O Presidente do Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores, Rui Marques, reconhece que atual situação que se vive em São Jorge “não é normal” e que pode repetir-se uma situação semelhante à de La Palma. Governo Açoriano anunciou que já está a ser preparado um plano para eventual necessidade de retirar população e desaconselha viagens para São Jorge.
Rui Marques, presidente do Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores, nota à Rádio Observador, que os sismos são “de magnitudes baixas”, mas com “epicentros muito próximos de zonas habitadas” o que significa que mesmo com as baixas magnitudes são sentidos pela população. “Todos os sismos têm magnitude inferior a 3,3. O que teve maior intensidade foi sentido a 20 março. São sismos que dão uma sensação semelhante à passagem de um pesado junto a uma habitação mais frágil”, exemplifica acrescentando que “não há estragos associados”: “Sente-se, mas não há sequer objetos tombados nas prateleiras”.
Mas o facto de até ao momento serem sismos de baixa intensidade não tranquiliza o especialista que nota que “esta crise, neste local e com esta quantidade de sismos em tão curto espaço de tempo não é normal acontecer.” Para o responsável, que recupera o que aconteceu nas anteriores erupções de 1580 e 1808, o cenário de erupção seria semelhante ao que se viveu em La Palma no final do ano passado.
“Há que considerar o contexto geodinâmico dos Açores. Todos os sismos a ser registados têm origem tectónica. Uma quantidade muito grande de sismos que se localizam sobre um sistema vulcânico ativo, o Sistema Vulcânico Fissural de Manadas, na ilha de São Jorge. Como tal, temos que considerar como uma crise sismo-vulcânica”, explica à Rádio Observador.
Rui Marques nota que as autoridades se preparam para “dois cenários distintos”. “Por um lado a ocorrência de um sismo de magnitude superior aos que estamos a registar neste momento. Grande parte dos sismos são muito próximos das zonas habitacionais e da vila das Velas. Se tivermos um pouco mais de magnitude num destes sismos, com alguma facilidade temos danos em infraestruturas. Por outro lado o facto desta sismicidade se localizar num sistema vulcânico ativo faz com que a hipótese de uma possível erupção não possa ser descartada.”
Açores. Proteção Civil prepara-se para eventual erupção vulcânica ou grande sismo em São Jorge
“Relembro que desde o povoamento dos Açores, e já depois, neste mesmo setor, temos duas erupções históricas. A erupção de 1580 e de 1808. Uma no século XVI e outra no século XIX.O estilo eruptivo mais próximo do que tem acontecido nos Açores é uma erupção como a de La Palma”, exemplifica frisando que em “planeamento de emergência e gestão de riscos são considerados todos os cenários” para que possam estar “preparados para reagir.”
” O que tentamos é perceber se essas variáveis se alteram ao longo deste processo dinâmico, de um sistema extremamente complexo — o vulcânico —, tentando, com base nestes parâmetros, perceber se estamos ou não perante um cenário pré-eruptivo”, clarifica notando que “não é possível prever se vai ou não haver uma erupção”, mas que o objetivo é “tentar com a maior antecedência possível perceber que há uma alteração no sistema vulcânico e apoiar a decisão das entidades de Proteção Civil que, se necessário, procederão à evacuação das populações.”
Governo dos Açores prepara cenários de retirada de população da ilha de São Jorge
Esta tarde o Governo Açoriano já revelou que está a preparar cenários de retirada da população da ilha de São Jorge, tendo já sido iniciada a retirada de doentes internados no Centro de Saúde das Velas, que está próximo dos epicentros dos sismos. Os doentes serão deslocados para o Centro de Saúde da Calheta, na outra ponta da ilha de São Jorge “no sentido de precaver qualquer situação que torne mais difícil a movimentação, a mobilidade e alguma evacuação”.
O esclarecimento foi feito por Clélio Meneses, que tutela a Proteção Civil no Governo regional, numa conferência de imprensa esta tarde, onde esclareceu que as autoridades estão a tratar do “problema em permanência com os melhores técnicos”: “Para, no caso de ser necessário, termos a resposta preparada para intervir. Esta resposta tem uma natureza ao nível de necessidade de evacuações e de cuidados de saúde e tudo isto está a ser preparado para, na nossa esperança, não ser necessário.”
À população açoriana, Rui Marques pede que esta fique “atenta à informação veiculada pelos organismos oficiais” e que “mantenham a tranquilidade e as vidas normais”. “No momento em que houver alguma alteração, caso seja percecionada pela monitorização [do CIVISA]. Será imediatamente comunicada aos serviços de Proteção Civil que procederão à informação das populações ou evacuação, se necessário.”
Governo diz que ainda não há evidência de atividade vulcânica em São Jorge, mas que situação “poderá ocorrer” e desaconselha deslocações a São Jorge
“Não há qualquer sinal ou evidência de atividade vulcânica, quer pelo satélite, quer pelos sensores. Todas as ocorrências sísmicas têm origem tectónica. No entanto, pelo histórico e pela localização sucessiva dos epicentros, poderá ocorrer esta situação“, afirmou o titular da pasta da Saúde nos Açores, que tutela também a Proteção Civil, Clélio Meneses, numa conferência de imprensa, em Angra do Heroísmo.
Dois sismos de 2,2 na escala de Richter registados durante a tarde em São Jorge
Desde sábado à tarde já foram registados mais de 1.800 sismos na ilha de São Jorge, 104 dos quais sentidos pela população. Só hoje, desde a meia-noite, foram sentidas 22 ocorrências.
Segundo o secretário regional da Saúde, a atividade sísmica está a uma profundidade entre os seis e os 12 quilómetros, o que “não indicia qualquer risco eminente de atividade vulcânica”, mas a situação pode vir a alterar-se.
“É um sinal, dizem os especialistas, de que não está muito perto da superfície, o que não será propriamente propiciador de erupção vulcânica. No entanto, tudo isto está a ser acompanhado com rigor, com precisão, de modo que possamos acautelar a segurança das pessoas”, afirmou.
Clélio Meneses frisou que as entidades oficiais não estão “a esconder nada” da população e que estão a acompanhar o evoluir da situação “ao minuto”, estando preparadas para tomar decisões em caso de “maior emergência”.
“Se se começar a perceber que estão a subir à superfície estes eventos sísmicos é um sinal de preocupação e aí transmitimos”, garantiu.
“O grande conselho é que as pessoas mantenham a calma possível num momento de transtorno como este que estão a viver desde sábado, tal é a intensidade da atividade sísmica, mas estejam atentos à informação que vai ser dada”, afirmou.
Clélio Meneses desaconselhou, por outro lado, deslocações para a ilha de São Jorge, que possam ser adiadas, dando como exemplo atividades desportivas ou culturais.
“Aconselha-se a que não se desloquem nesta situação de crise sísmica. Havendo algum evento, com impacto maior, são mais pessoas” para serem retiradas, explicou.
O presidente da câmara de Calheta, explica à Rádio Observador que as autoridades estão “em coordenação inclusivamente com ilhas vizinhas”, mas rejeita um cenário “demasiado alarmante”.
“Todos sabemos que os sismos e atividade não é possível controlar como as tempestades, por exemplo, é nesse sentido que isto [Plano Municipal de Emergência] se ativou”, diz explicando que há neste momento um “maior número de recursos, mais atentos e totalmente disponíveis” para qualquer cenário caso a situação se agrave.