A primeira-dama dos Estados Unidos, Jill Biden, terá ficado descontente com a decisão do marido de escolher Kamala Harris como vice-presidente à corrida eleitoral, segundo o novo livro “This Will Not Pass: Trump, Biden, and the Battle for America’s Future”, dos jornalistas do The New York Times, Jonathan Martin e Alex Burns, que será publicado a 3 de maio.

Há milhões de pessoas nos Estados Unidos. Porque… é que temos de escolher aquela que atacou Joe?”, terá dito Jill Biden, de acordo com excertos publicados no Politico.

O desagrado de Jill Biden remonta ao segundo debate democrata em junho de 2019, no qual Harris atacou o ex-vice de Obama pelas políticas raciais (e Biden ficou visivelmente perturbado).

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“Não acredito que você seja racista, e concordo consigo quando se compromete com a importância de encontrar um terreno comum”, atirou Harris. Só que depois disso, veio o “mas”: “Mas também acho, e isto é uma questão pessoal, que foi muito doloroso ouvi-lo falar sobre a reputação de dois senadores dos EUA que construíram as suas reputações e carreiras em cima da segregação neste país. E não foi apenas isso; você também trabalhou com eles para se opor ao busing”.

A então senadora Harris referia-se a uma política de combate à segregação racial no país, principalmente nas décadas de 1970 e 1980, em que as crianças afro-americanas eram transportadas de autocarro para escolas de maioria branca, para garantir uma maior diversidade. “E nessa época havia uma criança na Califórnia que era levada de autocarro todos os dias para a escola”, acrescentou. “Essa criança era eu”.

Em reação ao livro, o porta-voz da primeira dama, Michael Larosa, garantiu que a própria não irá comentar qualquer alegação — nem desta nem de nenhuma obra literária.  “Muitos livros serão escritos sobre a campanha de 2020, com incontáveis versões dos eventos – alguns precisos, outros imprecisos”, assumiu ao Politico.

Noutros “excertos suculentos” revelados, as atenções viram-se para os desafios de Kamala Harris como vice-presidente. Kate Bedingfield, diretora da equipa de comunicação de Biden, terá notado que “não foi a primeira vez na carreira política de Harris que ela ficou aquém das elevadíssimas expetativas”, caraterizando a sua campanha presidencial como um “fiasco”.

O facto de que nenhum escritor deste livro se preocupou em ligar para confirmar estas alegações não atribuídas reflete o que é necessário saber. A vice-presidente Harris é uma força neste governo e eu tenho o máximo respeito pelo seu trabalho diário para levar o país em frente”, reagiu Bedingfield num e-mail na segunda-feira.

Por sua vez, Kamala já terá visto as suas ideias impedidas de progredir dada a resistência de Biden em comprometer-se com uma reforma do Senado. Os autores, que citam um senador que não quis ser identificado, escrevem que “o nível de frustração de Harris” atingiu a “estratosfera”, lamentando que “o seu declínio político fosse uma lenta tragédia grega”.

Os jornalistas do The New York Times contam ainda que Biden e Harris são “amigos, mas não são próximos”, ao ponto de “os seus almoços semanais carecerem de uma profundidade real de intimidade pessoal e política”. O Presidente, porém, não tolera quaisquer fugas de informação sobre o seu braço direito e terá dito aos assessores que, se algum deles se atrever a espalhar “histórias negativas” sobre Kamala, “iriam tornar-se rapidamente antigos funcionários”.