O período de expansão anterior à pandemia, em Portugal, durou 27 trimestres e foi o segundo mais curto desde 1980, antes de ser interrompido pela maior recessão de que há registo, assinala uma análise esta sexta-feira divulgada pela FFMS.
De acordo com o relatório do Comité de Datação dos Ciclos Económicos Portugueses, no âmbito do projeto da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) “Crises na Economia Portuguesa”, a recessão provocada pela pandemia de Covid-19 foi “violenta e curta”.
Antes disso, assinala a equipa de economistas liderada por Ricardo Reis, “a economia portuguesa esteve em expansão durante 27 trimestres”, entre o segundo trimestre de 2013 e o quarto trimestre de 2019, período durante o qual o PIB real ‘per capita’ cresceu a uma média de 0,6% por trimestre.
“Trata-se da segunda expansão mais curta desde 1980”, destaca, salientando que, após o pico da atividade económica no quarto trimestre de 2019, o PIB real per capita caiu 19,2% nos dois trimestres seguintes, “fazendo desta também a contração mais violenta” desde 1980.
Os economistas recordam que “o PIB real per capita (alisado) atingiu um máximo local” no quarto trimestre de 2019, dando nota de que, “apesar de algumas variáveis apontarem para uma desaceleração já no final de 2019 (quando o indicador coincidente do Banco de Portugal (BdP) atingiu o seu máximo histórico), a generalidade dos indicadores inverteu claramente a sua tendência” entre meados e o final do primeiro trimestre de 2021.
“Embora o estado de emergência só tenha sido imposto em Portugal perto do final de março, o comércio internacional estava em contração já em fevereiro e o isolamento voluntário começou no início de março. Isto teve efeitos claros no índice de produção industrial e no indicador coincidente do BdP. Na segunda metade do trimestre, a economia portuguesa estava já em recessão”, referem.
O relatório destaca que esta recessão apresenta algumas características distintas, nomeadamente no que toca à dinâmica do mercado de trabalho, que classificam como “invulgar devido às respostas de política pública implementadas”, como o regime simplificado de lay-off.
Dão ainda nota da heterogeneidade setorial desta crise, apontando como exemplo o turismo, setor no qual, desde 1987, as dormidas mensais na hotelaria nacional não desciam abaixo de 100 mil, enquanto, por outro lado, contrariando recessões anteriores, a construção civil resistiu.
“A cava desta recessão antecede o maior crescimento em cadeia do PIB real trimestral de que há registo (cerca de 15%). O Comité considera inequívoco o mínimo da atividade económica em 2020:T2 [segundo trimestre de 2020]. Porém, a expansão que se seguiu é distinta, uma vez que é sensível à evolução pandémica e à severidade das políticas sanitárias adotadas”, explicam.
Os economistas destacam que “a recuperação foi tão rápida quanto a quebra tinha sido violenta”, salientando que a ligeira quebra na atividade económica no primeiro trimestre de 2021 revela que,” mal a economia teve algum tempo para se ajustar, foi possível responder com mais resiliência aos efeitos do vírus, evitando-se uma nova recessão”.
O relatório esta sexta-feira divulgado atualiza, com o período de recessão provocado pela pandemia, o projeto “Crises na Economia Portuguesa”, uma análise permanente promovida pela FFMS, que pretende criar uma cronologia para as crises económicas em Portugal.