O líder supremo do Irão expressou esta segunda-feira apoio às negociações sobre o programa nuclear de Teerão para garantir o levantamento das sanções, numa rara referência ao processo em curso, quando as potências mundiais parecem aproximar-se de um acordo.
O ayatollah Ali Khamenei sublinhou a importância da autossuficiência económica iraniana, num longo discurso transmitido pela televisão, por ocasião do Nowruz, o Ano Novo Persa, mas logo acrescentou: “Não estou a dizer que não devam procurar levantar as sanções. Aqueles que estão a tentar e a trabalhar nessa área, não há problema”.
Khamenei, cujas opiniões são consideradas vitais, tendo ele a última palavra em todos os assuntos de Estado no Irão, manteve quase sempre silêncio sobre as negociações para restaurar o acordo nuclear assinado em 2015 por Teerão e pelas potências mundiais (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU — Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido — e a Alemanha).
Os seus comentários vagos mas favoráveis indicam que os negociadores iranianos mantêm margem política e flexibilidade.
O ex-presidente norte-americano Donald Trump retirou os Estados Unidos do acordo nuclear em 2018, e o atual inquilino da Casa Branca, Joe Biden, prometeu restaurá-lo.
Difíceis conversações arrastaram-se em Viena no ano passado. O Irão, com a economia asfixiada, instou ao alívio das sanções mas tem tentado resistir às duras exigências dos restante signatários.
As negociações quase chegaram a bom porto no início deste mês, antes de Moscovo exigir que o seu comércio com o Irão fosse excluído das sanções que lhe foram impostas pelo Ocidente por ter invadido a Ucrânia, o que lançou o caos no processo negocial.
Os negociadores terão de voltar a reunir-se na capital austríaca, não estando agora claro com que obstáculos se depararão.
“O fundamental é administrar o país de tal forma que as sanções não possam atingi-lo gravemente”, disse Khamenei, elogiando o governo de linha dura do Presidente Ebrahim Raisi por impulsionar o comércio do Irão com os países vizinhos e exportar crude iraniano apesar das sanções.
“Há outra forma de usarmos as receitas do petróleo para as infraestruturas do país”, comentou.
No seu discurso, Khamenei também se pronunciou sobre a invasão russa da Ucrânia, fazendo eco dos argumentos do Presidente russo, Vladimir Putin, sem nunca sequer referir a Rússia.
“Olha-se para a Ucrânia e para o seu Presidente, que foi nomeado pelos Governos ocidentais… Que tom tão afinado que ele agora usa para se dirigir ao Ocidente”, observou Khamenei, para exaltar a resistência do Irão a ingerências estrangeiras e a desenvolvimentos militares desde a Revolução Islâmica de 1979.
“A escolha do nosso país foi não se render à arrogância, foi a resistência, foi manter a independência”, frisou.
O Irão considera geralmente a Rússia um aliado e sente-se próxima das posições anti-EUA e anti-Ocidente de Putin.