatividade”, realçou a CEO que chegou a esse cargo em 2019.

Desde que chegou à liderança da Sonae, Cláudia Azevedo promoveu uma reformulação do portfólio da empresa e dos seus valores.

Três anos depois de chegar à liderança da Sonae, Cláudia Azevedo muda quase tudo

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Nesta conferência de imprensa, Cláudia Azevedo realçou “o orgulho enorme do nosso legado e do nosso propósito. O propósito não muda, mas faz parte da nossa missão olhar para o futuro”, e por isso a reformulação dos valores, reforçando: “festejamos o nosso legado e viramo-nos para o futuro”. Para a CEO da Sonae, que tem um total de 47 mil colaboradores e realizou vendas superiores a 7 mil milhões de euros (pela primeira vez, em resultado de uma subida de 5,3%), um dos valores é fazer “o que está certo”, o que “implica as empresas fazerem muito mais do que faziam antigamente”.

Cláudia Azevedo fala no que dá aos trabalhadores, mas também à sociedade. E o trabalho que faz no país. Um dos exemplos é o que tem feito junto dos agricultores para a produção de trigo em Portugal. João Günther Amaral, administrador da Sonae, concretizou que a promoção da produção nacional de trigo e a valorização das searas já permitiu que 100% do trigo utilizado nas padarias do Continente seja nacional. Trabalha com 26 produtores nacionais que têm 1500 hectares de searas no Alentejo. Este foi um projeto “muito interessante da MC com o seu clube de produtores. São projetos que demoram alguns anos a fazer. É um desafio também voltarmos a produzir outros cereais”.

A Sonae garante que ao longo da vida teve de se ir adaptando aos vários ciclos económicos “e soubemos sempre dar a resposta”, tendo, no entanto, de se adaptar à subida de custos. “Tem sido a nossa vida nos últimos 36 anos”. Mas não antecipa falta de produtos nas prateleiras. “Não temos nenhum sinal de que isso possa acontecer. Pode faltar de vez em quando um produto, como aconteceu nos dois últimos anos, mas não falhou praticamente nada”. Assume, no entanto, que se não conseguir comprar num lado vai sempre procurar as alternativas. Mas não falta nada neste momento.

Admite, no entanto, que “toda a cadeia de valor tem de absorver choques”, quando questionada sobre as negociações com os fornecedores. “Temos de ser todos mais racionais e não pode passar tudo para o consumidor final, nem passar”. E promete mesmo fazer tudo para reduzir “ao máximo” o impacto do aumento dos custos para os consumidores.

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Mas houve condicionamentos na venda de óleo de girassol, mas Cláudia Azevedo recusou-se a chamar racionamento. “Temos muito óleo girassol nos armazéns, não quisemos que por causa de alguma notícia comprarem mais do que precisam. É mais moldar a procura”, explica a limitação que foi estabelecida nas vendas destes produtos no último fim de semana.

A Sonae teve mais de 7 mil milhões de euros de receitas e superior em lucros o valor de 2019. Os resultados atingiram os 268 milhões de euros. O investimento agregado atingiu os 1.200 milhões, sendo 474 milhões os investimentos em negócios que consolidam integralmente. A dívida líquida foi reduzida para 563 milhões, “um valor historicamente baixo”, sinalizou João Dolores, administrador da Sonae.

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Isto depois de uma série de vendas de participações, que também ajudaram aos resultados.

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