O painel no Web Summit era sobre a força mental e o caminho para Tóquio-2020 mas, mal desceu daquele palco onde esteve com o também medalhado olímpico Fernando Pimenta, as atenções de Patrícia Mamona já tinham passado do Japão para França, mais concretamente para Paris. “Já estou super motivada para 2024 porque o que fiz não chega, quero sempre mais e melhor”, destacou. A atleta portuguesa tinha uns meses antes saltado pela primeira vez acima dos 15 metros, superara em mais de 30 centímetros aquele que era o seu recorde nacional e que tinha demorado antes cinco anos para aumentar num centímetro, mas nem isso era suficiente para a vice-campeã olímpica. Agora chegavam os Mundiais de Pista Coberta.

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“Estou sempre à procura de mais e melhor. Sinto que melhorei muito a minha parte mental, para conciliar com o meu estado de forma. Resultou para mim e fui muito feliz nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Estas competições intercalares, como Mundiais e Europeus, fazem parte da preparação para os Jogos. Tenho de pensar no que é mais importante a cada momento para depois, quando começarem as competições, competir a alto nível e conseguir os objetivos. Paris-2024 vai fazer-se assim, construindo, aos bocadinhos, para no dia, à hora certa, estar no meu pico de forma. Em 2022 tenho os Mundiais, que são uma prova muito importante para mim, até porque nunca consegui uma medalha nessas competições”, frisara.

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Aos 33 anos, Patrícia Mamona já tinha sido campeã (2016) e vice-campeã (2021) europeia ao Ar Livre, já tinha sido campeã (2021) e vice-campeã (2017) europeia em Pista Coberta e conseguiu no ano passado a tão ambicionada medalha olímpica. Faltava um pódio em Mundiais, sendo que este ano realizam-se os dois ainda como reflexo da pandemia. Em paralelo, era também esse pódio que fazia com que esta prova em Belgrado se tornasse a melhor participação de sempre nacional em Mundiais de Pista Coberta, depois da medalha de ouro de Auriol Dongmo no peso e a prata de Pedro Pablo Pichardo no triplo salto.

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“Paris deu-me uma experiência diferente. Queixei-me muito e a pista era esquisita. O facto de, em condições muito difíceis, ter conseguido um salto nos 14 metros e ganhar o meeting dá-me certamente alguma confiança para Belgrado, que é uma pista que também não gosto muito, mas não me vai impedir de saltar muito”, comentara à partida de Lisboa, recordando o salto de 14,17 antes de ter ganho no Nacional de Clubes com 13,77. E a concorrência prometia potenciar essas marcas, tendo em conta que todas as melhores do ranking mundial à exceção da jamaicana Shanieka Ricketts estavam em Belgrado incluindo Yulimar Rojas, Kimberly Williams, Ana Peleteiro, Hanna Minenko ou Liadagmis Povea entre algumas surpresas no início de temporada Thea Lafond ou Maryna Bekh-Romanchuk.

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Esse tem sido um dos maiores méritos de Patrícia Mamona: não só consegue resultados como os mesmos surgem num contexto competitivo como talvez o triplo salto feminino nunca tenha visto antes. E bastou a primeira ronda para se perceber o nível que a prova reunia, com a portuguesa a fazer a sua melhor marca do ano logo a abrir com 14,27 mas a não passar da sexta posição no final da ronda inicial.

Yulimar Rojas, venezuelana que domina (e vai dominar) por completo a especialidade nos próximos anos, começou com um 15,19 ainda muito longe do que poderia fazer tendo em conta a parte técnica do salto, sendo seguida pela jamaicana Kimberly Williams (14,57) e Thea Lafond (14,53). Ana Peleteiro, que foi bronze em Tóquio, abriu com 14,30 e Maryna Bekh-Romanchuk fez 14,28, ambas à frente da portuguesa. Logo aí ficava uma garantia: para poder conseguir a primeira medalha em Mundiais, Patrícia teria de quebrar o seu recorde nacional em Pista Coberta conseguido na vitória dos últimos Europeus (14,53).

O segundo salto ficou pelos 14,24 e, à entrada para a terceira tentativa, a portuguesa descia para o limite do “corte” com o 14,37 da cubana Liadagmis Povea e o 14,35 da americana Keturah Orji. Estava dentro das qualificadas mas no limite. Foi aí que, mais uma vez, Patrícia Mamona mostrou como trata a pressão: fez 14,42, melhorou a sua marca máxima do ano e saltou para o quarto lugar do concurso, a 12 centímetros do bronze e de um novo recorde nacional em Pista Coberta. Neja Filipic, Leyanis Pérez-Hernández e Hanna Minenko, três atletas que poderiam estar na luta do top 8, ficaram fora dos últimos três saltos.

Surgia então uma espécie de última barreira para a portuguesa, que entretanto descera para o sexto lugar com Povea a chegar aos 14,45 e Orji a igualar os 14,42 mas com uma segunda melhor marca mais alta. Era altura de arriscar tudo, a pensar apenas na marca de Torun em 2021 e não na posição em que poderia ficar no final da prova do triplo salto. Foram esses riscos assumidos que levaram a que tivesse dois ensaios nulos na quarta e quinta tentativas antes de um último ensaio com a fasquia ainda mais alta após a ucraniana Maryna Bekh-Romanchuk ter feito uns fabulosos 14,74 que a colocaram na segunda posição (um quase “ouro”, tendo em conta que Rojas já saltava a 15,36 e está num outro patamar). E Patrícia Mamona fechou a final dos Mundiais de Pista Coberta sem melhorar, igualando os 14,42 e terminando no sexto lugar. A acabar, a melhor Yulimar Rojas: 15,74 e um novo recorde mundial absoluto que deixou a prata a um metro.